Ibraheem Mohana, um jovem artista palestino de 18 anos, que vive na Faixa de Gaza, foi aluno do também artista Mohammed Sami, morto em outubro de 2023 pelos ataques israelenses.
Ibraheem seguiu o caminho do mestre e passou a dar aulas de arte para crianças em seu bairro no norte de Gaza. Para ele, "a arte é como nós falamos quando as palavras não vêm facilmente. Com uma caneta, um pedaço de papel ou até mesmo uma lata de comida vazia, mostro para as crianças aqui em Gaza que a arte está em todo lugar. É uma forma de contar nossas histórias, de externalizar o que sentimos por dentro".
O jovem entrou em contato com o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social e, a partir desta troca, surgiu uma nova exposição de arte. Composta por criações originais do próprio Ibraheem, feitas entre 2022 e 2024, a exibição também mostra obras de arte de vinte crianças gazenses que estudam arte com o palestino.
A exposição física pode ser vista no Armazém do Campo, localizado na Alameda Nothmann 806, no centro de São Paulo. Pelo mundo, a exposição pode ser encontrada na Esquina América na cidade argentina de La Plata, um espaço cultural na Índia e também no Nepal.
Já a exposição digital pode ser apreciada no site do Instituto Tricontinental, que reuniu todas as obras do artista e de seus alunos.
As produções resgatam um pouco da beleza, humanidade e resistência dos escombros de uma guerra genocida. "Tudo o que quero é compartilhar minha arte com o mundo antes de morrer", contou o artista ao Tricontinental.
Para ele, ensinar arte de uma forma "divertida e envolvente" permite que as crianças "entendam um pouco sobre arte e se sintam orgulhosas de si mesmas" – afinal, as crianças de Gaza ainda são apenas crianças.
As obras de Mohana foram feitas em diferentes meios: lápis, pastéis a óleo, tinta acrílica e caneta e tinta. Elas são, em sua maioria, retratos, como uma Estátua da Liberdade, um pescoço envolto em arame farpado e um rosto cheio de lágrimas; uma pessoa vestida com um keffiyeh, uma bandeira palestina e rosas; três figuras fantasmagóricas, envoltas em um pano branco manchado com impressões digitais vermelhas.
"Eles começaram a guerra para matar nossas esperanças, mas não deixaremos isso acontecer", declarou o palestino em postagem nas redes sociais. Para ele, pintar, desenhar e esboçar é um ato de resistência, e uma forma de dar a esperança de seu povo.
E as criações de Ibraheem e das crianças palestinas deixam claro este sentimento coletivo; de que em todas as idades e esperança e a resistência não morrerão.
Edição: Rodrigo Durão Coelho