Rio de Janeiro

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Em 2025, carnaval carioca celebra a resistência negra

Enredos das escolas do Grupo Especial levarão para o Sambódromo desde a cosmovisão das religiões afro

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Pela primeira vez, as apresentações ocorrerão em três dias, entre dois e quatro de março - Foto: Alex Ferro/Riotur

Falta menos de um mês para o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, e as músicas já estão na ponta da língua de quem curte a Marquês de Sapucaí. Na cidade onde a maioria da população é negra (54,3%, segundo o Censo de 2022), o carnaval do Grupo Especial leva para o Sambódromo a cosmovisão das religiões de matriz africana e homenagens a ícones negros do povo brasileiro, como Milton Nascimento, Laila e Xica Manicongo, a primeira travesti do Brasil.

Esta é a primeira vez que as apresentações ocorrerão em três dias, entre 2 e 4 de março. Aqui te contamos, na ordem dos desfiles, os enredos que estarão na disputa deste ano. 

Unidos de Padre Miguel

Após ser campeã no Grupo de Acesso em 2024, a escola da Zona Oeste volta ao Especial para contar a história da sacerdotisa africana Iyá Nassô, fundadora do Candomblé da Barroquinha, em Salvador (BA). "Iyá Nassô é a rainha do candomblé”, canta forte a escola da Vila Vintém.

Imperatriz Leopoldinense

Atual vice-campeã do Grupo Especial, a escola de Ramos mergulha na história dos orixás ao contar a peregrinação de Oxalá para visitar Xangô, quarto alafin do reino iorubá de Oyó, localizado no território onde hoje é o Benim e Nigéria, na África Ocidental. 

Unidos do Viradouro

A Vermelho e Branco de Niterói cruza a ponte para contar a história de Malunguinho, entidade afro-indígena dono das chaves que abrem as senzalas. “Eu sou o pavor contra a tirania”, canta o enredo sobre o “rei da mata que mata quem mata o Brasil”.

Mangueira

A Verde e Rosa desfilará na Sapucaí mostrando o Rio como uma pequena África, contando a resistência dos povos que foram sequestrados no continente mãe e escravizados no Brasil. “Sou a voz do gueto, dono das multidões. Matriarca das paixões, Mangueira”. 

Unidos da Tijuca

Logun-Edé é um príncipe dos orixás fruto do amor entre Oxum e Oxóssi. A história deste jovem guerreiro muito respeitado pelos mais velhos é a aposta da escola Morro do Borel em busca de seu quinto título no Grupo Especial. 

Beija-Flor

A Deusa da Passarela vai contar a história de Laila, um de seus baluartes, que faleceu de covid-19 em 2021 em plena pandemia. “Kaô, meu velho! Volta e me dá os caminhos”, diz a música que marcará ainda a despedida de Neguinho da Beija-Flor do sambódromo. 

Salgueiro

A Academia do Samba invoca sua ancestralidade africana para mostrar que tem corpo fechado no desfile deste ano. Com um enredo que explora a relação humana pela busca da espiritualidade, a Vermelha e Branca da Tijuca tem o samba assinado por Xande de Pilares.  

Vila Isabel

A escola do bairro de Noel Rosa, nos convida a embarcar em um trem das ilusões. Contará a história de assombrações, que nos fizeram perder o sono, da infância à fase adulta. De lobisomem a curupira, cabe de tudo nos trilhos dessa viagem. Mas calma! “Não tenha medo de se entregar”, diz a música. 

Mocidade

Conhecida como a “Estrela Guia da Zona Oeste”, a escola também promete uma viagem durante o carnaval. O destino é o futuro, com um samba-enredo cheio de reflexões sobre o mundo que vamos deixar para as próximas gerações: “quando o futuro voltar, a juventude vai crer que toda estrela pode nascer”.  

Paraíso do Tuiuti

No país que mais mata pessoas transexuais no mundo, a agremiação do bairro de São Cristóvão contará a história de Xica Manicongo, a primeira travesti do Brasil. “Eu sou a bicha, invertida e vulgar. A voz que calou o Cis tema”, diz o samba que será defendido na Sapucaí. 

Grande Rio

O mundo amazônico também estará presente no carnaval 2025. A escola de Duque de Caxias traz do Pará os encantados que vivem nas pororocas, no encontro das águas entre o rio e o mar. O enredo tem inspiração nas músicas cantadas por Dona Onete, que participará do desfile. 

Portela

Em sua primeira homenagem para um ícone da cultura brasileira vivo, a “Majestade do Samba” mergulha no universo de Milton Nascimento. “A nossa procissão sai de Madureira, e é a estrada que vai fazer o sonho acontecer”, diz o cantor no vídeo de divulgação da escola.

Edição: Vivian Virissimo