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'Estão vendendo Jesus como moeda', diz Mãe Beth de Oxum sobre avanço de intolerância religiosa

Ialorixá residente em Olinda (PE) relaciona falta de políticas de proteção a lideranças com poder da bancada evangélica

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Além de ialorixá, Mãe Beth é mestra da cultura popular e comunicadora - Instagram Mãe Beth de Oxum

A morte da Mãe Gilda de Ogum, em 1999, foi o marco para a criação do Dia de Combate à Intolerância Religiosa, lembrado todo 21 de janeiro. No entanto, apesar da data, de lá para cá, a situação só piorou, avalia Mãe Beth de Oxum, ialorixá, mestra coquista, comunicadora popular e Patrimônio Vivo de Pernambuco.

“O que aconteceu com ela só piorou, agudizou o processo, só piorou nesse país, porque, em 26 anos, a gente não tinha uma bancada evangélica como a gente tem hoje. O projeto político neopentecostal não tinha ocupado as casas legislativas que ocupou hoje, que ocupa hoje”, afirma em entrevista ao programa Bem Viver desta terça-feira.

Mãe Gilda de Ogum foi a fundadora do Axé Abassá de Ogum, no bairro de Itapuã, em Salvador (BA), próximo à simbólica lagoa de Abaeté. Em 1999, a liderança foi alvo de difamações provocadas por um jornal evangélico que levou a mãe de santo a um ataque cardíaco que causou a morte dela. 

Há quase 30 anos, Mãe Beth tem em sua casa, no bairro Guadalupe, em Olinda (PE), um ponto de cultura Coco de Umbigada e o Terreiro Ilê Axé Oxum Karê. Além da referência religiosa, o local é conhecido pelos turistas que visitam a cidade e vão conhecer a festa que acontece todo primeiro sábado de cada mês.

“O coco, na realidade, tem mais de 100 anos na nossa casa, na nossa família. Vem dos nossos avós, dos nossos bisavós. As expressões artísticas ficariam carinhosamente chamadas de brinquedos e aqui em Pernambuco elas são seculares, 200, 300 anos.”

Em agosto de 2021, Mãe Beth conquistou um feito inédito ao se tornar a primeira Ialorixá a receber o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural.

Embora ela se orgulhe dos reconhecimentos a ela e outras lideranças, a ialorixá vê retrocesso no combate à intolerância religiosa.

“Em relação à violência e à intolerância religiosa, eu não sei de fato onde é que a gente vai parar, meu filho, porque hoje o projeto político está cada vez mais consolidado.”

“É um projeto político pensado, estruturado, de ocupar as casas legislativas do nosso país, de tomar quase que de assalto as rádios abertas, a TV aberta desse país, para fazer proselitismo religioso.”

Para Mãe Beth, esse avanço de igrejas evangélicas acontece por uma ambição financeira e de poder político que, segundo ela, fica evidente pela influência que a bancada evangélica consolidou no Congresso Nacional hoje.

“[Estão] vendendo Jesus como uma moeda, uma moeda de troca para rádio, uma moeda de troca para TV, uma moeda de troca para voto.”

Para exemplificar seu discurso, a liderança religiosa lembra que, recentemente, duas de suas filhas foram insultadas por estarem andando em um mercado de Olinda usando roupas brancas e guias de orixás. 

“Isso [acontece] porque o conceito que elas têm dos orixás é um conceito midiático, ou seja, satanizado. Isso não tem nada a ver.”

A liderança enfatiza como as religiões de matriz africana são avessas a essa interpretação materialista do mundo e podem servir como forma de resistência ao avanço tecnológico que vem “tirando o sono das pessoas”.

“A gente cultua a natureza, a água, o vento. A terra, a terra para a gente é nossa mãe, a água, minha mãe, é Oxum. É a água, não pode ser um produto, não pode ser vendável. Sem água, não tem orixá.”

“E hoje a tecnologia tirou o sono das pessoas. [Nos] Enganaram, né? Tem muita fake news aí fazendo com que as pessoas pensem que são importantes, que têm amigos, mas se não tiver like, elas estão se deprimindo. As big techs que estão adoecendo as pessoas.”


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Edição: Martina Medina