É um espetáculo que tem que passar por muitos lugares do Brasil, fala de pautas e coisas urgentes
Poucas horas após a abertura da venda de ingressos, basicamente, esgotaram-se as entradas. O musical Torto Arado, adaptação da premiada obra de Itamar Vieira Junior, chega a São Paulo (SP) numa data especial: 20 de novembro, dia da consciência negra.
Embora seja uma temporada de quase um mês no Sesc 14 Bis, não há mais entradas para o espetáculo.
Essa é a segunda estreia do musical, a primeira foi em Salvador, capital do estado onde se passa o enredo. A capital baiana é também o lar de boa parte da equipe, incluindo a protagonista Larissa Luz, que interpreta Bibiana.
“A gente tá chegando aqui em São Paulo, é a primeira cidade que a gente faz depois de Salvador e a gente tá na expectativa de saber como é que o público vai reagir, como é que vão soar as piadas que são tão regionais, se todo mundo vai entender, se vai rir, se vai se emocionar". Conta a atriz em entrevista ao programa Bem Viver desta terça-feira (19), véspera da estreia.
Embora se diga receosa sobre a regionalidade presente no roteiro, Luz comenta que a partir do ano que vem o espetáculo deve rodar o Brasil.
“Sim, a gente vai rodar. É um espetáculo que tem que passar por muitos lugares do Brasil, fala de pautas e coisas urgentes, infelizmente atuais, né?”
O espetáculo tem como diretor artístico e dramaturgo Elísio Lopes Jr. e a adaptação do livro teve apoio dos dramaturgos Fábio Espírito Santo e Aldri Anunciação. No total, conta com 22 profissionais em cena, sendo seis músicos e 16 atores. Bárbara Sut vive a irmã, Belonisia e a avô Donana é Lilian Valeska.
Torto Arado foi lançado em 2019 por Itamar Vieira Junior e conquistou uma série de prêmios, incluindo Jabuti e Oceano. A história se passa em uma região próxima à Chapada da Diamantina e tem como protagonistas duas irmãs, Bibiana e Belonísia, que enfrentam uma jornada que resume a concentração de terra no Brasil e a situação de trabalho análogo à escravidão ainda presente no país.
Este ano foi lançado a continuação da obra, Salvar o Fogo, finalista do prêmio Jabuti que anuncia os vencedores nesta terça-feira (19).
Antes de Torto Arado, Larissa Luz já havia participado dos musicais Ópera do Malandro, Gonzagão e também Elza. Este último segue muito presente na bagagem artística que ela apresenta, inclusive nesta adaptação da obra de Itamar Vieira.
“Hoje eu fazendo Bibiana, realmente, vejo que tem um monte de Elza ali também. Porque Elza era uma mulher transgressora. Uma mulher que revidava, uma mulher que levantava sua voz quando precisava, ela era revolucionária, a frente do seu tempo, ela era destemida ela tinha coragem de enfrentar o sistema”, lembra.
“E Bibiana é isso também. Bibiana também é uma mulher à frente do seu tempo. Ela também pensa no coletivo. Ela também é apaixonada, apesar de toda a dureza, de toda a brabeza, ela também ama e ama muito, assim como Elza”.
Na entrevista Larissa Luz também relata como teve contato, pela primeira vez, com a obra de Itamar Vieira, que foi apresentada pela mãe.
Confira a entrevista na íntegra
Como está a expectativa da estreia e São Paulo?
A gente tá chegando aqui em São Paulo, é a primeira cidade que a gente faz depois de Salvador e a gente tá na expectativa de saber como é que o público vai reagir, como é que a galera vai sentir, como é que vai bater nas pessoas, como é que vão soar as piadas que são tão regionais. Se todo mundo vai entender, se vai rir, se vai se emocionar.
Mas, ao mesmo tempo, independentemente de como as pessoas vão reagir, a gente tá numa vontade muito grande de mostrar, de apresentar para as pessoas daqui.
Esse trabalho que foi feito com tanto carinho, com tanto cuidado. E ser no dia 20 de novembro é muito especial, porque é um dia que fala sobre a consciência negra.
Essa história perpassa muito pela nossa ancestralidade, perpassa muito pela nossa história de uma maneira ampla.
São histórias de mulheres negras, mulheres que lutam pelos seus objetivos para vencer as demandas que atravessam, então é muito forte fazer no Dia da Consciência Negra.
E a ideia é rodar o Brasil com a peça?
