Na sexta-feira (6), no auditório do Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, a 21ª Jornada de Agroecologia sediou um seminário que destacou o papel da universidade na promoção de justiça social e da reorganização territorial. Ministrado pela professora Regina Pontes, doutora em Direito e integrante do coletivo Planejamento Territorial e Assessoria Popular (Plantear), o encontro apresentou reflexões e experiências que integram ensino, pesquisa e extensão na busca por soluções para conflitos fundiários urbanos e rurais, com foco na reforma agrária e ocupações populares.
Regina Pontes, reconhecida por sua atuação em políticas urbanas e assessoria popular, abordou casos práticos onde a UFPR desempenhou papel central, como a reconstrução da Comunidade 29 de Março após o incêndio criminoso que devastou a área em 2018. “O Plano Urbanístico Emergencial que elaboramos em dez dias foi um exemplo claro de como a universidade pode responder com rapidez e eficiência às demandas concretas das comunidades”, explicou a professora. Ela ressaltou que o tripé universitário deve se transformar em um eixo de transformação social, capaz de contribuir diretamente para a garantia de direitos básicos.
A atuação do coletivo Plantear
O Plantear, coletivo do qual Regina faz parte, reúne professores, estudantes e grupos de pesquisa de diversas áreas — Direito, Arquitetura, Engenharia, Geografia, entre outras. Fundado a partir das demandas emergenciais da Comunidade 29 de Março, o grupo tornou-se referência em assessoria técnica para movimentos sociais, assentamentos e ocupações urbanas. Sua abordagem interdisciplinar conecta saber acadêmico às demandas reais de comunidades que enfrentam violações de direitos fundiários.
O coletivo articula ações junto a movimentos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e atua também em pautas urbanas, como o apoio técnico a ocupações em Curitiba e na Região Metropolitana. “A universidade não pode se limitar a teorias, ela precisa ir até as comunidades, ouvir suas demandas e oferecer ferramentas práticas para enfrentá-las”, enfatizou Pontes. A fala da professora foi acompanhada por relatos de integrantes do Plantear e de movimentos populares, que destacaram o impacto transformador do trabalho desenvolvido pela UFPR.
Reforma agrária e agroecologia: lutas interconectadas
A Jornada de Agroecologia, que este ano tem como tema central a soberania alimentar e a defesa dos territórios, reúne agricultores, pesquisadores e lideranças sociais de todo o país. Para Regina Pontes, o debate sobre reforma agrária deve estar intimamente ligado à agroecologia, pois ambas tratam da relação entre terra, produção e dignidade humana. “A reforma agrária não é apenas uma questão de redistribuição de terras. Ela também é sobre criar condições para que a terra seja produtiva e sustentável, respeitando os saberes tradicionais e as demandas das populações envolvidas”, disse.
A agroecologia, destacada ao longo do evento, foi descrita como prática central para a segurança alimentar e a preservação ambiental. Participantes enfatizaram que as políticas públicas precisam priorizar o fortalecimento dos pequenos agricultores e das comunidades que dependem da terra, combatendo os impactos negativos da expansão do agronegócio e do uso intensivo de agrotóxicos.
Uma agenda de luta e aprendizado
A Jornada, que se encerra neste domingo (8), tem consolidado seu papel como espaço de articulação entre academia, movimentos sociais e populações camponesas. Além do seminário conduzido por Pontes, o evento contou com oficinas, plenárias e apresentações culturais que reforçaram a urgência de políticas públicas voltadas à soberania alimentar e à justiça social.
O seminário deixou claro que, ao se conectar diretamente com as lutas sociais, a universidade pode desempenhar um papel estratégico na construção de um Brasil mais justo e inclusivo. Para Regina Pontes, a Jornada é um exemplo vivo de como ciência, política e movimentos populares podem caminhar juntos: “Estamos aqui para mostrar que a universidade não é neutra. Ela tem lado, e esse lado deve ser o da transformação.”
Sobre a 21ª Jornada de Agroecologia
Realizada anualmente, a Jornada é organizada por movimentos como o MST e conta com apoio de universidades e organizações sociais. O evento reafirma seu compromisso com a formação de uma agenda agroecológica que valorize os pequenos produtores e a preservação ambiental como caminhos para enfrentar as crises econômicas e sociais que atravessam o país. Mais do que um espaço de debate, a Jornada tem se consolidado como um laboratório de práticas e políticas transformadoras que inspiram movimentos em todo o Brasil.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Mayala Fernandes