Nesta sexta-feira (1º), a Fundação Rosa Luxemburgo realizará em Fortaleza, o seminário "Territórios em Disputa: Transição Energética e Mulheres em Defesa do Território-Corpo-Terra". Com objetivo de difundir análises sobre o avanço de projetos de energia e mineração no Ceará, no contexto da chamada transição energética, e as implicações e resistências de mulheres de diversas comunidades, o evento resulta de um processo de parceria entre a fundação e o Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) que envolveu pesquisa, ensino e extensão.
A coordenadora latinoamericana do Programa Clima e Energia, da Fundação Rosa Luxemburgo, Elisangela Soldateli Paim, afirma que o seminário é fruto do trabalho de pelo menos cinco anos entre a Fundação e o CPDA, e destaca que além da realização do seminário, outros cursos de extensão e atividades de formação política a campo também foram realizados, colocando no centro do debate o avanço do capitalismo extrativista, as estratégias de dominação e as suas implicações sobre os territórios atingidos.
Soldateli, que é também co-organizadora do livro Mulheres em Defesa do Território-Corpo-Terra-Águas, aponta ainda que os diversos espaços realizados frutos dessa parceria, foram também construídos em conjunto com diversas organizações territoriais e sociais, e destaca o trabalho em conjunto com o Instituto Terramar, Na Terra, Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra do Ceará (MST-CE), e o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC). "Todo esse trabalho é pensado, planejado e realizado para promover um intercâmbio de conhecimento, saberes e principalmente de ações políticas que priorize os enfoques de gênero, raça e classe, eixos fundamentais do nosso trabalho, e das organizações mencionadas anteriormente", conclui.
Já Camila Dutra, professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), coorganizadora do seminário, e coautora do livro lançado durante o evento, ressalta que o principal objetivo do espaço é difundir a análise sobre o avanço de projetos de energia e de mineração no Ceará, em um contexto do que tem sido chamado de transição energética. "O interesse desse evento também é discutir sobre as implicações e as resistência de mulheres e nas diversas comunidades onde esses tipos de empreendimentos se instalaram ou estão previstos para receber a instalação, sendo o corpo dessas mulheres os maiores atingidos, pelos impactos sociais e ambientais que vão derivar destas instalações".
Camila garante ainda que o evento ocupa um patamar de importância legítimo, uma vez que o estado tem projetos minerários e de energia renováveis cada vez mais avançados, recebendo apoio dos governos municipais, do governo estadual e federal, atingindo comunidades e povos tradicionais. "Nós temos acompanhado relatos de muitos territórios, principalmente dos povos de comunidades tradicionais que têm presenciado inúmeros impactos sociais e ambientais, a partir da instalação desses empreendimentos", finaliza.
Com foco nos impactos ambientais e sociais das políticas de transição energética no Brasil, especialmente no Nordeste, o evento conta com participação virtual de Silvia Federici, intelectual militante de tradição feminista marxista autônoma e autora dos livros Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva, O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista e Reencantando o mundo: feminismo e a política dos comuns.
O evento tem como público-alvo discentes e docentes da Uuce, da UFC e representantes de organizações e movimentos sociais, além de órgãos do estado e professores do ensino público, e deve discutir um modelo de transição energética mais justo, que considere não apenas a redução das emissões de carbono, mas também a preservação dos territórios e dos modos de vida tradicionais, principalmente das mulheres que lideram essas lutas no Nordeste.
O evento acontece no Auditório Paulo Petrola, na Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus do Itaperi, Fortaleza, Ceará. As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas no site oficial da UECE.
Programação completa:
Mesa 1: "Territórios em Disputa: Transição Energética ou Novas Fronteiras de Expropriação"
- 09:00 - 09:10 Abertura: Camila Dutra (Naterra, Lecante, UECE)
- 09:10 - 09:30 Apresentação da pesquisa "Em nome do clima: transição energética e financeirização da natureza" - Elisangela Paim (Fundação Rosa Luxemburgo) e Fabrina Furtado (Coletivo/CPDA/UFRRJ)
- 09:30 - 09:50 Uma Análise do Setor Eólico no Estado do Ceará – Júlio Holanda (pesquisador especializado em transição energética)
- 09:50 - 10:10 Intervalo
- 10:10 - 10:30 Transição ou Reconfiguração: o nordeste mineral e as tramas da descarbonização – Pedro Leão (CPDA)
- 10:30 - 10:50 Geopolítica do Subsolo: Minerais Estratégicos e Transição Energética – Pedro D’Andrea (MAM)
- 10:50 - 12:30 Debate
Mesa 2: Lançamento do Livro "Mulheres em Defesa do Território-Corpo-Terra-Águas"
- 15:00 - 18:00
Palavras iniciais: Camila Dutra (Naterra, Lecante, UECE); Elisangela Paim (Fundação Rosa Luxemburgo); Fabrina Furtado (Coletivo/CPDA/UFRRJ)
Autoras Convidadas: Cleomar Ribeiro da Rocha (Território Quilombola do Cumbe), Cristiane Faustino (Instituto Terramar), Josimeire Lemos (MST), Ana Paula Pereira Sousa (MST), Rafaela Lopes de Sousa (Doutoranda em Geografia na UECE), Silvia Federici (participação virtual)
Mediação: Katarine Flor (Fundação Rosa Luxemburgo)
Livro Mulheres em Defesa do Território, Corpo, Terra, Águas
Organizado por Elisangela S. Paim e Fabrina P. Furtado, Mulheres em Defesa do Território, Corpo, Terra, Águas traz à tona as vozes de mulheres que lideram a defesa de seus territórios e corpos contra o avanço destrutivo do agronegócio, da mineração e de outros projetos capitalistas. As autoras, junto a outras colaboradoras, conectam as lutas feministas à preservação ambiental, enfatizando como a exploração da terra reflete e intensifica as violências contra os corpos das mulheres.
Com prefácio escrito por Silvia Federici, a obra destaca a importância das lutas das mulheres pela preservação da terra, das águas e dos recursos naturais. Federici enfatiza que o capitalismo extrativista representa uma ameaça crescente às comunidades tradicionais e que a resistência feminina é essencial para a proteção dos bens comuns e para a preservação da vida em todas as suas formas.
Publicado pela Fundação Rosa Luxemburgo e Editora Funilaria, a obra é fundamental para compreender a interseção entre feminismo, justiça ambiental e os direitos dos povos tradicionais. A obra completa pode ser acessada através do site oficial da Fundação Rosa Luxemburgo Brasil e Paraguai.
O seminário é uma realização da Fundação Rosa Luxemburgo; do Coletivo de Pesquisa Desigualdade Ambiental, Economia e Política e Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); do Grupo de Pesquisa Campo, Terra e Território (Naterra) e Laboratório de Estudos do Campo, Natureza e Território (Lecante) da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e do Instituto Terramar/CE.
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Fonte: BdF Ceará
Edição: Camila Garcia