Após a destituição do primeiro-ministro Michel Barnier pelo parlamento da França, numa aliança inédita de deputados de esquerda com os da extrema direita, o presidente do país Emmanuel Macron tenta ganhar tempo para indicar um nome ao cargo que não gere ainda mais desgaste ao governo.
Barnier perdeu o posto de premiê francês após ser alvo de uma moção de desconfiança aprovada pelos parlamentares. O descontentamento com o agora ex-primeiro-ministro aumentou quando ele fez uma proposta de orçamento com corte de gastos e aumento de impostos, sem que fosse necessária uma votação dos deputados.
Para a professora de Relações Internacionais, Denilde Holzhacker, que dá aula na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a questão do orçamento foi tão crítica a ponto de unir parlamentares de espectros políticos antagônicos porque, de fato, envolve medidas tomadas que atingem uma série de direitos garantidos na Constituição e reformas que afetam a vida da população francesa.
"A França já vem de uma série de discussões sempre muito complexas sobre as questões voltadas para a área de direitos sociais, quanto também pelo enxugamento do Estado. Então, essa era uma das ações do premiê e gerou uma forte resistência. De outro lado, ele assumiu uma posição de cima para baixo, mudando regras sem passar pelo Parlamento."
"Nesse sentido, a esquerda e a extrema direita se alinharam em função dessa perspectiva de que não só o modelo e a forma como estava sendo feito, mas também sobre como que essas questões de orçamento, de ajuste fiscal, atingiriam também, principalmente na reforma previdenciária, o pagamento do funcionalismo público e outras áreas sociais importantes para os franceses", explica Holzhacker. "Então, é nesse sentido que a pressão foi feita, tanto do ponto de vista da sociedade francesa, quanto também nessa aliança que é bastante inusitada. Não significa que eles se alinham em todos os temas, mas, nessa questão, os dois viram que as perdas para a sociedade seriam muito grandes."
Com a queda de Barnier, Macron também sofreu pressão para entregar o cargo de presidente. O mandato dele vai até maio de 2027. Em pronunciamento nesta quinta-feira (5), o presidente francês garantiu que não vai renunciar e que vai escolher um novo primeiro-ministro em breve.
A professora da ESPM lembra do processo que levou à intensificação da crise política no país nos últimos meses, com a decisão de Macron de dissolver o Parlamento em junho.
"A questão da governabilidade vem desde o pedido de eleições que ele fez. Foi uma jogada do Macron antecipar as eleições legislativas para conseguir protelar esse processo de desgaste do governo dele, que já vinha com várias greves, várias pressões, com um crescimento de grupos muito nacionalistas internos. Não deu certo e mostrou agora que ainda há grande dificuldade", pontua Denilde.
Macron tenta agora não errar e construir uma aliança que sustente o governo até o fim do mandato, esclarece a professora de Relações Internacionais.
"Tem dois cenários: se ele renuncia, pode ser que a gente tenha uma fragmentação ainda maior, que foi o que se viu no processo das eleições legislativas. E, se fica, ele continua muito enfraquecido. Então, há um cenário muito complexo para a decisão do próprio Macron. Tudo indica que ele vai tentar construir uma maioria e, principalmente, conseguir fazer nesse primeiro semestre de 2025 uma aliança e aí, sim, depois do período do primeiro semestre, chamar eleições legislativas e tentar de novo construir uma maioria."
"É possível que ele forme [um governo] com a esquerda, mas eu acho que a falta de consenso de nomes é o grande problema. Ele tem uma preocupação de que qualquer nome que ele coloque agora vá ser rejeitado e aí ele teria que voltar, então acho que aqui é uma estratégia de conseguir tempo de negociação. Os partidos estão muito fragmentados e [está] muito indefinido esse processo", conclui.
A entrevista completa está disponível na edição desta sexta-feira (6) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
E tem mais!
Letalidade Policial
Organizações do movimento negro fizeram um protesto nesta quinta (5) em São Paulo pedindo Justiça pelas vítimas de violência policial no estado. Vídeos que mostram o comportamento irregular dos PMs geraram indignação na sociedade.
Jornada de Luta
No começo da semana, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocupou trecho da Estrada de Ferro Carajás, no município de Parauapebas (PA). O movimento denuncia os impactos socioambientais provocados historicamente pela Vale.
O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Edição: Martina Medina