COP Biodiversidade

Líderes se reúnem na COP16 para tentar destravar acordos ambientais e Petro critica 'falta de ações'

Para presidente colombiano, são necessárias políticas imediatas para desacelerar o que chamou de 'início da extinção'

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Gustavo Petro falou na abertura da rodada de discursos de chefes de Estado na COP16 - Luis ACOSTA / AFP

Chefes de Estado se reúnem a partir desta terça-feira (29) em Cali, na Colômbia, para discutir projetos de proteção ao meio ambiente e para participar da rodada de discursos da COP16. O responsável pela abertura dessa nova rodada de declarações foi o presidente da Colômbia, Gustavo Petro. Em seu discurso, ele criticou a falta de ações para evitar a extinção de espécies e afirmou que as decisões devem ser tomadas com o povo nas ruas.

"A intermediação burocrática só tem a ver com uma razão: que os interesses de lucro possam predominar diante das vozes da humanidade, e é o lucro que orienta o que fazer com questões como a crise climática e a morte da biodiversidade. Queríamos que o povo tomasse a COP16. São as pessoas que têm que tomar as decisões sobre a vida, sobre a espécie humana", afirmou na abertura da rodada de discursos.

De acordo com ele, essa edição da Conferência das Partes pode ser um ponto de virada nas ações dos governos para defender o meio ambiente e construir uma "sociedade mais significativa". Ele voltou a cobrar políticas imediatas para desacelerar o que chamou de "início da extinção". Petro destacou que as medidas devem ser tomadas e reguladas pelo poder público, para que não sejam envolvidos interesses do mercado.

Outro tópico que já é recorrente nos discursos do colombiano e voltou a ser abordado por Petro é o uso de combustíveis fósseis. De acordo com o colombiano, a COP do Clima quase não fala sobre o uso do petróleo. Ele questionou também o fato de empresas petroleiras patrocinarem a Conferência das Partes da ONU. Ele cobrou que os próximos eventos sejam realizados em países que não são predominantemente petroleiros.

"Não nego que essas discussões possam ser feitas em países petroleiros. Mas por que com tanta insistência? Agora começamos a discutir em países da biodiversidade, como Colômbia e Brasil. Isso deve ser definitivo", disse.

Petro também criticou as sanções, especialmente contra a Venezuela. De acordo com ele, os Estados Unidos acabam encarando o resultado do bloqueio contra os venezuelanos.

"Venezuela bloqueada hoje, uma parte da sociedade literalmente morrendo de fome. Três milhões de venezuelanos passaram por aqui e agora vão para os Estados Unidos, que foi quem idealizou o bloqueio da Venezuela, vítima de sua própria invenção", disse.

O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, também participou da COP16 nesta terça e reforçou o compromisso de promover ações para dar uma "chance à humanidade e à vida". Segundo ele, enquanto as sociedades estiverem inseridas em um sistema capitalista, será difícil encontrar alternativas que sejam efetivas contra as mudanças climáticas.

"Temos a certeza de que é necessário iniciar um processo de transformação, não é um processo de otimização, não é melhorar o que já existe, porque já foi demonstrado que o que existe nos leva diretamente à extinção da humanidade", afirmou.

ONU fala em “crise existencial”

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também discursou e afirmou que os países precisam sair da "crise existencial". De acordo com ele, essa crise envolve o despejo de um caminhão de resíduos plásticos por minuto nos oceanos, rios e lagos. Ele destacou que a crise ambiental afeta a todos os países.

"Nenhum país, rico ou pobre, está imune à devastação causada pela mudança climática, pela perda de biodiversidade, pela degradação dos solos e pela poluição", afirmou Guterres.

Ele cobrou também que os governos ampliem as ações para cumprir os acordos internacionais de proteção ao meio ambiente. Para isso, é importante a apresentação de "planos de proteção da biodiversidade e ferramentas para o monitoramento de ações de degradação de áreas verdes".

Líderes de 196 países estão reunidos na COP para encontrar saídas para financiar o Fundo Quadro Global para a Biodiversidade (GBFF). O fundo foi criado na COP15, realizada em Montreal, no Canadá, em 2022, e tinha 23 metas para tentar "conter e reverter a perda de biodiversidade até 2030". O objetivo estabelecido foi proteger ao menos 30% dos ecossistemas terrestres e aquáticos até 2030.

Os países se comprometeram a contribuir com 250 milhões de dólares para o fundo. A ideia é que os governos conseguissem arrecadar, juntos, 200 bilhões de dólares por ano até 2030 para ações voltadas à biodiversidade, sendo 20 bilhões só dos países do Norte Global até 2025, que seriam voltados aos países do Sul.

Essas metas, no entanto, não foram cumpridas e os governos têm até 1º de novembro, no encerramento da COP16, para apresentar soluções.

A COP16 é a Conferência das Partes organizada pela ONU com foco na Biodiversidade. Participam desse evento os países que são signatários da Convenção da Biodiversidade. A diferença com a COP das Mudanças Climáticas, bem mais conhecida, é que nessa última participam os países signatários do acordo de mudanças climáticas da ONU.

Edição: Nicolau Soares