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Ato pelo fim da escala 6x1 e redução da jornada de trabalho na avenida Paulista, em São Paulo, no dia 15 de novembro - Beatriz Drague Ramos/Brasil de Fato
O projeto do fim da escala de trabalho 6 x 1 tomou as redes sociais e ganhou apoios

Olá, a esquerda demonstrou esta semana que está viva. Mas o fascismo também.

.Esse ano eu não morro. Antes que o milionésimo texto sobre a crise da esquerda e a rendição à hegemonia do centrão fosse escrito, o projeto do fim da escala de trabalho 6 x 1 tomou as redes sociais, ganhou o apoio de centrais sindicais e ministros, conseguindo o apoio de 221 parlamentares, mais do que o necessário para tramitar. A proposta nasceu do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que já havia reunido quase três milhões de assinaturas na internet, e impulsionou a eleição do vereador Rick Azevedo (Psol-RJ). Nas palavras da proponente na Câmara, a deputada Erika Hilton (Psol-SP), "a pauta mostrou que a esquerda está viva, organizada, com proposta de organização de um tema em torno do trabalho". Não que o projeto terá vida fácil no Congresso, como alerta Jorge Mizael, diante do bloqueio e desinteresse dos deputados, começando pelo atual e pelo futuro presidentes da casa, Arthur Lira e Hugo Motta. Porém, a pauta tem potencial de mobilização para a luta e para mexer com os trabalhadores também nas ruas, como escreve Igor Felipe. E como já havia acontecido com o PL do Estupro, a movimentação também soprou os ventos do Planalto para a esquerda. Inclusive para afrouxar a corda que apertava o pescoço do governo com o tema dos cortes para o ajuste fiscal. O próprio Lula sempre foi a maior barreira ao corte nas áreas sociais e foi pra ofensiva na linha "se é para cortar, é para todos". Até o então intocável Ministério da Defesa foi para a conta e Lula retomou o ímpeto de bater na Faria Lima, que afinal é quem consome parte dos recursos públicos na forma de juros, recolocando o tema da taxação dos super ricos. O gás foi suficiente para ignorar a pressão permanente do mercado financeiro e sinalizar que o assunto só volta à pauta depois do G20, o que também dá tempo para Fernando Haddad comprometer o Congresso com os ônus da proposta.

.RioCentro 2024. A melhor definição do atentado terrorista de 13 de novembro talvez tenha vindo da ministra Simone Tebet: "No ataque à democracia, os 'lobos' nunca são solitários. Há, sempre, um 'apito' a encorajá-los. O que aconteceu ontem na Praça dos Três Poderes foi mais um sinal de alerta de que, enquanto permanecerem esses 'apitos', a luta democrática não permite qualquer tipo de trégua". Por maiores que sejam os esforços da direita e do PL em tratar como um caso isolado, o terrorista era o puro suco de bolsonarismo: crente em fake news e teorias conspiratórias, discursos que misturavam religião e ataques de ódio ao PT e ao STF a ponto de deixar o anonimato das redes para se transformar em prática. Não há como não pensar no 8 de janeiro, mas também lembrar do assassino do tesoureiro do PT em Foz Iguaçu antes das eleições de 2022. Neste contexto, tem razão o ministro Alexandre de Moraes em apontar que o "apito dos cães" é o Gabinete do Ódio, montado pelo Clã Bolsonaro, que atuou antes, durante e depois da passagem da família pelo Planalto. Tem razão ainda quando diz que, neste cenário, não cabe nenhuma anistia aos que tentaram coletivamente em janeiro o que "o homem de bem", como definiu um deputado conterrâneo, tentou fazer sozinho. Mas, se por um lado, até os bolsonaristas jogaram a toalha sobre a anistia, por outro, o Judiciário ainda tem contas a acertar. Os processos da PF contra Bolsonaro ainda aguardam o Procurador Geral Paulo Gonet, assim como a investigação da PF sobre o 8 de janeiro, quase dois anos depois, ainda não foi concluída. A impunidade dos peixes grandes, alguns com quatro estrelas na farda, alimenta a ação dos peixinhos. Fica o alerta novamente também para o Planalto, não existe União e Reconstrução quando o outro lado está empenhado em eliminar o lado de cá.

.O fim da aventura humana na Terra. Pouco importa que 2024 seja o ano mais quente de toda história, batendo o recorde do ano passado, ou que o planeta possa alcançar a temperatura de 2,6ºC neste século, quase o dobro do estipulado há nove anos nos Acordos de Paris. O fato é que o negacionismo climático deixou de ser coisa de conspiracionista e se tornou política oficial de governos e empresas. Tanto que as emissões de carbono aumentaram 1,3% no ano passado. E, portanto, não se deve esperar nada de promissor da COP29, iniciada nesta semana no Azerbaijão, como se nota pela ausência dos líderes mundiais na Conferência, além da retirada da delegação argentina. O próprio presidente do país-sede abriu a conferência, proclamando que os hidrocarbonetos são "um presente de deus" e que nenhum país pode ser penalizado por colocá-los no mercado. Além disso, os negacionistas chegam impulsionados pela vitória de Donald Trump e das promessas de que os Estados Unidos não serão "reféns" dos acordos climáticos. Para mostrar que não está brincando, Trump anunciou a nomeação do deputado republicano Lee Zeldin como o novo administrador da Agência de Proteção Ambiental, com a missão de "desregulamentar as leis ambientais", um Ricardo Salles yankee. Para coroar a festa do aquecimento, um tribunal holandês decidiu, no mesmo dia da abertura da COP, que a gigante petroleira Shell não é obrigada a reduzir suas emissões de carbono, porque não haveria "acordo suficiente na ciência climática sobre uma porcentagem de redução específica". Mas como o mercado não perde a oportunidade, a única coisa que deve sair da COP é um acordo sobre o mercado global de crédito de carbono, costurado nos bastidores e sem transparência. O governo brasileiro até fez a lição de casa, registrando a maior queda nas emissões de gases de efeito estufa dos últimos 15 anos e anunciando sua meta climática de reduzir suas emissões entre 59% e 67% em 2035, ainda que discretamente, sem convocação da imprensa, nem evento oficial. Como prêmio, o ministro Fernando Haddad foi escolhido como um dos dez líderes do clima mais influentes nos negócios pela revista Times.

Ponto Final: nossas recomendações.

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Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

Edição: Nicolau Soares