Ladeira abaixo

Mais expansionista e xenófobo: veja as diferenças nos discursos de posse de Trump de 2017 e 2025

Retórica da extrema direita predominou em discurso sobre política externa e promessas para cidadãos estadunidenses

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Trump que não reconheceu a derrota na eleição anterior, jurou em sua posse obedecer a Constituição dos EUA - Morry Gash / POOL / AFP

O discurso de posse do presidente republicano Donald Trump desta segunda-feira (20), marca uma radicalização em relação à sua primeira chegada à Casa Branca, em 2017. Em seu retorno à presidência, Trump adotou a retórica da extrema direita de forma explícita em acenos ao eleitorado conservador, fez novos ataques à população migrante e a países como México, Panamá e China.

Alguns temas como raça e gênero, abordados de forma sutil em 2017, foram atacados diretamente em 2025, tornando explícito o posicionamento do mandatário.

Confira algumas mudanças no discurso

Questões racial e de gênero

Em 2017, ao abordar a questão racial nos EUA, Trump utilizou a retórica de que "todos sangramos o mesmo sangue vermelho" sejam negros, pardos ou brancos - uma maneira de esvaziar a luta por direitos.

"É hora de lembrar a velha sabedoria que nossos soldados nunca esquecerão: que, sejamos negros, pardos ou brancos, todos nós sangramos o mesmo sangue vermelho dos patriotas, todos nós desfrutamos das mesmas liberdades gloriosas e todos nós saudamos a mesma grande bandeira americana".

Em seu discurso de 2025 porém, o presidente foi mais direto em suas intenções e anunciou que irá encerrar, ainda nesta semana, a "política governamental de raça e gênero em todos os aspectos da vida pública e privada". "Vamos financiar uma sociedade que não vê cores e é baseada no mérito. A política oficial do governo dos Estados Unidos é a de que só existem dois gêneros, homem e mulher." Além de atacar a pauta por igualdade racial no país, o presidente sinalizou que vai ignorar as dissidências de gênero, um retrocesso na luta pelos direitos civis.

De forma demagógica, o presidente, conhecido por seus discursos racistas e xenófobos, citou o nome do líder negro Martin Luther King (1929-1968), referência para a luta por direitos para a população negra estadunidense e assassinado brutalmente pela defesa desses direitos. “Às comunidades negras e hispânicas, gostaria de agradecer-lhes pela tremenda confiança e amor que me mostraram com seu amor. Eu ouvi suas vozes na campanha e estou ansioso para trabalhar com vocês nos próximos anos. Hoje é o dia de Martin Luther King e em sua honra, vamos fazer seu sonho se tornar realidade”, disse Trump. 

Migrantes

Em seu discurso de 2017,Trump anunciou que todas as decisões sobre comércio, impostos, imigração e relações exteriores seriam "tomadas para beneficiar os trabalhadores e as famílias americanas."

"Devemos proteger nossas fronteiras contra a devastação de outros países que fabricam nossos produtos, roubam nossas empresas e destroem nossos empregos. A proteção levará a uma grande prosperidade e força. Lutarei por vocês com todo o fôlego do meu corpo - e nunca, jamais os decepcionarei." A fala foi um claro aceno à politica anti-imigrantes que ele anunciava durante a campanha daquele ano, com a promessa da construção de um muro na divisa com o México.

Em 2025, seus ataques à população migrante foram mais diretos e ofensivos. Trump prometeu prover segurança em relação a “criminosos perigosos, muitos de prisões e hospitais psiquiátricos que entraram ilegalmente em nosso país”, em sua primeira sinalização de política anti-imigratória. Desta vez, o presidente foi além da retórica e anunciou que irá declarar Estado de Emergência na fronteira ao sul do país -  e foi aplaudido em pé pelos que estavam no Capitólio, uma maioria de convidados da extrema direita mundial. 

“Todas os imigrantes ilegais serão imediatamente interrompidos e começaremos o processo de retornar milhões de milhões de criminosos de volta aos lugares de onde eles vieram”. "Vamos restaurar minha 'Política de permanência no México', vou encerrar a prática de capturar e soltar. Vou enviar tropas para a fronteira do sul para reparar os desastres da invasão de nosso país".

Política Externa

Em seu discurso de posse em 2017, Trump criticou a política externa das administrações anteriores de forma genérica sem citar nominalmente nenhum país estrangeiro. 

"Por muitas décadas, enriquecemos o setor estrangeiro às custas do setor americano; subsidiamos os exércitos de outros países enquanto permitimos o triste esgotamento de nossas forças armadas; defendemos as fronteiras de outras nações enquanto nos recusamos a defender as nossas próprias; egastamos trilhões de dólares no exterior, enquanto a infraestrutura dos Estados Unidos caiu em desuso e decadência.Tornamos outros países ricos enquanto a riqueza, a força e a confiança de nosso país desapareceram no horizonte", discursou na ocasião.

A única crítica mais direta foi em relação ao "terrorismo islâmico". "Reforçaremos antigas alianças e formaremos novas - e uniremos o mundo civilizado contra o Terrorismo Islâmico Radical, que erradicaremos completamente da face da Terra", discursou na ocasião.

No discurso desta segunda-feira, porém, Trump enfatizou a retórica expansionista dos Estados Unidos, que vem repetindo desde sua eleição em novembro e atacou nominalmente o Panamá, o México e a China.O presidente afirmou que os EUA, serão "considerados novamente uma nação que cresce, que expande seu território e leva nossa bandeira para novos e lindos horizontes".

"Vamos mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América", disse Trump. A ameaça já foi rebatida pela presidente progressista do México, Claudia Sheinbaum, que sugeriu renomear os EUA para "América Mexicana".  

"Os EUA gastaram mais dinheiro no Canal do Panamá do que em qualquer outro projeto. Perdemos 38 mil vidas na construção, e fomos tratados muito mal por esse presente bobo que nunca deveria ter sido feito", choramingou o presidente. "Os navios dos EUA estão sendo severamente super taxados, não estamos sendo tratados de forma justa. Enquanto isso, a China está operando o canal, e não demos ele para a China, demos para o Panamá e vamos tomá-lo de volta."

Edição: Leandro Melito