A privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) foi um dos temas de destaque no debate promovido pela rede Record e o jornal Estadão, que reuniu os candidatos Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (Psol). Os dois postulantes à prefeitura tiveram posições opostas na questão.
Ricardo Nunes, que tem o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como um de seus principais apoiadores, defendeu a venda da empresa. "A questão da privatização da Sabesp nos garante a universalização do saneamento ainda até 2029. Nós teremos toda a cidade de São Paulo com rede de esgoto coletada, tratada e com fornecimento de água", disse Nunes, que também colocou sua base na Câmara de Vereadores de Sâo Paulo para apoiar a venda da empresa. O prefeito destacou ainda que serão R$ 68 bilhões de investimento no estado.
Boulos se colocou contra a privatização, alertando para os riscos à população. "Esse mesmo discurso que o Ricardo Nunes fez aqui sobre a privatização da Sabesp, os aliados dele faziam quando foi privatizada a Eletropaulo e a Enel tomou conta. A avaliação deles é que, quando privatiza, melhora, resolve tudo. Nós estamos vendo o que está acontecendo", disse o candidato do Psol. "E vou dar um alerta pra vocês: a Sabesp pode virar a Enel da água. Pela coisa absurda, irresponsável que o Ricardo Nunes fez junto com o Tarcísio, de entregar ela de qualquer jeito. Imagina, se falta luz e já está sendo esse sacrifício, imagina faltando água. Aí depois, quando dá o problema, ele vai vestir coletinho para dizer que está trabalhando."
Prejuízo
Boulos já havia criticado a venda da Sabesp em outros momentos. Em sabatina ao Brasil de Fato, em 4 de setembro, Boulos definiu como um "escândalo" a privatização empresa sem consulta pública, mas admitiu que o prefeito não tem poder de reverter o processo, que só pode ser revisto por vias judiciais.
A privatização da Sabesp foi concluída em 22 de julho, com a venda de ações da empresa. O governo de São Paulo detinha 50,5% das ações da Sabesp e passará a ter 18%.
Os 32% restantes foram vendidos de duas formas. A empresa Equatorial foi a única interessada em se tornar o acionista de referência da Sabesp. Comprou 15% das ações da empresa oferecendo os R$ 67 por ação.
O valor arrecadado foi de R$ 14,8 bilhões, o que significou uma perda de R$ 4,5 bilhões aos cofres estaduais.
A conta considera o valor pelo qual as ações da companhia de água e esgoto foram vendidas na privatização, recém-concluída, e a cotação do papel na bolsa no dia da venda. Na privatização, as ações da Sabesp foram vendidas a R$ 67 cada uma. Naquele momento, na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, essa mesma ação valia R$ 87.
De acordo um estudo do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) encaminhado ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), a perda pode ser ainda maior. Nas contas do sindicato, cada ação da Sabesp valia à época R$ 103,90. Considerando esse preço, o governo paulista abriu mão de cerca de R$ 8 bilhões ao vendê-las por R$ 67.
Edição: Thalita Pires