DECISÃO DE TRUMP

Com saída dos EUA, Brasil e China devem ter protagonismo em negociações do Acordo de Paris na COP30

Brasil lamenta saída dos EUA de acordo para mudanças climáticas, mas afirma que decisão ‘pode ser contornada’

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

O Acordo de Paris de 2015 para combater as mudanças climáticas foi ratificado por quase toda a comunidade internacional, com exceções como o Irã, a Líbia e o Iêmen - Pxhere

O Brasil, que vai sediar em novembro a conferência ambiental da ONU, a COP 30, expressou nesta terça-feira (21) preocupação com a decisão de Donald Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris - tratado internacional contra as mudanças climáticas.

"Ainda estamos analisando as decisões do presidente Trump, mas não há a menor dúvida de que ela terá um impacto significativo na preparação da COP e na forma como vamos ter que lidar com o fato de que um país tão importante está se desligando desse processo", disse André Corrêa do Lago, nomeado pelo presidente Lula, também nesta terça, para presidir a conferência.

O embaixador ressaltou que os Estados Unidos, um dos maiores poluidores mundiais, são "um ator essencial" na luta contra as mudanças climáticas.

Contudo, apesar da decisão do mandatário de extrema direita, que já havia feito o mesmo durante seu primeiro mandato (2017-2021), “não quer dizer que o acordo não possa encontrar uma forma de contornar” essa ausência, declarou o também secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores brasileiro.

Protagonismo brasileiro e chinês

A China demonstrou preocupação com o anúncio de Trump por meio do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Guo Jiakun. "A mudança climática é um desafio comum enfrentado por toda a humanidade e nenhum país pode permanecer insensível ou resolver o problema sozinho", disse o representante.

Durante a primeira retirada dos EUA do acordo climático, Pequim manteve o Acordo de Paris e não renegou as metas de longo prazo. Atualmente, a China produz mais da metade dos veículos elétricos do mundo, 70% das turbinas eólicas e 80% dos painéis solares, medidas essenciais para o combate à emissão de gases carbônicos e contra as mudanças climáticas.

"O desempenho da China na implantação de tecnologias verdes pode ser um salva-vidas", avaliou Li Shuo, especialista do Asia Society Policy Institute, à AFP.

Nas COPs, Pequim é considerado um negociador indispensável, e lidera, informalmente, as negociações com os países ricos em nome de um bloco de países em desenvolvimento, o Brics, o qual o Brasil também faz parte e preside de forma temporária em 2025.

"O Brics vem para construir. Temos tantas coisas para fazer entre nós. Não há foco em outros países e líderes", declarou Eduardo Saboia, diplomata brasileiro responsável pelo grupo, em uma entrevista recente à AFP antes mesmo do anúncio de Trump.

"Este pode ser um ano de liderança para o Sul global", avaliou Tim Sahay, codiretor do Net Zero Industrial Policy Lab da Universidade Johns Hopkins.

COP 30 no Brasil e as posições dos países

A diplomacia brasileira vai promover na COP 30, em Belém do Pará, o aumento da ajuda financeira dos países desenvolvidos para apoiar os países em desenvolvimento em sua transição energética, uma meta não cumprida na COP 29, em 2024, no Azerbaijão.

Também incluirá no debate a "questão da adaptação", que teve destaque no Brasil no ano passado, principalmente depois das enchentes no Rio Grande do Sul.

A COP 30, que marcará os dez anos do Acordo de Paris sobre o clima, será uma oportunidade para revisar os compromissos mais recentes dos países para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa.

O Acordo de Paris de 2015 para combater as mudanças climáticas foi ratificado por quase toda a comunidade internacional, com exceções como o Irã, a Líbia e o Iêmen. Agora, os governos têm até o próximo mês para submeter às Nações Unidas a revisão dos seus objetivos climáticos até 2035.

Apesar de sediar o evento, o Brasil defende o direito de continuar explorando os recursos de hidrocarbonetos. Segundo o governo brasileiro, os compostos orgânicos podem gerar energia limpa graças aos seus recursos hídricos, apesar da necessidade de extraí-los do petróleo, considerado uma fonte de energia poluente.

Uma posição semelhante é mantida pela Índia, cujo primeiro-ministro, Narendra Modi, fala sobre a "liderança" de seu país em energia solar e eólica, ao mesmo tempo em que defende a exploração de carvão.

Já a União Europeia tem uma longa tradição de liderança climática e reduziu suas emissões em 7,5% entre 2022 e 2023, bem à frente de outros grandes países ricos.

"O Acordo de Paris segue sendo a maior esperança da humanidade. A Europa manterá o rumo e continuará trabalhando com todas as nações que querem proteger a natureza e deter o aquecimento global", afirmou Ursula von der Leyen, chefe da Comissão Europeia.

Mas países como a Alemanha já pediram à Comissão Europeia para desacelerar a transição energética em setores como a indústria automobilística.

Outros pequenos atores estão demonstrando boa vontade, como a Colômbia, que está liderando os esforços internacionais para eliminar gradualmente o petróleo, o carvão e o gás, mesmo sendo a principal fonte de receita externa do país.

*Com AFP

Edição: Leandro Melito