REGIÃO TURBULENTA

Síria: tendência é que Bashar al-Assad enfrente mais dificuldades com diversos conflitos no Oriente Médio, diz especialista

Pablo Ibañez explica contexto em que regime sírio pode estar ameaçado e afirma que cessar-fogo no Líbano fracassou

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Combatentes antigovernamentais passam por equipamentos e veículos militares abandonados do exército sírio - Foto: Aref TAMMAWI / AFP

O avanço de grupos armados em Aleppo, segunda maior cidade na Síria, no último fim de semana, deu início a um novo capítulo da guerra civil no país e gerou perguntas sobre o que deve acontecer daqui para frente no Oriente Médio com mais esse conflito. Nunca terminada, a guerra na Síria começou em 2011, mas estava relativamente sem grandes ocorrências nos últimos anos.

Depois de Aleppo, os grupos rebeldes islamistas tomaram também, nesta quinta-feira (5), a cidade de Hama, que fica no centro do país e era fundamental para que as tropas do governo de Bashar al-Assad conseguissem proteger a capital Damasco.

A ofensiva dos opositores de Assad, que havia recuado, volta agora num contexto regional extremamente turbulento, pontua Pablo Ibañez, professor de Geopolítica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ele conversou com o jornal Central do Brasil sobre o assunto.

"É um conflito que já está durando mais de década. Ele teve um recuo e uma relativa vitória do governo de Bashar al-Assad, que agora vai perdendo importantes posições. Se a gente for observar, em especial a região do entorno da Síria está muito afetada pelo que está acontecendo também no Iraque, em que forças de milícias que estão ganhando muito poder e ocupando, efetivamente, determinados espaços, estão avançando."

"Isso tem provocado derrotas para o Bashar al-Assad, que efetivamente já vinha de um problema com o enfraquecimento desde o começo do conflito no qual ele atuou. Então a vida que já não era fácil para o Bashar al-Assad passa por um período, digamos assim, de relativa estabilidade, mas com o Oriente Médio nessa turbulência, o contexto regional inteiro nessa turbulência, a tendência agora é que ele vai enfrentar mais dificuldades. A situação dele é uma situação diferente do que a gente assistia antes. Ela não estava com a parte de Israel, da Faixa de Gaza, a West Bank, toda a parte que está mais ao sul da Síria não estava nesse contexto tão tenso", explica.

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Deste modo, o conflito na Síria inclui vários outros atores internacionais. O destino do país interessa a Rússia, Estados Unidos, Irã, Turquia, Israel e União Europeia, que acompanham de perto as hostilidades. 

"De maneira muito resumida, os países que têm realmente um papel muito importante são Turquia, que faz fronteira direta, o Iraque, nessa questão de ser de onde estão mandando forças que estão desestabilizando internamente a Síria, mas a gente tem que colocar que há um conflito que, majoritariamente, é definido pela disputa entre Estados Unidos e Rússia", expõe Ibañez.

"A Rússia é um aliado histórico do governo Bashar al-Assad, é um aliado que manteve e deu capacidade militar e operacional para a Síria durante todo esse período. E os Estados Unidos se mantiveram como um ator de desestabilização interna, sobretudo em relação ao regime, custe o que custar", segue o professor.

"Os Estados Unidos não pouparam esforços em financiar grupos militares, paramilitares e é claro que também, em um determinado momento, se colocaram em estado de alerta quando houve realmente um avanço do estado islâmico e uma consolidação um pouco mais forte. Mas esse é um cenário de disputa muito clara na região e é um ponto fundamental da manutenção dessa Rússia que tende cada vez mais a se mostrar como um player internacional de grande peso e a Síria é um chamariz muito importante."

Saiba mais sobre a Guerra na Síria também no podcast O Estrangeiro, do Brasil de Fato.

Israel x Hezbollah

Ao Central do Brasil, o especialista em Geopolítica também comentou sobre o acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo libanês Hezbollah que não tem funcionado. Antony Blinken, secretário de estado dos Estados Unidos, aliado de Israel, chegou a dizer que o acordo "se mantém" mesmo após a troca de ataques que continua. Já Israel ameaçou aprofundar a ofensiva se o acordo realmente fracassar, inclusive sem distinguir Hezbollah e Líbano.

"Já fracassou. Já houve ataque de parte a parte, o pior deles do lado de Israel, com certeza. Mas a gente está observando que a tendência desse acordo é uma tendência de fracasso absoluto. Não tem nenhum elemento que demonstra que Israel vai diminuir as ofensivas ou que o Hezbollah vai diminuir. O que é uma situação extremamente desconfortável para o governo do Líbano e demonstra a fraqueza que o próprio governo tem, apesar dele não ser uma liderança regional que fortalece as crises", argumenta.

"Assim, é muito difícil que ela consiga colocar o Hezbollah para diminuir a tensão e Israel já tem demonstrado ao longo dessas centenas de dias que ele não está nem um pouco preocupado em diminuir nenhuma forma que seja para atingir os seus objetivos, que estão se mostrando cada vez maiores", diz o professor da UFRRJ.

A entrevista completa está disponível na edição desta quinta-feira (05), no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.

Edição: Martina Medina