Desde o final de novembro, a população mineira tem denunciado que apenas um carro funerário (rabecão) Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) atende 50 municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Com veículos inoperantes, familiares de vítimas de acidentes e crimes violentos chegaram a esperar mais de 10 horas pelo transporte dos corpos.
A questão foi debatida em audiência pública realizada na última sexta-feira (6) pela Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), quando representantes da Polícia Civil e da Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag) apresentaram medidas para resolver a crise.
Sucateamento afeta a dignidade das famílias e dos trabalhadores
A deputada estadual Bella Gonçalves (Psol), do Bloco Democracia e Luta, destacou que a situação vai além da falta de veículos.
"As famílias chegam a esperar até 12 horas para que o corpo de um parente seja recolhido. Isso não é só desumano para elas, mas também para os policiais que trabalham sem estrutura. O governo Zema não reajusta salários, não realiza concursos e deixa os servidores expostos, sem equipamentos adequados. Esse problema dos rabecões é apenas a ponta do iceberg do sucateamento do serviço público em Minas Gerais", afirmou.
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O impacto que recai sobre os policiais que operam os rabecões, muitas vezes sozinhos e sem suporte técnico, é um fator de destaque, segundo ela.
"O motorista precisa carregar os corpos e, às vezes, até conta com ajuda da população. Isso expõe o trabalhador ao risco físico, emocional e até de contágio. Estamos acompanhando de perto para verificar os contratos anunciados pela Polícia Civil e pela Seplag", anunciou.
Promessas de melhoria com modelo de locação
Durante a audiência, representantes do governo afirmaram que um contrato firmado em setembro prevê a locação de oito novos rabecões, que devem estar disponíveis até o final de dezembro. Segundo o superintendente da Polícia Técnico-Científica, Thales Bittencourt de Barcelos, será a primeira vez que a Polícia Civil utilizará veículos alugados, modelo adotado em outros estados.
O diretor de transportes da Polícia Civil, Francis Diniz Guerra, explicou que o contrato inclui renovação constante da frota e manutenção preventiva e corretiva, além de serviços de guincho e limpeza dos veículos.
Apesar das promessas, críticas à morosidade das ações dominaram o debate. Para o deputado Sargento Rodrigues (PL), a falta de investimentos do governo Zema faz com que a estrutura mínima seja garantida por emendas parlamentares.
Problemas estruturais persistem
O presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil (Sindipol), Wemerson da Silva de Oliveira, denunciou a precariedade do serviço durante a audiência.
"Cinco dos sete rabecões que deveriam atender a RMBH estavam em manutenção no último fim de semana. Um deles quebrou na estrada enquanto transportava dois corpos. Quem faz o reparo, muitas vezes, é o próprio policial, sem qualquer suporte", lamentou.
Além disso, a falta de pessoal foi um ponto recorrente. Na capital, apenas 18 investigadores conduzem os rabecões, atuando de forma isolada. Em Betim, há suporte de servidores municipais ou administrativos.
Cobranças por condições dignas de trabalho
A demanda por um adicional de risco de contágio também foi levantada, já que esses profissionais lidam diretamente com materiais biológicos. O superintendente Thales Bittencourt se comprometeu a revisar o pedido, antes negado pelo governo Zema.
O Bloco Democracia e Luta reforçou a necessidade de transparência nos contratos e melhorias estruturais. Para Bella Gonçalves, a falta de rabecões é reflexo de uma política de desmonte.
"Esse descaso com as famílias e trabalhadores é resultado direto de um governo que despreza o serviço público. Seguiremos cobrando condições dignas e respeito para quem depende do Estado", reforçou.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Lucas Wilker