O Brasil registrou em novembro o maior aumento mensal do preço da carne desde 2020. Foram 8,02% de alta, segundo dados divulgados nesta terça-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A alcatra subiu 9,31%; o chã de dentro (também conhecido como coxão mole), 8,57%; o contrafilé, 7,83%; e a costela; 7,83%.
Juntos, eles pressionaram o preço médio dos alimentos no país, que subiu 1,55%, e a inflação como um todo, que chegou a 0,39%.
De acordo com o IBGE, entretanto, o aumento do preço da carne não está ligado diretamente à falta do produto no país. O Brasil tinha mais de 238 milhões de bois e vacas vivendo em seu território ainda em 2023, o que dá mais de uma vaca por habitante.
O problema é que a criação do segundo maior rebanho de bovinos do mundo está hoje destinada, principalmente, à exportação de carne. Com isso, falta carne no mercado nacional. O preço tende a subir.
“A alta dos alimentícios foi influenciada, principalmente, pelas carnes. A menor oferta de animais para abate e o maior volume de exportações reduziram a oferta do produto”, disse o gerente do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, André Almeida.
É por meio do IPCA que o preço da carne é apurado periodicamente pelo instituto.
Exportação recorde
Segundo o IBGE, só nos últimos 12 meses, o preço das as carnes teve aumento de 15,43%. Durante esse período, o Brasil bateu recorde de exportação de carne bovina.
De janeiro a outubro, frigoríficos brasileiros enviaram 2,4 milhões de toneladas de carne de boi para fora do país. Isso foi 30% mais do que nos mesmos meses de 2023. Só nos primeiros dez meses de 2024, o Brasil exportou mais que em todo 2023.
Os dados foram compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) com base em números no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
“A longo prazo, o foco na exportação não é ruim. Mas deve-se procurar conter os efeitos altistas de curto prazo, especialmente daqueles produtos que ocupam parte considerável dos gastos dos brasileiros”, ponderou o economista e engenheiro agrônomo José Giacomo Baccarin, secretário de Segurança Alimentar e Nutricional do governo federal entre 2003 e 2005, durante a gestão de Lula.
Diego Moreira, da coordenação nacional do setor de produção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), chama a atenção para as mudanças climáticas, que têm contribuição do agronegócio, e que impactam no preço da carne. Ele destaca os efeitos da seca severa que atinge regiões do país. "Estamos vivendo um conjunto de extremos climáticos no Brasil e isso prejudica muito o desenvolvimento do rebanho, do ponto de vista da possibilidade de se desenvolver para ficar pronto para o abate. Isso interfere diretamente na oferta", explicou.
Tendência
Baccarin já havia notado o aumento do preço da carne no Brasil em artigo publicado pelo Instituto Fome Zero (IFZ), em outubro. Naquele mês, ele já havia registrado o impacto das exportações –e também da alta do dólar– no custo da comida no país.
“As condições do comércio internacional vêm causando uma dupla pressão de preços de alimentos no Brasil”, descreveu, no texto.
No mês seguinte, em novembro, a rede de supermercados francesa Carrefour anunciou um boicote à carne brasileira. Baccarin lembrou ao Brasil de Fato que o governo agiu politicamente em prol dos pecuaristas nacionais. Deveria, agora, cobrar deles medidas para proteção do consumidor brasileiro.
“O Brasil se juntou para defender os interesses da pecuária bovina nacional, contra a injusta acusação do Carrefour de que temos problemas sanitários em nossos rebanhos. Pois agora está na hora de adotarmos, como esforço nacional, a proteção do consumidor brasileiro de carne bovina. Via câmbio, com a valorização da moeda brasileira e via imposto de exportação para os produtos da bovinocultura de corte”, recomendou.
Procurada pelo Brasil de Fato, a Abiec não se pronunciou sobre o preço da carne.
Edição: Geisa Marques