Barbara Leaf, diplomata sênior e responsável pelo Oriente Médio do Departamento de Estado dos EUA, anunciou, nesta sexta-feira (20), que o país retirou a recompensa de prisão sobre Ahmed al-Sharaa de US$ 10 milhões (R$ 60,7 milhões), após visita de delegação diplomática dos EUA à Síria.
Ahmed al-Sharaa, cujo nome de guerra é Abu Mohamed al-Jolani, é o líder do grupo islamista radical Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que foi ligado à Al Qaeda, classificado como "terrorista" por vários países, incluindo os Estados Unidos.
"Foi uma decisão política [...], alinhada com o fato de que estamos [os EUA] iniciando um diálogo com o HTS", disse Leaf.
Esta foi a primeira visita oficial dos EUA à Síria desde a queda de Bashar al-Assad, no início do mês. Leaf disse que os EUA decidiram derrubar a recompensa para al-Sharaa após receber "mensagens positivas" ao longo da conversa, que inclui uma promessa de garantia de que "grupos terroristas" não representarão uma ameaça no novo governo sírio.
Após mais de 13 anos de guerra civil que deixou o país fragmentado e devastado, a vitória de uma aliança rebelde liderada pelo HTS derrubou a família Assad do poder e retirou Bashar al-Assad da presidência síria.
Al-Sharaa celebrou uma reunião "positiva" com os diplomatas estadunidenses, que chegaram a Damasco, capital da Síria, para um primeiro contato formal com o novo governo interino, dominado por islamistas radicais sunitas.
Uma coletiva de imprensa inicialmente prevista pela delegação diplomática dos EUA, foi cancelada por "razões de segurança", anunciou uma porta-voz estadunidense em Damasco.
"Também comuniquei a importância da inclusão e da ampla consulta popular durante esse período de transição", disse Leaf.
"Apoiamos totalmente um processo político liderado e de propriedade da Síria que resulte em um governo inclusivo e representativo que respeite os direitos de todos os sírios, incluindo as mulheres, e as diversas comunidades étnicas e religiosas da Síria", completou a diplomata.
As mulheres são "absolutamente indispensáveis" para reconstruir a Síria, disse também nesta sexta Amy Pope, diretora-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), uma agência da ONU. Na quinta-feira (19), centenas de pessoas se manifestaram na capital Damasco pela democracia e os direitos das mulheres.
A viagem de Leaf para a Síria ocorreu em um momento em que os países ocidentais estão ponderando se devem retirar a designação de "terrorista" do HTS. Embora a designação venha acompanhada de uma série de sanções, ela não proíbe que as autoridades dos EUA falem com os membros ou líderes do grupo.
Mais soldados dos EUA na Síria
Na última quinta-feira (19), o Pentágono dos EUA admitiu que possui dois mil soldados em território sírio, e não 900, como disse ao longo de vários anos - mais que o dobro da estimativa.
O porta-voz do Pentágono, Pat Ryder, disse que este número adicional de 1.100 tropas está em território sírio "há algum tempo", antes mesmo da queda de Bashar al-Assad, apesar de não especificar com exatidão o período.
Os EUA têm informado "regularmente que há aproximadamente 900 soldados dos EUA na Síria. À luz da situação [no país] e do grande interesse, soubemos recentemente que esses números eram maiores", disse Ryder.
"Então, quando me pediram para investigar, fiquei sabendo hoje que, de fato, há aproximadamente 2.000 soldados estadunidenses na Síria", completou.
Ele disse que os 900 soldados declarados oficialmente são alocados de longo prazo, enquanto o restante são "forças temporárias de rotação".
*Com Al Jazeera e AFP
Edição: Rodrigo Durão Coelho