O ano de 2025 começou ainda com incertezas sobre o que esperar sobre o clima. O professor e cientista José Marengo, especialista sobre aquecimento global, alerta que o Brasil não está mais sob efeitos do fenômeno El Niño, mas ainda não se sabe se ele será substituído pela La Niña, o fenômeno inverso.
“El Niño significa que há o aquecimento das águas superficiais do oceano Pacífico, que traz seca para Amazônia e chuva para o Sul do Brasil. Era isso que estava acontecendo desde 2023 e terminou em meados de 2024”, explica Marengo que é coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Em entrevista ao programa Bem Viver desta segunda-feira (6), o professor explica que será necessário esperar até o fim de janeiro para entender a intensidade da La Niña, que por sua vez consiste no resfriamento anormal do oceano Pacífico.
“Existe essa preocupação porque, atualmente, nós temos seca na Amazônia, então ter uma La Niña poderia aliviar essa situação, mas isso é discutível”, pondera. Para o professor, o Sul e o Norte do Brasil devem receber mais atenção no que diz respeito à climatologia e, principalmente, prevenção de desastres. “Essas duas regiões merecem toda nossa atenção: Sul do Brasil e a Amazônia. Dependendo da intensidade da La Niña a situação pode resolver em uma parte e piorar em outras”.
Confira a entrevista na íntegra:
Podemos dizer que foi surpreendente o ano de 2024, climaticamente falando?
Sim, na verdade, os anos 2023 e 2024 têm sido impactantes em termos de desastres. E de fato têm em comum. Na segunda metade de 2023, começou o El Niño, que continuou na primeira metade de 2024.
Isso fez com que grandes eventos, como a seca de 2023, continuassem em 2024 na Amazônia - ainda continua neste momento - e também afetou a região do Pantanal.
O nível dos rios caíram muito. O rio Paraguai esteve em um dos seus menores índices em Assunção, no Paraguai. Aqui no Brasil, em Ladario, o rio Negro teve o volume mais baixo detectados desde 1902.
E além disso, tivemos outros extremos de 2024 como as chuvas no Espírito Santo, e é claro, o que passa a ser talvez o maior desastre climático no Brasil: as chuvas no Rio Grande do Sul.
O que mostrou realmente que somos muito vulneráveis aos extremos de clima.
Ano passado o Acre, por exemplo, enfrentou dois tipos de extremos, a seca e a cheia, com os rios da região atingindo patamares históricos. Faz sentido esse tipo de situação?
Realmente faz sentido, sim, porque uma das consequências da mudança climática é mudanças nos extremos. Os extremos passam a ser mais extremos.
Outra coisa importante a ser comentada foram os extremos de temperatura. Em alguns lugares nós tivemos recorde de temperatura, tanto na região sudeste, como no sul e em parte do norte.
Esse recorde nos levou a incêndios e queimadas na Amazônia. Isso foi o que chamamos de eventos compostos do clima, ou seja uma seca associada ou simultânea com uma onda de calor.
O Brasil enfrentou uma onda de fumaça no ano passado, atingindo 60% do território. É exagero afirmar que isso pode se tornar normal?
Não, infelizmente não é exagero. A causa dos incêndios da Amazônia é humana. Sabemos que para os povos andinos o fogo é um fato cultural, utilizado principalmente para preparar o terreno para a próxima campanha agrícola. Claro, é fogo controlado.
Só que quando nós temos uma situação de seca e ondas de calor conjuntamente, o fogo controlado sai do controle.
Por isso, hoje precisamos de mais fiscais, ter uma política de zero fogo, que é algo muito difícil, mas precisa ser implantada. Ao mesmo tempo que os municípios, o corpo de bombeiros tenham uma equipe sempre disponível, trabalhando 24 horas, como acontece em outras regiões do mundo.
Em 2024 tivemos número expressivos de combate ao desmatamento, mas mesmo assim o nível de fogo foi altíssimo. Como que essa conta fecha?
O efeito do combate ao desmatamento não é imediato. Se caiu em 2024, não significa que já vamos ter um resultado prático em 2024.
Na verdade nós precisamos ter uma tendência de redução por uma década, ai depois podemos ver as consequências dessa redução. Não é automático.
Por isso que se fala que se não reduzirmos as emissões de gases de efeito estufa agora, não vamos conter o aquecimento global em dois graus até 2050 ou 2060.
E quais são as expectativas para 2025?
O fenômeno o El Niño já acabou, mais ou menos, em maio de 2024. E aí começou a se configurar o seu oposto, a La Niña.
Acontece que La Niña ainda não se manifestou de fato. Nós estamos com água relativamente mais frias, o que caracteriza o fenômenos, mas não no nível que de fato configura a La Niña. Existem indícios que, na verdade, só vamos ter ela no verão de 2025.
Durante La Niña chove muito na Amazônia e no Nordeste também, mas temos seca no sul e sudeste do Brasil
Então existe essa preocupação porque atualmente nos temos seca na Amazônia. Ter uma La Niña poderia aliviar essa situação, muitos têm essa esperança de que um La Niña forte pode terminar com os problemas de seca no Brasil, mas isso é discutível, porque apesar da chuva intensa no sul do Brasil no ano passado, existe uma região que ainda enfrenta seca, no caso o estado do Paraná, a bacia do Paraná como um todo. Um La Niña forte pode prejudicar mais essa região.
Essas duas regiões merecem toda nossa atenção: Sul do Brasil e a Amazônia. Dependendo da intensidade da La Niña, a situação pode resolver em uma parte e piorar em outras.
É muito cedo, temos que esperar talvez até janeiro para poder saber um pouco mais.
Como devemos agir para ter mais eficiência na prevenção de desastres?
Precisamos de uma integração entre governo federal, estadual e municipal.
No Cemaden nos trabalhos com desastres. Nós fazemos previsão de alerta, de desastres. Então nós avisamos de enxurradas, inundações.
Isso é uma informação gerada pelo governo federal, que passa para a defesa civil geral, que repassa para a estadual e depois do município em questão.
Existe uma corrente, e se essa corrente se quebra em algum momento, nós vamos ter problemas. É o que aconteceu em São Sebastião em 2023. As chuvas foram previstas e o alerta foi emitido. O que faltou foi essa conexão entre a defesa civil e a defesa civil municipal. Situação semelhante com o que aconteceu no Rio Grande do Sul.
Então falta essa conexão. Importante comentar que isso não é só no Brasil. Em Valência, na Espanha. a situação foi muito semelhante. Você deve se lembrar como a população ficou revoltada com a falta de alerta.
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Edição: Nathallia Fonseca