Todos os números sobre os quais falamos são subestimados
Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revela que o consumo de bebidas alcoólicas pode gerar custos anuais que superam R$ 18,8 bilhões para o Brasil. A pesquisa aponta que, em 2019, somente o Sistema Único de Saúde (SUS) sofreu um impacto direto de R$ 1,1 bilhão por conta do consumo de álcool.
Ainda de acordo com o levantamento, os prejuízos indiretos para a economia somaram R$ 17,7 bilhões no mesmo ano. Eles englobam perda de produtividade por mortalidade prematura, licenças e aposentadorias precoces, além de dias de trabalho perdidos por internações e licenças médicas previdenciárias.
Em conversa com o podcast Repórter SUS, o autor do estudo e pesquisador da Fiocruz Brasília, Eduardo Nilson, afirmou que os valores levantados representam apenas uma parte dos prejuízos sociais e econômicos do consumo do álcool.
"Todos os números sobre os quais estamos falando são subestimados. É a ponta do iceberg dos custos. Os custos do SUS que nós estamos considerando são somente os custos federais, não incorporam todos os medicamentos e o custo da atenção primária. Também não vai trazer os custos da saúde suplementar, que são muito grandes".
Na entrevista, o pesquisador ressaltou também que há custos não dimensionáveis para a saúde da população e que não há níveis seguros de consumo da substância.
"Chamamos de custos intangíveis, porque são questões muitas vezes de saúde mental, de sofrimento, que afetam as famílias de pessoas que consomem em excesso, mas também que consomem com regularidade. Há outras questões associadas à doença e ao próprio consumo do álcool, que mostram o quanto esse problema é de saúde pública e deve ser considerado como um fator de risco extremamente relevante dentro das doenças crônicas."
Detalhes sobre os números
Dentro dos custos indiretos, a pesquisa aponta que os gastos previdenciários atingiram R$ 47,2 milhões em 2019, sendo 78% (R$ 37 milhões) relacionados a homens e 22% (R$ 10,2 milhões) a mulheres.
O estudo utilizou estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre mortes atribuíveis ao álcool. Em 2019, foram 104,8 mil óbitos dessa natureza no Brasil, o que equivale a uma média de 12 óbitos por hora.
Homens representaram 89% das vítimas. Quase metade dos casos decorreram de doenças cardiovasculares, acidentes e violências. Entre as mulheres, que correspondem a 14% dos óbitos, os malefícios do álcool levaram a doenças cardiovasculares e diversos tipos de câncer em mais de 60% dos casos.
"Só nesse modelo que desenvolvi [na pesquisa], são 24 doenças diferentes, desfechos de saúde diferentes associados ao consumo do álcool. Inclui doenças respiratórias, cânceres, cardiovasculares, doenças do aparelho digestivo, neurológicas, acidentes e violências. Até IST, as infecções sexualmente transmissíveis, têm relação. Há o risco estabelecido entre o consumo de álcool o sexo inseguro, por exemplo", alerta Eduardo Nilson.
*O Repórter SUS é uma parceria entre o Brasil de Fato e a escola Politécnica de saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz. Novos programas são lançados todas as semanas. Ouça aqui os episódios anteriores.
Edição: Thalita Pires