Eleições 2024

Lúdio Cabral, um petista no ninho bolsonarista

Candidato à prefeitura de Cuiabá, médico filiado ao PT foi a surpresa no segundo turno e pode vencer a eleição

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Lúdio Cabral em discurso na Assembleia Legislativa do Mato Grosso - Foto: Marcos Lopes/ALMT

Cuiabá (MT) foi a quarta capital que mais votou, proporcionalmente, no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais de 2022. Ao todo, 61,5% dos cuiabanos escolheram o candidato da extrema direita para governar o país.

É justamente neste município absolutamente bolsonarista que Lúdio Cabral (PT) desponta como candidatura competitiva no segundo turno, contra Abílio Brunini (PL), exótico deputado federal bolsonarista, reconhecido em Brasília por episódios de machismo e transfobia.

Aos 53 anos, o médico sanitarista Lúdio Cabral tem longa trajetória na esquerda cuiabana. Filiado ao PT desde 1996, ele foi eleito vereador de Cuiabá em 2004, mandato renovado em 2008.

Em 2012, foi candidato à prefeitura cuiabana e perdeu no segundo turno. Dois anos depois foi candidato ao governo do Mato Grosso e perdeu, também no segundo turno.

Já em 2018, decidiu ser candidato a deputado estadual e foi eleito com 22.701 votos. Quatro anos depois, em 2022, foi reeleito com mais de 47.533 votos.

Neste ano, tem adotado um discurso moderado para tornar sua candidatura competitiva em um município conservador. Em seu programa eleitoral do dia 11 de outubro, explicou suas posições nas chamadas pautas de costumes.

"Sou médico, fiz um juramento de proteger a vida, desde a concepção (...), eu sou pai de cinco filhos, eu quero os meus filhos e os filhos de todas as famílias de Cuiabá protegidos contra a droga, portanto eu sou contra a liberação (...), sou contra esse debate de ideologia de gênero nas escolas, linguagem neutra nas escolas (...), deixei isso claro ao meu partido, e aos partidos que me apoiam, a minha posição", disse Cabral.

As declarações incomodaram petistas de diversas partes do país. O cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), explica que o contexto cuiabano exige manobras.

"Pensar que no segundo turno há um candidato petista no terreno bolsonarista é muito importante. O PT aprendeu que uma coisa é a disputa pela presidência, outra é a disputa em cidades, o discurso e a campanha são outros. É uma eleição difícil, mas não impossível de ser vencida pelos petistas", explica.

Na última terça-feira (22), a AtlasIntel mostrou Brunini à frente, com 52,6% das intenções de voto. Cabral aparece com 45,7%. Na comparação com a pesquisa anterior, divulgada no último dia 14, ambos oscilaram dentro da margem de erro, que é de três pontos percentuais. O bolsonarista tinha 52% e o petista 46%.

No dia seguinte, quarta-feira (23), pesquisa do Instituto Percent aponta que Lúdio tem 53,2% dos votos válidos, enquanto Abílio aparece com 46,8%.

Ramirez destaca que Cuiabá é "um dos berços do bolsonarismo e da extrema-direita". "A base econômica reflete muito na mentalidade e no controle midiático que as elites fazem sobre a preferência dos eleitores. Mas o fato do PT chegar ao segundo turno é uma demonstração de força do partido", finaliza.

Edição: Nicolau Soares