Direitos Humanos

Movimentos negros pautam o primeiro dia de debates do G20 Social

Organizações discutem os impactos da fome sobre as populações negras e o racismo ambiental

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Atividades autogestionadas debateram o racismo ambiental e o combate à insegurança alimentar. - Priscila Ramos/MST

Entre as atividades autogestionadas que ocorrem no marco da Cúpula Social do G20, no Rio de Janeiro, o movimento negro organizou diversas atividades que pautaram o debate no primeiro dia de encontro, nesta quinta-feira (14).  

“Aqui no G20 Social, o movimento negro traz a bandeira do enfrentamento ao racismo ambiental, assim como a questão da fome e a segurança alimentar, já que é a população negra a que mais sofre com essas questões”, destacou o conselheiro nacional de segurança alimentar e coordenador dos agentes pastorais do Brasil, Edgard Moura, que citou as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no começo do ano como exemplo prático do racismo ambiental ao qual a população negra está submetida.  

“Se você pegar um exemplo muito clássico do que aconteceu no Rio Grande do Sul, quem mais sofreu foi a população negra. Todo mundo sofreu, mas quem mais sofreu? Os dados mostram. Quem ainda não voltou para suas casas? Quem ainda não recebeu os apoios da política pública? São as pessoas negras. E isso acontece em São Paulo, na Bahia, em qualquer lugar do mundo”, destacou.  

A estudante angolana Hulda Kalala saudou o espaço de debate no G20 Social como um espaço de troca de experiência entre as populações do mundo, submetidas à lógica desigual do capitalismo. “No caso aqui do Brasil, a gente vê a luta e a ocupação de espaços por quilombolas e indígenas. O mesmo também acontece nossos países”, destacou.  

“Eu acredito que o evento vem muito a contribuir com a unidade entre os povos, e também é um chamado aos jovens a ocuparem esses espaços, a tomarem consciência de que nós somos capazes de promover as transformações das quais precisamos. Então é muito positivo para nós. Para mim, principalmente, que é a primeira vez que eu participo no G20, tem sido uma grande experiência”, afirmou Kalala, que advogou ainda pelo fortalecimento dos vínculos entre os povos de África e América Latina. 

A Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) realizou uma atividade focada no debate sobre o combate à insegurança alimentar, que afeta sobretudo às populações negras e periféricas, como explica a representante da organização, Ivonete Carvalho.

“Nós temos um entendimento que a população negra brasileira é o setor da sociedade que está na base da pirâmide social e, portanto, mais discriminada e com o maior número de pessoas em situação de pobreza. As estatísticas estão aí para comprovar isso”, disse a ativista, que ainda destacou a importância dos espaços dedicados às formulações da sociedade civil.

“O fórum social vai possibilitar que a nossa voz seja ouvida. E para isso, a gente está aqui, promovendo uma convergência do movimento social, junto com as mulheres, com o povo do campo, com o MST, com a classe trabalhadora, e o movimento negro faz parte de tudo isso”, disse Carvalho. 

O G20 Social é uma iniciativa da presidência brasileira à frente do G20, e reúne movimentos populares e organizações da sociedade civil para debater propostas de ações sobre os temas do combate à fome, enfrentamento das mudanças climáticas e a reforma do sistema de governança global.

A Cúpula Social do G20 vai até o próximo sábado (16), quando deve ser apresentada uma carta com recomendações dos movimentos populares, que será encaminhada aos chefes de Estado na Cúpula de Líderes do bloco, marcada para os dias 18 e 19, segunda e terça-feira próximas.   

Edição: Martina Medina