Sim, a gente vai rodar. É um espetáculo que tem que passar por muitos lugares do Brasil, fala de pautas e coisas urgentes, infelizmente atuais, né?
Então, é importante a gente passar para outros lugares, e como você falou, o público já reagiu em Salvador, foi incrível.
Teve algumas adaptações da obra original certo? Agora, além das irmãs, a avô Donana é uma das protagonistas.
Sim. É difícil contemplar um livro com tantas nuances, com tanta profundidade. É difícil fazer um musical com duas horas e pouca que tenha tudo que tenha ali, né?
Então a direção fez uma adaptação, que eu achei que eles pegaram um caminho que me agradou muito, que é do protagonismo feminino, incluindo a avó como a segunda geração de vozes.
Elisio [Lopes] é um diretor que tem uma visão muito sensível, que enxerga para além. Eu gosto muito da visão dele das coisas e isso foi mais um acerto ao meu ver.
As mulheres protagonizam muitas revoluções e muitas vezes não são vistas, não são ditas, não são creditadas... por isso trazer as mulheres para o centro da história é uma grande reparação também. Uma forma de dar voz, de visibilizar, apesar da metáfora central ser falar do silêncio.
Como foi seu primeiro contato com o livro?
Quando esse livro surgiu, minha mãe foi uma das primeiras leitoras. Ela é professora de literatura e é muito fã do trabalho de Itamar.
E quando esse livro surgiu, quando ele estava aparecendo, ela foi uma das primeiras a ler e me falar dele. Me falou com muito entusiasmo da escrita, da história, de tudo que tinha ali dentro.
E ela insistiu muito para eu ler. "Vai, você tem que ler, você tem que ler, você tem que ler".
Foi o meu primeiro contato com o livro. Minha mãe, na época, ela estava voltando a pintar aquarela e ela fez um monte de aquarelas de cenas do livro. Mexeu com ela em um lugar muito profundo, e isso fez com que eu quisesse também adentrar aquele mundo. Foi muito bom conhecê-lo partindo do olhar dela.
Minha mãe é uma contadora de história, né? Ela conta histórias infantis, faz nas feiras, nas palestras, nos eventos e ela tem um jeito especial de cativar a gente e convidar a ler.
Ela fez isso a vida toda, então foi isso que ela fez comigo e funcionou muito bem. E aí a gente passou a ter um livro, um xodó da gente, e eu nunca tinha imaginado que iria um dia estar em cena vivendo uma das personagens.
Ela ficou muito feliz e eu fiquei feliz por estar realizando uma coisa que deixa ela feliz, sabe?
O quanto de Elza Soares você levou para Bibiana?
Pois é, a minha história com o musical já é longa. Eu fico feliz de poder dizer isso, que eu construí uma história dentro dos musicais brasileiros, né?
E eu tinha feito com um sobre Gonzagão, tinha feito a Ópera do Malandro, e aí apareceu o Elza.
Foi um desafio enorme, eu sabia que ela queria que a protagonista, ou as atrizes que fossem vive-lá, parecessem com ela. Eu via ela falando isso, aí eu me esforcei muito, estudei muito para poder me aproximar do que ela era, não só no trejeito, não só na forma, mas essencialmente.
Eu queria que ela se sentisse ali, representada. E era muito gratificante ouvir das pessoas o quão elas viram ela ali.
E cada espetáculo que eu fazia eu aprendia tanta coisa, emprestar o corpo para ser atravessado dessa forma, por uma história que fala de feminicídio, de racismo, de resiliência, de persistência, de cura, de dores das músicas, dores emocionais.
Cada dia eu me transformava um pouco.
Hoje eu fazendo Bibiana, realmente, vejo que tem um monte de Elza ali também. Porque Elza era uma mulher transgressora. Uma mulher que revidava, era uma mulher que levantava sua voz quando precisava, ela era revolucionária, à frente do seu tempo, ela era destemida, ela tinha coragem de enfrentar o sistema.
Tudo o que o mundo colocava na frente dele enquanto empecilho ela ia lá e se dispunha a vencer e vencia.
E Bibiana é isso também. Bibiana também é isso. Bibiana também é uma mulher à frente do seu tempo.
Ela também pensa no coletivo. Ela também é apaixonada, apesar de toda a dureza, de toda a brabeza, ela também ama e ama muito
Eu fico muito atenta para aprender com todas essas mulheres, personagens, personagens fictícias, personagens da vida real, que passam pela minha vida porque elas deixam muitas marcas positivas.
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Edição: Nathallia Fonseca