As eleições municipais terminaram em outubro e o saldo político nacional foi o crescimento da centro-direita e da direita em todo o país. O Partido Social Democrático (PSD) foi a agremiação que mais elegeu prefeitos, seguida pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
No estado do Rio de Janeiro, o Partido Liberal (PL) obteve o maior número de prefeituras. Ao todo, 22 municípios fluminenses estão sob o comando do partido de Jair Bolsonaro. Já o PSD, que conseguiu expressividade no cenário nacional, obteve um resultado diferente no Rio de Janeiro: o partido conquistou três prefeituras. A principal vitória da agremiação de Gilberto Kassab foi na capital fluminense com a reeleição, em primeiro turno, de Eduardo Paes. O MDB, por sua vez, elegeu Luiz Fernando Pezão em Piraí, no sul fluminense, mas ficou atrás do União Brasil e do Partido Progressista (PP), segunda sigla com mais prefeitos eleitos.
Por sua vez, o campo progressista conquistou quatro municípios. O Partido dos Trabalhadores (PT) elegeu três prefeitos na região metropolitana: Washington Quaquá em Maricá; Andrezinho Ceciliano em Paracambi e Fernanda Ontiveros em Japeri. Já o Partido Democrático Trabalhista (PDT) venceu o segundo turno em Niterói com Rodrigo Neves.
Diante deste cenário, o Brasil de Fato conversou com João Feres, professor titular de Ciência Política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), sobre o balanço eleitoral no estado do Rio e na capital e os desafios para o campo progressista.
Confira a entrevista:
Brasil de Fato: No estado do Rio de Janeiro, o PSD, partido que mais conquistou municípios no país, obteve apenas três prefeituras. O PL foi a agremiação com mais prefeitos eleitos. Ao todo, 22 municípios serão comandados pela sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro. Qual a radiografia que esta eleição municipal apresenta sobre o estado do Rio de Janeiro? Houve alguma surpresa com o resultado?
João Feres: Acho que não houve surpresa no resultado, pois a base eleitoral da família Bolsonaro é hoje o estado do Rio de Janeiro, ainda que ela tenha tentáculos em outros estados. É compreensível que o PL e Bolsonaro tenham se esforçado mais para conseguir vitórias eleitorais por aqui.
Ademais, isso se somou ao fato de o PL já ter 10 prefeituras eleitas em 2020, ou seja, partiu de um patamar alto. Mas houve, na verdade, uma tendência bastante conservadora nas eleições municipais fluminenses e brasileiras. Os partidos com mais prefeituras tenderam a manter ou aumentar seu número, com a exceção do Podemos, que caiu de 13 para 1.
A esquerda e a centro-esquerda seguem minoritárias no estado do Rio. O PT conquistou três prefeituras (Maricá, Paracambi e Japeri) e o PDT apenas a cidade de Niterói. Na sua avaliação, qual o desafio para o campo progressista no Rio de Janeiro?
São muitos. Em uma lista não necessariamente hierárquica posso nomear: falta de tradição e estrutura do PT, o maior partido de esquerda do país, no estado e na cidade do Rio de Janeiro; incapacidade do Psol, o mais relevante partido da esquerda carioca no presente, de ganhar simpatizantes nas periferias da região metropolitana do Rio de Janeiro e no interior do estado; o derretimento e “endireitamento” do PDT, partido tradicionalmente forte no Rio de Janeiro; a ocupação do centro do espectro político pela figura de Eduardo Paes, que é oriundo da centro-direita; e, por fim, a disseminação entre certas elites da esquerda carioca e fluminense de um sentimento antipetista oriundo de sua filiação pretérita ao Partido Comunista, a meu ver, mobilizado pela inveja e pelo despeito.
Na capital fluminense, a Câmara Municipal terá uma renovação de 45% das 51 cadeiras. Ao todo, 23 novos vereadores irão compor a Casa Legislativa a partir de 2025. O que os cariocas podem esperar desta próxima legislatura, que tem o PSD, partido do prefeito reeleito Eduardo Paes, com a maior bancada da Casa?
Acho que Eduardo Paes e o PSD conseguiram uma vitória muito significativa na Câmara Municipal. Podemos esperar uma Câmara bastante sintonizada com o prefeito, ou seja, uma chance de ouro para ele tocar seus projetos de maneira mais rápida e desimpedida.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Vivian Virissimo