Moradores de Santa Bárbara e Barão de Cocais, municípios da região central de Minas Gerais, viveram momentos agonizantes, na tarde desta terça-feira (29), com sirenes da barragem Córrego do Sítio II, da mineradora AngloGold Ashanti, acionadas de forma equivocada. Essa é sexta vez, desde 2019, que a empresa causa pânico na população sem necessidade real.
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"Atenção, atenção, situação de emergência", ecoou a sirene. "Atenção, atenção, essa é uma situação real de emergência de rompimento de barragem", continuou a voz.
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Em nota, o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) afirmou que a empresa age de maneira irresponsável, levando desespero, caos e medo para as pessoas.
"São vários os relatos de idosos que se acidentaram e crianças em pânico devido ao acionamento da sirene", diz o documento.
Em um vídeo divulgado pelas comunidades, é possível ouvir crianças chorando, pedindo aos seus familiares que buscassem seus pertences e bichos de estimação, algo que, pela necessidade de evacuação rápida das residências, não foi possível realizar.
"Já passou da hora da empresa ser responsabilizada por esses crimes", reivindicou, por meio de suas redes sociais, Luiz Paulo Siqueira, biólogo e coordenador nacional do MAM.
Roseni Aparecida Ambrosio, moradora de Santa Bárbara e militante do MAM, também reforça que a comunidade não tem sido assegurada em seus direitos.
"Nós temos acamados, cardíacos, crianças, pessoas em situação de vulnerabilidade, que, mais uma vez, não foram assistidos nem pelo poder público e nem pela empresa. É uma insatisfação muito grande, é uma falta de humanidade muito grande, é uma falta de respeito muito grande", afirma.
Inquérito na justiça
O acionamento mais grave e de maior impacto na região foi em 8 de janeiro de 2021, um dia chuvoso em que as sirenes foram acionadas duas vezes, levando as pessoas ao desespero, correndo de suas casas, resgatando parentes no esforço de garantir a sobrevivência.
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Desde então, segundo o MAM, as comunidades acionaram o Ministério Público (MP), que instaurou um inquérito investigativo. Após a medida, uma mesa de negociação foi criada com a AngloGold para acordar medidas de reparação aos danos causados.
No entanto, apesar do esforço do MP e das comunidades, segundo o MAM, a empresa foi negligente e se recusou a chegar no acordo, o que levou, então, o MP a entrar com uma ação civil pública condenando a mineradora e exigindo as medidas para reparação dos danos.
"As comunidades convivem com a ampliação do medo dessa barragem se romper devido a vários fatores, seja pela ocorrência de trincas na estrutura, pela sua proximidade das casas e pelos sistemáticos acionamentos criminosos das sirenes. Essa situação leva a um grau de fragilidade na saúde mental e adoecimento das comunidades, como atesta estudo realizado recentemente pela Fiocruz a pedido do Ministério Público Estadual", reitera o MAM, em nota.
Relembre
Em maio de 2023, foi encontrada uma trinca de mais de 300 metros de comprimento e aproximadamente dois centímetros de largura. À época, a barragem ficou em situação de emergência e os atingidos, em alerta.
Em outubro de 2022, a estrutura, que abrigava um volume de rejeitos semelhante ao da barragem da Vale que rompeu em 2019, em Brumadinho (MG), foi classificada como nível 1 de alerta, após o surgimento de uma trinca com 12 centímetros de largura e 60 metros de comprimento.
Outro lado
O Brasil de Fato MG entrou em contato com a mineradora e aguarda respostas. A reportagem será atualizada quando houver posicionamento.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Ana Carolina Vasconcelos