EDUCAÇÃO camponesa

Escola do campo de Candói (PR) enfrenta ameaça de fechamento após decisão da prefeitura

Localizada na comunidade Rio Novo, a escola é essencial para famílias, mas prefeitura alega inviabilidade financeira

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Fechamento da escola pode impactar a vida de toda a comunidade de Rio Novo, em Candói (PR). - Foto: Arquivo Pessoal

A Escola Municipal do Campo Miguel Martim, localizada na comunidade Rio Novo, em Candói, na região central do Paraná, enfrenta ameaça de fechamento. A decisão da prefeitura tem preocupado os moradores, que dependem da escola para a educação básica das crianças da comunidade. Com 16 alunos, a instituição opera no modelo de multiano, no qual uma mesma sala atende estudantes de diferentes séries.

Apesar de uma reunião com os pais e responsáveis, na qual a maioria manifestou desejo de manter a escola ativa, a administração municipal segue defendendo o encerramento das atividades. O prefeito argumenta que o custo de manutenção é elevado em relação ao repasse do Ministério da Educação (MEC) e orientou os pais a buscarem outras instituições nas cidades vizinhas. "O motivo é a pouca quantidade de alunos, o prefeito alega que sai muito caro manter a escola com poucas crianças", afirmou Ivone Miss Mila, vice-presidente da associação de pais da escola.

A escola, no entanto, está em perfeito estado, equipada para fornecer uma educação de qualidade. Ela conta com parquinho, pátio e até uma horta cuidada pela comunidade. "Os pais sempre cuidaram da escola. O pátio foi fechado com recursos da associação de pais; cobriram o espaço de areia para as crianças brincarem, e as salas são amplas. É uma pena fechar", lamenta Ivone.


A escola possui um parquinho em perfeito estado para as crianças. / Foto: Arquivo Pessoal

Ivone é mãe de José Miguel, 6, aluno com Síndrome de Down. Para ela, a proximidade da escola com sua casa é um fator essencial, especialmente em caso de imprevistos com o filho. Ivone também destaca a dificuldade que ele poderia ter em se adaptar a uma nova instituição. "Foi uma luta para ele se adaptar na Apae, depois na escola regular, e se for transferido novamente vai ser muito difícil, começando pelo transporte, depois pela sala de aula lotada. Meu filho tem ouvidos sensíveis e dificuldades com ambientes cheios, enfim, vai ser um transtorno", comenta.


José Miguel pode estudar perto de casa e se adaptou bem à escola. / Foto: Arquivo Pessoal

A Articulação Paranaense por uma Educação do Campo (Apec) está auxiliando a comunidade na luta pela manutenção da escola. Segundo André de Souza Fedel, coordenador da articulação, o grupo está orientando os moradores sobre como se organizar para fazer valer seu direito à educação e oferecendo apoio com base nas normativas e arcabouço jurídico que asseguram o direito das famílias rurais à educação. 

"O município precisa comunicar e consultar a comunidade sobre o fechamento com argumentos bem fundamentados; ultimamente, sabemos que o argumento repousa apenas na quantidade de alunos, e isso não tem respaldo jurídico. Existem muitas escolas que fazem um trabalho belíssimo com poucos alunos”, afirma. “A educação no campo é um direito, um bem comum, e não deve ser transformada em mercadoria no discurso do gasto monetário e da quantidade de alunos", diz Fedel.

A possível transferência das crianças para escolas mais distantes preocupa as famílias, que temem os impactos na rotina e no desenvolvimento dos estudantes. "Os pais estão desanimados, não acreditam que é possível vencer essa luta, e eu também já estou cansada", afirma Ivone, que acompanha as discussões sobre o possível fechamento. Ela também relembra que, há cerca de oito anos, uma tentativa semelhante de fechamento foi interrompida sem explicações claras.

Apesar da votação contrária ao fechamento, ainda não há uma mobilização ativa dos moradores para reverter a decisão. A prefeitura não formalizou o pedido de encerramento das atividades da escola, comunicando a decisão apenas verbalmente à diretora, que repassou a informação às famílias durante a reunião.

A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a prefeitura de Candói para obter esclarecimentos sobre as motivações da decisão, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Ana Carolina Caldas