Durante quatro dias a cidade de Salvador (BA) foi território para a realização do 4º Encontro Nacional das Mulheres Camponesas, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que teve como tema "Abastecer, Lutar, Construir o Projeto Popular!". Evento que teve início no dia 3 de dezembro, encerrou na última sexta-feira (6), com a troca de sementes e o ato de solidariedade. A celebração aconteceu na Escola Parque Anísio Teixeira, e reuniu mais de mais de mil mulheres camponesas de diversas regiões do Brasil e de outros países. Conjuntamente ao encontro aconteceu a Feira Solidária. Ao final, foi lançada a Carta Política.
"Cansei de ser domesticada/ Quero andar com os próprios pés/ Organizar a rebeldia/ E assim deixar de ser refém/ Mulher não nasceu pra ser escrava Isso é coisa inventada/ Pra poder nos oprimir/ Já é tempo de acordar Mulher tem o seu lugar Vamos juntas resistir/ Mulher não é uma propriedade/ Como dita a sociedade De costume patriarcal/ Precisa também se libertar Para o mundo transformar/ Derrubar o Capital."
O hino das mulheres do MPA, Andar com os próprios pés, se fez presente durante todos os dias do evento, que teve como mote renovar o compromisso político das mulheres camponesas em continuar a luta pela transformação social e pela construção de um projeto popular.
O evento contou com atividades culturais e místicas, debates sobre temas que trataram da realidade das mulheres no campo. Assim como oficinas como produção de cerveja artesanal, trança, cordel, entre outras. E rodas de conversa, com destaque para a primeira Plenária LGBTQIA+ do MPA. Entre as convidadas esteve a médica pediatra cubana Aleida Guevara. Para as 120 crianças presentes ao evento, foram organizadas atividades educativas da Ciranda do MPA Mirim, com 40 cirandeiras e cirandeiros.
"Este encontro, fruto da nossa organização e resistência nos territórios, simboliza a força da classe camponesa e a importância do feminismo camponês e popular, que nos guia na luta contra o patriarcado, o capital e o imperialismo. (...) Reafirmamos nosso compromisso com a construção de um Projeto Popular para o Brasil e com a luta por um mundo livre do racismo, do patriarcado e todas as formas de opressão, de exploração e expropriação que estruturam o capitalismo", destaca carta.
Sem organização não tem conquista
"Foram quatro dias de muita formação das mulheres, com uma diversidade muito grande de debates e vozes, com as mulheres se colocando para debater o feminismo camponês e popular, a produção de alimentos, a organização do poder popular desde os territórios", comentou a coordenadora do Coletivo Nacional de Gênero do MPA, Jeiéli Reis.
Conforme ressalta a coordenadora, o que se viu no encontro foi a força do papel das mulheres na produção de alimentos, na organização da classe camponesa. "Esse encontro demonstra que sem as mulheres organizadas a gente não tem conquista, a gente não tem luta."
Para Denilva Araújo, da coordenação nacional do MPA, o encontro não terminou, "é apenas o início de uma longa jornada para o próximo período para as mulheres do MPA, e para gente poder seguir fazendo esse belo trabalho, produzindo alimento, conseguindo também comercializar. Sabemos que o abastecimento dos alimentos, a maior parte da produção vem das mãos das mulheres, são as que plantam, colhem e cuidam."
Na Bahia, prosseguiu, é necessário do fortalecimento da agroecologia a partir dos bioinsumos. "Precisamos de investimento nessa área para que as mulheres consigam seguir produzindo alimentos em quantidade, com qualidade e diversidade. Além disso, é necessário fortalecer a produção de sementes crioulas."
O encerramento do encontro recebeu a visita do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), que tomou café da manhã com as mulheres e saudou o evento acompanhado da primeira-dama, Tatiana Velloso; de Roberta Santana, Secretária de Saúde; Neusa Cadore, Secretária de Políticas para as Mulheres; e Fabya Reis, Secretária de Assistência e Desenvolvimento Social.
Na cerimônia, Denilva destacou que o MPA está construindo com diversos movimentos e organizações sociais a missão Josué de Castro. Ela tem como objetivo alimentar 5 milhões de pessoas no Brasil a partir de sistemas alimentares de base familiar, camponesa, agroecológica, solidária e com o estabelecimento de circuitos curtos de abastecimento.
E fez um convite ao governador: "É importante que o senhor também possa se juntar a nós para que a gente assegure investimentos, recursos para garantir que a missão Josué de Castro seja implementada na Bahia e, consequentemente, no Brasil. A missão é a nossa trincheira de luta para o próximo período. Para nós, mulheres, essa também é uma pauta muito importante."
Em sua intervenção o governador ressaltou que o combate à fome, a agroecologia, a geração de renda para essas famílias está no pacto com o presidente Lula. "Queremos ver a autonomia das mulheres, a consolidação de pequenas agroindústrias e a melhoria da infraestrutura nas zonas rurais. Nós estamos aqui disputando um projeto de sociedade. Essa é minha pauta de governador. É a pauta do emprego, da terra, da água, é a pauta da habitação."
Na quinta-feira (5), o secretário nacional de Participação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República, Renato Simões, visitou o encontro e enalteceu o trabalho desenvolvido pelo movimento. "O MPA é um movimento social que está fortemente enraizado em 19 estados, reunidos com esse vigor, com essa representatividade. Aqui em Salvador, mostra como o MPA se consolidou como uma realidade nacional. Estivemos juntos na resistência ao golpe de 2016, na resistência ao neoliberalismo do Temer e ao neofascismo do Bolsonaro. Na campanha Lula Livre, na campanha Fora Bolsonaro, não há trincheira da luta do nosso povo que não tenha tido o MPA na linha de frente", destacou.
Diante disso, o movimento foi convidado a integrar o Conselho de Participação Social da Presidência da República e os fóruns de participação social nos estados, junto com os demais movimentos sociais, redes e organizações da sociedade civil.
A realização do 4º Encontro Nacional e Feira Camponesa das Mulheres do MPA contou com o apoio do Governo do Estado da Bahia, por meio da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR, da Secretaria de Desenvolvimento Rural – SDR, da Secretaria de Educação – SEC, da parceria com a Fundação Banco do Brasil e do patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal.
* Com informações de Lorena Andrade, Brasil de Fato Bahia.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko