A Roda Livre de Caxias pode ser declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro. A proposta foi apresentada pela deputada estadual Dani Monteiro (Psol) nesta semana na Casa Legislativa e está em fase de tramitação. A roda é considerada a mais antiga do Rio e, desde 1973, reúne capoeiristas de todas as escolas na Praça do Pacificador, no centro do município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Na justificativa do Projeto de Lei (PL), a parlamentar destaca que a Roda de Capoeira de Caxias foi “fundada por mestres comprometidos com a valorização e a transmissão da capoeira” e que “essa tradição se consolidou como um espaço de resistência, educação e sociabilidade, fortalecendo laços comunitários e promovendo a cultura afro-brasileira”. A manifestação já é reconhecida como Patrimônio Imaterial da cidade de Duque de Caxias desde 2016.
"A capoeira é mais do que uma manifestação artística; é uma ferramenta de educação, de construção coletiva e principalmente de identidade. Garantir esse reconhecimento significa reafirmar a importância da valorização dos saberes ancestrais e da preservação das nossas raízes afro-brasileiras. Esperamos que meus colegas de parlamento ajudem a passar esse projeto. O poder público tem o dever de fomentar e proteger essa cultura, garantindo dignidade para os mestres e fortalecendo a tradição", destaca Monteiro para o Brasil de Fato.
Dentre os fundadores da Roda Livre de Caxias está Itamar da Silva Barbosa, conhecido como Mestre Peixe de Caxias na Capoeira Angola, morto em 9 de janeiro após complicações decorrentes de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). O caso mobilizou a comunidade da capoeira e parlamentares, como a própria Dani Monteiro e Marina do MST (PT), devido aos indícios de negligência médica durante o atendimento do mestre. As deputadas oficiaram o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, onde Itamar ficou internado, a Secretária Municipal de Saúde e a Prefeitura. Até o momento os gabinetes seguem sem retornos.
“É inevitável citar Mestre Peixe, que foi um desses guardiões, uma referência na capoeira e na luta pelo fortalecimento da identidade cultural do nosso estado. Sua partida recente representa uma perda irreparável, mas sua trajetória segue viva na resistência e no legado que deixou para as futuras gerações", ressalta a parlamentar do Psol.
De geração em geração
Carlos Alberto Sacramento, conhecido como Mestre Graffit, se formou na Capoeira Angola no município, e hoje é um dos responsáveis pela manutenção da iniciativa. Para ele, o reconhecimento da roda como patrimônio do estado é importante para a história dos mestres que há mais de meia década mantém viva a manifestação.
“Este reconhecimento é de suma importância para a história desses mestres e para a memória do meu mestre [Mestre Peixe]. O mundo reconhece a Roda de Caxias como um patrimônio e um lugar de formação para muitos capoeiristas, por onde passam centenas de pessoas todo o ano, de outros estados e países que reconhecem essa manifestação como algo pertencente à história e à formação de cada praticante de capoeira. É muito importante o estado do Rio ter este reconhecimento, pela história e por tudo o que representa para muitas pessoas”, afirma o coordenador do Grupo Unificar de Capoeira Angola (GUCA) à reportagem.
No domingo (9), ocorrerá a primeira Roda de Caxias do ano. O evento homenageará o Mestre Peixe. A roda acontece na Praça do Pacificador, centro de Duque de Caxias, às 10h.
Edição: Vivian Virissimo