A oposição tentou criar um clima para interferir na posse de Nicolás Maduro. Vídeos nas redes sociais, convocação para marchas e um tour internacional por países governados pela direita foram as principais cartadas usadas pela extrema direita que questiona o resultado das eleições de 28 de julho. Mas o que se viu nesta quinta-feira (9) foi uma manifestação que reuniu cerca de 3 mil pessoas na zona leste de Caracas.
A ultraliberal María Corina Machado convocou os opositores para o que chamou de uma "marcha pela liberdade" às vésperas da posse presidencial. O grupo afirma que o ex-candidato da Plataforma Unitária, Edmundo González Urrutia, tomará posse nesta sexta (10) em um movimento que não foi detalhado pelos opositores.
As marchas opositoras tiveram um pico de mobilização em 29 de julho, mas desde então perderam força e não conseguiram colocar uma massa nas ruas. Para esta quinta a tônica foi esperar o comando de María Corina. Ela não participou das últimas mobilizações e, nos últimos meses, se limitou a publicar vídeos nas redes sociais convocando as pessoas às ruas. Desta vez, a ex-deputada de extrema direita disse que esta sexta-feira será a "sentença final do regime".
"O regime entrou em colapso. Este país venceu o medo, vocês estão aqui hoje. Essa força que construímos nos prepara para terminar esta fase. O que quer que eles façam amanhã, acabarão se enterrando. Que ninguém tenha dúvidas, o que fizerem amanhã marca o fim do regime”, disse aos apoiadores. O Brasil de Fato acompanhou o momento em que María Corina deixou a marcha espontaneamente. Momentos depois, informações de sua suposta prisão circularam pelas redes sociais e sites de notícias, mas foram desmentidas pelo governo venezuelano.
Durante a maior parte do tempo, a marcha que saiu do bairro Los Cortijos com direção ao centro caminhou de maneira pacífica, mesmo cruzando com alguns manifestantes que apoiam o governo. Os opositores denunciaram que o governo montou palcos nos pontos de concentração que estavam previstos pelo grupo de extrema direita.
O principal encontro entre manifestantes chavistas e opositores ocorreu em Chacao. Os apoiadores de María Corina cruzaram com um ato pró-governo que também estava na zona leste. De um lado, os gritos “Maduro pela paz”, “tomamos posse amanhã em uma festa”. Do outro, os direitistas respondiam a gritos de “traidores”.
Dorys Ibañez de Perez é opositora e participou das marchas. Segundo ela, o grupo depende da orientação de María Corina para dar o passo seguinte e tomar decisões.
“Nós estamos esperando a liderança da María Corina porque nós já ganhamos e estamos esperando amanhã para que Edmundo tome posse do governo. Não tenho ideia de como será essa posse, porque isso vai ser administrado pela própria María Corina e ela não divulgou isso. Mas precisamos que o mundo saiba o que estamos passando para legitimar nosso presidente”, disse a opositora.
A espera pelas orientações tanto de María Corina quanto de Edmundo foi a tônica das marchas opositoras. Eles insistem que ganharam as eleições e que o ex-candidato tomará posse nesta sexta. Mas não sabem como.
Roseliana Rivero é engenheira em computação e reforça a ideia de que os opositores têm esperança em uma mudança na rota, mas também deposita as fichas nas decisões que toma a ultraliberal.
“As pessoas têm medo mas estamos aqui apoiando. O triunfo foi nosso e agora é hora de aguentar. Estamos aqui com todo êxito. Eu sigo o que diz María Corina e o que diz Edmundo e aqui estamos. Tenho toda a esperança que agora vai ser a hora porque as condições são outras”, disse ao Brasil de Fato.
Os gritos de ordem mantiveram o mesmo tom: o pedido por liberdade. Mesmo que seja Edmundo quem diz que tomará posse, o nome mais ouvido nas manifestações era o de María Corina. O governo reforçou o esquema de segurança para a posse nos últimos dias e as forças policiais atuaram nesta quinta-feira.
Mesmo sem acompanhar de perto as manifestações, as forças de segurança atuaram rápido para evitar conflito no momento mais movimentado das duas marchas, no encontro entre ambas. A estratégia dos governistas foi posicionar uma série de palcos e pequenas concentrações de pessoas com música e um aspecto mais festivo para contrapor o discurso de “ditadura” preconizado pela direita.
Ainda que a capital encare uma tensão pelas movimentações e pela forte presença de policiais, as ruas estavam cheias com muita cor e, mesmo com uma diferença em quantidade de pessoas e expressão popular, os dois lados tiveram participação às vésperas da posse de Nicolás Maduro.
Chavistas defendem Maduro
Milhares de chavistas também se mobilizaram em todo o país na quinta-feira (9) em apoio ao presidente Nicolás Maduro. As manifestações massivas foram denominadas "Grande Marcha pela Paz e Alegria" e "Caravana Motorizada", reunindo milhares de pessoas em diferentes cidades do país, tendo a cidade de Caracas como centro das manifestações.
As mobilizações são uma resposta à tentativa da oposição liderada por Machado de declarar o ex-candidato Edmundo González Urrutia como presidente eleito perante uma assembleia de cidadãos venezuelanos em solo estrangeiro, com o apoio de Washington e da União Europeia. Uma situação semelhante a que o país passou com a autoproclamação de Juan Guaidó como presidente em janeiro de 2019.
Em conversa com o Brasil de Fato, Maria Isabel Hernandez, trabalhadora social, explica que participou da mobilização "para defender a paz", ao mesmo tempo em que observa com preocupação que a direita está mais uma vez tentando gerar novos cenários de violência e desestabilização.
"Defendemos a paz. Por amor às crianças, por amor aos idosos", afirma, ao mesmo tempo em que ressalta que a imprensa internacional "divulga mentiras" sobre o que está acontecendo na Venezuela.
Mais de 40 mil pessoas marcharam. A grande maioria delas era de trabalhadores. Enquanto a mobilização da oposição não chegou a 3 mil pessoas. Maria Isabel acredita que se trata de uma das maiores mobilizações do chavismo nos últimos anos.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Leonelis Diaz Martínez, jovem dirigente da Unión Comunera, destaca que, diante dos ataques da direita, o desafio do movimento popular é continuar "aprofundando os governos territoriais cada vez mais autônomos".
"Precisamos de mais e mais soberania popular para poder enfrentar a direita e os governos do imperialismo. Precisamos tornar a luta comunal constitucional para que a soberania popular possa ser alcançada", ressalta.
Edição: Leandro Melito