Por Rodrigo Lima*
O conflito entre Israel e a Palestina, que nos últimos tempos tem tomado uma proporção bastante acentuada, merece uma reflexão histórica e principalmente cautelosa. Há uma simbiose entre a multiplicidade do colonialismo, enquanto tal, e o imperialismo norte americano na destrutiva propagação de seus interesses com aquelas ideias primitivas do movimento sionista, de trazer paz e prosperidade à nação palestina.
A colonização do povo palestino pelos israelenses, particularmente através do movimento sionista e da subsequente criação do Estado de Israel em 1948, é um processo histórico complexo que envolveu múltiplas camadas de conflitos e desdobramentos políticos. Este processo, que começou no final do século 19, com a migração de judeus europeus para a Palestina, impulsionado pelo desejo de estabelecer um lar nacional judeu, culminou na criação de Israel, que foi acompanhada pela “Nakba” (“catástrofe” em árabe), na qual centenas de milhares de palestinos foram deslocados de suas terras.
A colonização sionista, desde o seu início, teve o apoio de grandes potências ocidentais: inicialmente o Reino Unido, que controlava a Palestina sob mandato da Liga das Nações, e posteriormente os Estados Unidos, que se tornaram o principal aliado de Israel após a Segunda Guerra Mundial. A aliança entre os Estados Unidos e Israel consolidou-se durante a Guerra Fria, quando Israel foi visto como um baluarte estratégico contra o avanço do comunismo no Oriente Médio.
Como aponta o filósofo Domenico Losurdo, há uma relação interdependente entre o sionismo e o colonialismo, pois o primeiro perpetua uma ideologia clássica “da tradição colonial, que sempre considerou ‘terra de ninguém’ os territórios conquistados ou cobiçados”. Uma relação entre a cobiça dos colonizadores e as ambições imperialistas inglesas, num primeiro momento, e em seguida as ambições estadunidenses, até os dias atuais.
Hoje essa relação é vista como uma continuidade colonial, onde o apoio incondicional dos EUA a Israel é percebida como uma forma de manter a dominação sobre o povo palestino. O apoio militar, econômico e político dos Estados Unidos a Israel permite que este mantenha e expanda assentamentos nos territórios ocupados, controlando economicamente e politicamente a vida dos palestinos, perpetuando o status quo de ocupação e negação dos direitos fundamentais dos palestinos, como o direito ao retorno e à autodeterminação.
Essa continuidade colonial é manifestada de várias formas, desde o veto dos EUA a resoluções da ONU que condenam a ocupação israelense até o financiamento militar que sustenta o poderio de Israel na região. A narrativa da “segurança nacional” de Israel é frequentemente usada para justificar ações que, sob a ótica internacional, são vistas como violações dos Direitos Humanos e do direito internacional.
Esse cenário alimenta uma percepção global de que os EUA, ao apoiar as políticas de Israel, estão perpetuando uma forma moderna de colonialismo sobre o povo palestino, negando-lhes a possibilidade de estabelecer seu próprio Estado independente e sustentável.
Portanto, a colonização do povo palestino pelo Estado de Israel, facilitada e sustentada pelo apoio dos Estados Unidos, que tem como política calar o nacionalismo árabe, pode ser entendida como uma continuidade das práticas coloniais tradicionais, onde a dominação e exploração de um povo são mantidas através da força militar, apoio econômico e manipulação política, ao mesmo tempo em que se ignora ou minimiza a luta por justiça e autodeterminação dos colonizados, travestida de uma falsa política da prosperidade regional.
Há uma urgência de nos contrapormos à invasão israelense, por esta ser uma continuidade do projeto colonial, e defendermos a liberdade e a autonomia do povo palestino, não somente como solidariedade, mas crente que estamos enfrentando o imperialismo. Que sigamos resistindo, ao menos nas palavras.
*Rodrigo Lima é historiador e cientista político.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vinícius Sobreira