VIDA DAS MULHERES

'Reafirmamos nosso compromisso com a construção de um projeto popular', destaca carta política das mulheres do MPA

Documento foi lido ao final do 4º Encontro Nacional das Mulheres Camponesas, realizado em Salvador (BA)

Brasil de Fato | Salvador (BA) |

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"Foram quatro dias de muita formação das mulheres, com uma diversidade muito grande de debates e vozes", destaca coordenadora - Foto: André Souza

Durante quatro dias a cidade de Salvador (BA) foi território para a realização do 4º Encontro Nacional das Mulheres Camponesas, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que teve como tema "Abastecer, Lutar, Construir o Projeto Popular!". Evento que teve início no dia 3 de dezembro, encerrou na última sexta-feira (6), com a troca de sementes e o ato de solidariedade. A celebração aconteceu na Escola Parque Anísio Teixeira, e reuniu mais de mais de mil mulheres camponesas de diversas regiões do Brasil e de outros países. Conjuntamente ao encontro aconteceu a Feira Solidária. Ao final, foi lançada a Carta Política.

"Cansei de ser domesticada/ Quero andar com os próprios pés/ Organizar a rebeldia/ E assim deixar de ser refém/ Mulher não nasceu pra ser escrava Isso é coisa inventada/ Pra poder nos oprimir/ Já é tempo de acordar Mulher tem o seu lugar Vamos juntas resistir/ Mulher não é uma propriedade/ Como dita a sociedade De costume patriarcal/ Precisa também se libertar Para o mundo transformar/ Derrubar o Capital."

O hino das mulheres do MPA, Andar com os próprios pés, se fez presente durante todos os dias do evento, que teve como mote renovar o compromisso político das mulheres camponesas em continuar a luta pela transformação social e pela construção de um projeto popular. 

O evento contou com atividades culturais e místicas, debates sobre temas que trataram da realidade das mulheres no campo. Assim como oficinas como produção de cerveja artesanal, trança, cordel, entre outras. E rodas de conversa, com destaque para a primeira Plenária LGBTQIA+ do MPA. Entre as convidadas esteve a médica pediatra cubana Aleida Guevara. Para as 120 crianças presentes ao evento, foram organizadas atividades educativas da Ciranda do MPA Mirim, com 40 cirandeiras e cirandeiros.

"Este encontro, fruto da nossa organização e resistência nos territórios, simboliza a força da classe camponesa e a importância do feminismo camponês e popular, que nos guia na luta contra o patriarcado, o capital e o imperialismo. (...) Reafirmamos nosso compromisso com a construção de um Projeto Popular para o Brasil e com a luta por um mundo livre do racismo, do patriarcado e todas as formas de opressão, de exploração e expropriação que estruturam o capitalismo", destaca carta. 

Sem organização não tem conquista 

"Foram quatro dias de muita formação das mulheres, com uma diversidade muito grande de debates e vozes, com as mulheres se colocando para debater o feminismo camponês e popular, a produção de alimentos, a organização do poder popular desde os territórios", comentou a coordenadora do Coletivo Nacional de Gênero do MPA, Jeiéli Reis. 

Conforme ressalta a coordenadora, o que se viu no encontro foi a força do papel das mulheres na produção de alimentos, na organização da classe camponesa. "Esse encontro demonstra que sem as mulheres organizadas a gente não tem conquista, a gente não tem luta."

Para Denilva Araújo, da coordenação nacional do MPA, o encontro não terminou, "é apenas o início de uma longa jornada para o próximo período para as mulheres do MPA, e para gente poder seguir fazendo esse belo trabalho, produzindo alimento, conseguindo também comercializar. Sabemos que o abastecimento dos alimentos, a maior parte da produção vem das mãos das mulheres, são as que plantam, colhem e cuidam."


Encontro teve a participação do governador do estado, Jerônimo Rodrigues (PT) / Foto: André Souza

Na Bahia, prosseguiu, é necessário do fortalecimento da agroecologia a partir dos bioinsumos. "Precisamos de investimento nessa área para que as mulheres consigam seguir produzindo alimentos em quantidade, com qualidade e diversidade. Além disso, é necessário fortalecer a produção de sementes crioulas."

O encerramento do encontro recebeu a visita do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), que tomou café da manhã com as mulheres e saudou o evento acompanhado da primeira-dama, Tatiana Velloso; de Roberta Santana, Secretária de Saúde; Neusa Cadore, Secretária de Políticas para as Mulheres; e Fabya Reis, Secretária de Assistência e Desenvolvimento Social. 

Na cerimônia, Denilva destacou que o MPA está construindo com diversos movimentos e organizações sociais a missão Josué de Castro. Ela tem como objetivo alimentar 5 milhões de pessoas no Brasil a partir de sistemas alimentares de base familiar, camponesa, agroecológica, solidária e com o estabelecimento de circuitos curtos de abastecimento. 

E fez um convite ao governador: "É importante que o senhor também possa se juntar a nós para que a gente assegure investimentos, recursos para garantir que a missão Josué de Castro seja implementada na Bahia e, consequentemente, no Brasil. A missão é a nossa trincheira de luta para o próximo período. Para nós, mulheres, essa também é uma pauta muito importante."


O MPA está construindo com diversos movimentos e organizações sociais a missão Josué de Castro / Foto: André Souza

Em sua intervenção o governador ressaltou que o combate à fome, a agroecologia, a geração de renda para essas famílias está no pacto com o presidente Lula. "Queremos ver a autonomia das mulheres, a consolidação de pequenas agroindústrias e a melhoria da infraestrutura nas zonas rurais. Nós estamos aqui disputando um projeto de sociedade. Essa é minha pauta de governador. É a pauta do emprego, da terra, da água, é a pauta da habitação."

Na quinta-feira (5), o secretário nacional de Participação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República, Renato Simões, visitou o encontro e enalteceu o trabalho desenvolvido pelo movimento. "O MPA é um movimento social que está fortemente enraizado em 19 estados, reunidos com esse vigor, com essa representatividade. Aqui em Salvador, mostra como o MPA se consolidou como uma realidade nacional. Estivemos juntos na resistência ao golpe de 2016, na resistência ao neoliberalismo do Temer e ao neofascismo do Bolsonaro. Na campanha Lula Livre, na campanha Fora Bolsonaro, não há trincheira da luta do nosso povo que não tenha tido o MPA na linha de frente", destacou.

Diante disso, o movimento foi convidado a integrar o Conselho de Participação Social da Presidência da República e os fóruns de participação social nos estados, junto com os demais movimentos sociais, redes e organizações da sociedade civil. 

A realização do 4º Encontro Nacional e Feira Camponesa das Mulheres do MPA contou com o apoio do Governo do Estado da Bahia, por meio da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR, da Secretaria de Desenvolvimento Rural – SDR, da Secretaria de Educação – SEC, da parceria com a Fundação Banco do Brasil e do patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal.

* Com informações de Lorena Andrade, Brasil de Fato Bahia.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko