A Venezuela se tornou, nos últimos dois meses, palco de congressos, painéis e grupos de debate para discutir o avanço da extrema direita no mundo. Mas se essa articulação era feita inicialmente por movimentos populares, o governo venezuelano começou nesta terça-feira (5) a mobilizar deputados e senadores de diferentes países para formar uma rede de esquerda nos diferentes congressos e parlamentos no mundo.
O Fórum Parlamentar Mundial Antifascista reuniu em Caracas congressistas de 53 países do mundo para iniciar uma articulação de legisladores de esquerda. O objetivo é iniciar uma agenda internacional de esquerda para enfrentar a extrema direita e organizar as pautas progressistas.
"Essa prática internacional de parlamentares de esquerda tem a possibilidade de estabelecer uma agenda a nível global e poder levar as nossas pautas para os nossos parlamentos. Com isso a gente sincroniza os temas prioritários para implementar as reformas necessárias e alcançar uma maior justiça social para conseguir superar esse problema endêmico de opressão dos capitais nacionais e estrangeiros", afirmou ao Brasil de Fato o deputado Edman Dubón do Liberdade e Renovação de Honduras.
Os congressistas se reuniram em mesas de trabalho para definir pautas prioritárias, estabelecer um calendário de debates e colocar as diretrizes dos grupos de esquerda em todo o mundo.
Ao final dos dois dias de discussão, os parlamentares reforçaram que, para o sucesso dessa iniciativa, é preciso que a articulação tenha como base o respeito ao multiculturalismo e o posicionamento enfático contra as sanções aplicadas por algumas economias ocidentais contra países que não estão no centro do sistemas capitalista.
Como medida principal foi criada a Rede Parlamentar Antifascista, que será um grupo de trabalho permanente encabeçado por congressistas de esquerda.
Para Maria Aguero, deputada do Peru Libre, a articulação entre legisladores e diferentes países era uma lacuna que na esquerda latino americana. De acordo com ela, não se trata só de um plano de ação, mas da troca de conhecimento e de diferentes experiências que enriquece a "luta dos agentes politicos".
"É um terreno muito fértil. Porque nós conhecemos os nossos próprios territórios, partidos, movimentos e grupos internamente, e aí acabamos focando mais nos problemas do que nas virtudes. E isso é diferente de quando conhecemos a mobilização de outros países e regiões. Aprendemos outros pensamentos, outras formações políticas, outros espaços de luta e isso inspira e soma método para as diferentes organizações. Os sonhos ficam maiores. Você se dá conta que o problema não é só seu, é de toda a humanidade", afirmou ao Brasil de Fato.
Desde as eleições venezuelanas de 28 de julho, que tiveram o presidente Nicolás Maduro como vencedor para um terceiro mandato, foram realizados dois Congressos Antifascistas no país. O Movimento foi uma resposta à oposição venezuelana, que não só contestou o resultado do pleito, como organizou atos violentos em todo o país.
Os últimos eventos, no entanto, reuniram movimentos e organizações populares. Dessa vez, a ideia foi mobilizar congressistas tinha como meta mexer na estrutura de poder dos países para conseguir mover as políticas locais à esquerda.
"Há uma diferença entre a união de movimentos sociais e parlamentares. Nós temos a tomada de decisão, enquanto os movimentos sociais têm a rua, a luta social, mas acabam não sendo atores imediatos para a tomada de decisões e, por isso, temos o dever de cumprir essa agenda", afirmou Dubón.
Venezuela na linha de frente
Maduro está envolvido diretamente nessa articulação. Ele não só convocou os eventos antifascistas, como discursou em todos eles. O mandatário quer colocar a Venezuela como polo das discussões e "liderança no combate à extrema direita. No Fórum Parlamentar não foi diferente. O presidente discursou na abertura e no encerramento e falou sobre o crescimento dos movimentos reacionários no mundo e citou o genocídio contra a Faixa de Gaza como um exemplo da expressão do fascismo no mundo.
"Historiadores ja calculam que só há comparação com o genocídio de Gaza o extermínio promovido por Hitler. É uma das violências mais profundas. Discutimos por que, quando e onde ressurgiram as correntes xenofobicas, extremistas e racistas. Esse encontro antifascista foi oportuno para discutir e colocar uma barreira no fascismo é no sionismo", afirmou Maduro.
A vice-presidente Delcy Rodríguez também esteve no fórum e colocou as sanções no centro das discussões. Segundo ela, o fascismo é uma expressão extremista para responder à uma crise do sistema capitalista no mundo e as sanções são uma face dessa política.
"Não podemos falar do fascismo sem entender que quando ele é expandido tem como objetivo tecer redes internacionais para responder a uma crise do sistema capitalista. Hoje há 31.277 medidas coercitivas contra povos do mundo, com uma política de extermínio aos povos. 91% dos países sancionados são produtores de energia: Rússia, Irã, Síria, Iraque e Venezuela. Ali estão as maiores reservas de petróleo do planeta. O objetivo é se apoderar dos produtores de energia", afirmou Delcy.
Ela falou também sobre os governos do Sul Global que se aliam a uma agenda imperialista que "buscam afetar os projetos que colocam uma alternativa ao capitalismo". Sem citar o Brasil, Delcy Rodríguez falou sobre o veto à entrada da Venezuela no Brics e disse que o país é usado como um "cavalo de troia" dos Estados Unidos contra um "novo mundo que se está configurando".
Edição: Rodrigo Durão Coelho