Eu recebi com muito espanto. Todo o processo é escandaloso.
Na última quarta-feira (6), o vereador Toninho Vespoli (Psol) viu ser aprovada na Câmara Municipal de São Paulo a abertura de um processo de cassação de seu mandato. Em entrevista à coluna, o parlamentar afirmou não ter dúvidas sobre a origem da medida.
"[Vem] da gestão [Ricardo] Nunes. Ele até ganhou a eleição, mas saiu desse processo fragilizado depois que mostramos o que sua gestão representa", afirmou Vespoli. O vereador é acusado de utilizar verba pública para a produção de material publicitário em apoio ao deputado federal Guilherme Boulos (Psol), que disputou a prefeitura de São Paulo contra Nunes. O material foi produzido ainda no período pré-eleitoral, o que configuraria campanha eleitoral antecipada, segundo a oposição.
O pedido de cassação foi feito pelo MDB, partido do prefeito Ricardo Nunes, e é de autoria do vereador Marlon Luz. A tramitação foi relâmpago. Protocolado no dia 1º de novembro, demorou apenas cinco dias para ser aprovado.
Vespoli alega que a cartilha produzida por seu mandato não pedia votos para Boulos e apenas reproduzia uma entrevista com o deputado federal em suas duas últimas páginas.
Confira a entrevista na íntegra:
Brasil de Fato: Toninho, como você recebeu a notícia do processo de cassação?
Toninho Vespoli: Eu recebi com muito espanto. Todo o processo é escandaloso. Primeiro porque quando tudo foi pautado, ainda antes do primeiro turno, ficou evidenciado que era uma retaliação ao pedido de impeachment do prefeito protocolado pela vereadora Elaine do Quilombo Periférico (Psol), mas passado o segundo turno tudo se mostrou como uma perseguição ao meu mandato e ao trabalho que tenho feito de fiscalizar e denunciar o Executivo. O parecer de cassação é repleto de falhas e lacunas, como por exemplo afirmar que sou reincidente, e no dia da votação, fica nítido o erro do vereador relator, Marlon Luz, que disse inverdades sobre o processo que ainda tramita no TRE e nem teve o valor de multa estipulado.
Vi algumas declarações de apoio que o senhor recebeu, de pessoas que classificam a medida como perseguição política. De quem seria essa perseguição na sua avaliação?
Da gestão Nunes. Nunes até ganhou a eleição, mas saiu desse processo fragilizado depois que mostramos o que sua gestão representa. A forma como esse processo está sendo conduzido, a pressa, os erros no relatório, vereadores que na Corregedoria votaram sim, mas alegaram que a pena imposta é muito mais dura do que deveria. Além disso, tem a minha atuação de fiscalizar e denunciar o Executivo, tem o fato de ter sido um dos coordenadores políticos da campanha do Boulos e ter feito diversas falas contra essa péssima gestão que temos na cidade. Está nítido de quem é a perseguição.
Como o prefeito pode ter manobrado por essa medida?
O Executivo tem muito poder de barganha. Para vocês terem uma ideia, as emendas parlamentares do Psol não foram liberadas, e a emenda é uma forma do prefeito ter vereadores em sua mão. Imagina um vereador que é da base e prometeu emenda para execução de uma praça ou um show, mas que não quer votar sim na minha cassação e é ameaçado pelo prefeito de não ter sua emenda liberada. Por mais que essa pessoa seja contra minha cassação, vai votar sim para poder ter a sua emenda liberada. E isso é o modus operandi da direita.
Edição: Nicolau Soares