Paz

Putin faz proposta inédita para colocar fim à guerra; Ucrânia e Otan rejeitam

Líder russo fala em retirada das tropas ucranianas das regiões anexadas e status de neutralidade em relação à Otan

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Presidente russo, Vladimir Putin, fala durante reunião com representantes do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, em 14 de junho de 2024. - Natalia Kolesnikova / AFP

O presidente russo, Vladimir Putin, declarou nesta sexta-feira (14) que se a Ucrânia retirar as suas tropas das regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporozhye, anexadas pela Rússia durante a guerra, e recusar os planos de entrar na Otan, Moscou adotará "imediatamente um cessar-fogo" e iniciará negociações sobre a guerra da Ucrânia. Kiev, no entanto, já rejeitou a proposta.

A declaração foi feita às vésperas do início da cúpula de paz sobre a guerra da Ucrânia, que será realizada na Suíça nos dias 15 e 16 de junho, na qual serão discutidas as exigências de Kiev para o fim do conflito. A Rússia não foi convidada para a conferência. 

"As condições são muito simples: as tropas ucranianas devem se retirar completamente das Repúblicas Populares de Donetsk, Lugansk, e as regiões de Zaporozhye e Kherson. Gostaria de chamar a atenção para isto: precisamente de todo o território destas regiões dentro das suas fronteiras administrativas que existiam no momento da sua entrada na Ucrânia", disse.

"Assim que Kiev declarar que está pronta e iniciar uma retirada real das tropas [dos territórios das regiões de Donetsk, Lugansk, Zaporozhye e Kherson], e também declarar a sua recusa em aderir à Otan, ordenaremos imediatamente um cessar-fogo e começaremos negociações", completou Putin, durante uma reunião com a liderança do Ministério das Relações Exteriores.

O líder russo destacou, em particular, que as tropas ucranianas devem abandonar completamente os territórios das regiões do leste ucraniano citadas. Moscou anexou estes territórios em setembro de 2022 e incorporou estas regiões à sua constituição. No entanto, a Rússia exerce um controle parcial sobre os territórios anexados. 

Sobre a proposta da Ucrânia recusar os planos de entrar na Otan como condição para o fim da guerra, o presidente russo afirmou que Kiev teria que adotar um "status neutro, não alinhado e livre de armas nucleares", além de garantir os direitos da população russófila no país vizinho.

Ao mesmo tempo, a Rússia garante a retirada segura e desimpedida das unidades e formações ucranianas. O presidente russo enfatizou que Moscou está pronta para se sentar à mesa de negociações "já amanhã”. O presidente também alertou que se Kiev e o Ocidente recusarem esta proposta de paz, as condições futuras serão diferentes. Segundo ele, as condições na zona de combate “continuarão mudando, não a favor do regime de Kiev".

Kiev rejeita

A Ucrânia, por sua vez, considerou as propostas de Putin como "irrealistas". O conselheiro do chefe do gabinete do presidente da Ucrânia, Mikhail Podolyak tais condições são "um conjunto padrão do agressor", cujo conteúdo é "extremamente ofensivo ao direito internacional" e representa "a incapacidade da atual liderança russa para avaliar adequadamente as realidades".

Os aliados ocidentais da Ucrânia também criticaram as condições apresentadas pelo presidente russo. De acordo com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, "não é a Ucrânia que deve retirar as tropas do território ucraniano, é a Rússia que deve retirar as suas tropas das terras ucranianas ocupadas".

O secretário-geral da aliança militar afirmou que os pontos expressos por Putin não são uma proposta de paz, mas uma proposta de "mais agressão, mais ocupação". "Isso demonstra que o objetivo da Rússia é controlar a Ucrânia, e esse tem sido o objetivo da Rússia desde o início desta guerra, e é uma violação flagrante do direito internacional, e é também a razão pela qual os aliados da Otan continuam apoiando a Ucrânia". 

Edição: Lucas Estanislau