Poucas horas após sua posse como presidente dos Estados Unidos na segunda-feira (20), Donald Trump assinou uma ordem executiva que reincorpora Cuba à lista de “Estados Patrocinadores do Terrorismo” elaborada unilateralmente pelo Departamento de Estado dos EUA.
De maneira injustificada, a medida anula a decisão de 14 de janeiro, quando, a menos de uma semana do fim de seu mandato, o ex-presidente Joe Biden retirou a ilha caribenha da lista, depois que o próprio Departamento de Estado afirmou ter “constatado que o governo de Cuba não havia fornecido nenhum apoio ao terrorismo internacional”.
Na noite de segunda-feira, assim que a notícia da decisão foi divulgada, o Brasil de Fato conversou com jovens cubanos sobre a decisão do novo presidente dos EUA.
'Nosso povo é o que mais sofre'
Diego de la Torre Castro conta que ficou sabendo da decisão ao verificar as notícias quando saía de seu trabalho em uma filial da Cruz Vermelha em Havana.
“É realmente doloroso ver o presidente dos Estados Unidos tão arrogante e déspota, tão irritado com Cuba e com nossa Revolução. É doloroso porque, no final, quem mais sofre, quem mais sente as consequências dessas decisões, é o povo cubano. A verdade é dolorosa porque mata as ilusões, mata as esperanças."
Em meio a lamentações e raiva, Castro afirma que se trata de uma “enorme injustiça” cometida contra um povo que “sempre ofereceu amor e solidariedade internacional”. "Onde for necessário, Cuba envia médicos, não bombas, como dizia o comandante-chefe”, ressalta. Apesar das dificuldades, ele garante que “não perde a fé na vitória”.
Os países da lista enfrentam severas sanções econômicas e políticas. Essa designação afeta principalmente a capacidade de um país de se envolver em transações financeiras internacionais ou acessar crédito. Ao mesmo tempo, busca impedir investimentos, pois as empresas ou governos que investem em países da lista podem ser sancionados pelos Estados Unidos.
A designação dessa lista trouxe graves consequências econômicas para a ilha, que está passando por uma profunda crise econômica e faz parte das várias estratégias de bloqueio que Washington mantém contra Cuba.
José González trabalha como guia turístico, enquanto cuida de sua mãe que está doente. A crise dos últimos anos, agravada pela asfixia econômica do bloqueio, significa que os medicamentos que o Estado fornece gratuitamente estão se tornando cada vez mais escassos e difíceis de obter.
“Não é nada novo, mas ainda assim é doloroso. É um mecanismo que busca criar terror. Porque não há nada tão aterrorizante quanto sufocar você, e é isso que não apenas a lista, mas todo o bloqueio faz. Sufocar o povo cubano. Eles estão tentando nos matar pelo simples fato de não fazermos o que eles dizem”.
Como todos os cubanos, a realidade de González, dia após dia, é marcada pelo sufocamento do bloqueio. Sem esconder sua raiva, afirma que “eles não estão interessados em direitos humanos, nem em liberdade, nem em nada do que defendem em seus discursos. Porque é impossível defender direitos ou liberdade, ao mesmo tempo em que se está estrangulando um povo”.
Pouco depois de tomar conhecimento da decisão, o presidente cubano Miguel Díaz-Canel, qualificou a decisão de Trump como “um ato de arrogância e desprezo pela verdade”, através de sua conta no X, afirmando que se trata de uma medida que busca fortalecer “a cruel guerra econômica contra Cuba com o propósito de dominação”.
“Este ato de escárnio e abuso confirma o descrédito das listas e dos mecanismos unilaterais de coerção do governo dos EUA. A causa legítima e nobre de nosso povo prevalecerá e prevalecerá mais uma vez”, declarou.
'A Era de Ouro dos Estados Unidos'
Durante seu discurso de posse, Trump afirmou que uma nova “Era de Ouro da América começa agora” e anunciou uma “maré de mudanças”, adiantando que reverteria 78 das “ações executivas destrutivas e radicais” do governo Biden, que ele classificou como uma das piores da história.
“Hoje assinarei uma série de ordens executivas históricas. Com essas ações, iniciaremos a restauração completa dos Estados Unidos e a revolução do bom senso. É tudo uma questão de bom senso”, disse o magnata da extrema direita.
Exibindo seu habitual gesto histriônico e teatral, após sua posse no Capitólio, Trump realizou um comício na icônica Capital One Arena, onde uma centena de apoiadores de seu movimento MAGA (Make America Great Again - Faça a América Grande de Novo, em português) o aguardava. “Fight, fight, fight” (Luta, luta, luta) - as mesmas palavras que ele havia dito após a tentativa de assassinato durante sua campanha - foi o cântico com o qual a multidão o saudou.
Sentado em uma mesa montada no meio do estádio, em meio aos aplausos da multidão, Trump começou a assinar suas primeiras ordens executivas prometendo começar a mudar o país.
Rescindiu 78 ordens executivas - sobre uma ampla gama de questões - que haviam sido implementadas por Biden, incluindo: a remoção de Cuba como Estado patrocinador do terrorismo; uma ordem executiva que exigia que as agências federais aplicassem proibições de discriminação sexual para incluir orientação sexual e identidade de gênero; a sanção de colonos judeus que ocupavam ilegal e violentamente terras palestinas na Cisjordânia.
Edição: Leandro Melito