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Até dezembro, a Selic deverá estar em 11,75%
Até dezembro, a Selic deverá estar em 11,75% - Agência Brasil
É simbólico que os argumentos da Faria Lima sejam repetidos pela própria equipe do governo

Olá,
Até que as eleições terminem, o governo e o Congresso jogam parados e só quem se movimenta são os banqueiros.

.A hora da facada. Não foi só o centrão que venceu em 2024. Faltando pouco mais de dois meses para o final do ano, o mercado financeiro pode celebrar não só que interrompeu a queda da taxa de juros, mas também conseguiu inverter o movimento e agora conta que, até dezembro, a Selic deverá estar em 11,75%. É simbólico ainda que os argumentos da Faria Lima sejam repetidos pela própria equipe econômica do governo, como Simone Tebet que afirma que o tempo de ajuste da receita acabou e agora é a hora de mexer na despesa. Em outras palavras, cortar nos investimentos sociais. Não que o governo vá realizar o sonho do mercado expresso pelo ex-ministro Mailson da Nóbrega de desvincular a aposentadoria do salário mínimo. Mas o pacote em discussão é suficientemente indigesto, mexendo no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e no Seguro-Desemprego. Há ainda a possibilidade mexer em supersalários do funcionalismo público, especialmente do Judiciário, e há quem nutra a ilusão de que o governo poderia comprar a briga de mexer na aposentadoria dos militares. Mas quem acredita? Mesmo insuficiente para o apetite do mercado, a iniciativa foi saudada pelos banqueiros juntamente com as tradicionais declarações de compromisso do governo com o arcabouço fiscal. Mas, vale perguntar se com sinais de desaceleração da economiaíndices de aprovação oscilando e dificuldades de implementar políticas públicas - como recursos para combater as queimadas e adiando o programa Gás para Todos - os cortes de investimentos são mesmo a melhor a ideia ou a única alternativa para encerrar o segundo ano do governo. Ou ainda, como pergunta Valter Pomar, por que anunciar isso antes de um segundo turno de eleições desfavoráveis? E por que diabos dar esta tarefa a um potencial presidenciável petista como Fernando Haddad?

.A culpa é das árvores. O que a bancada ruralista e a prefeitura de São Paulo têm em comum? Os dois põem a culpa nas condições naturais ou no governo federal. Os ruralistas aproveitaram a presença da ministra Marina Silva na Comissão de Agricultura da Câmara para defender o agronegócio e jogar a culpa das queimadas na falta de planejamento do Ministério do Meio Ambiente. É a nova versão de “o problema é a falta de chuva” para não olhar para o próprio umbigo. Já no caso do apagão em São Paulo, a Enel e o prefeito Ricardo Nunes tentam culpar as árvores que caíram nos fios. Pior, mesmo sendo difícil para Nunes fugir da responsabilidade de ter deixado milhares de paulistanos no escuro, as pesquisas eleitorais mostram que ele está conseguindo uma redução de danos e continua como favorito. Mas é inegável que o tema vai muito além da disputa eleitoral. Como todo apagão, ele coloca em questão - pela enésima vez - o modelo de concessão pública para corporações privadas, com lucros garantidos, serviços mal fiscalizados e de baixa qualidade. E mesmo que esse modelo esteja falido, ninguém tem interesse ou condições de colocá-lo à prova. O governador Tarcísio de Freitas tenta meramente blindar seu aliado na eleição municipal ao mandar às favas o neoliberalismo e culpar a Enel, a empresa concessionária. O TCU está mais preocupado em passar o recibo para as instâncias federais. O governo federal tenta aproveitar a crise para recuperar o controle da ANEEL, a agência regulatória nacional. E Guilherme Boulos tenta vencer uma eleição e não pode se dar ao luxo de perder o voto do paulistano médio. Ou seja, ninguém está disposto a enfrentar o problema principal. Com isso, alerta o engenheiro Ikaro Chaves entrevistado pelo Brasil de Fato, perde-se a oportunidade de enfraquecer o privatismo e apontar como saída a criação de uma empresa federal de distribuição de energia elétrica. 

.Vida mansa. Os parlamentares estão curtindo um recesso fora de época por duas razões. A primeira e mais óbvia são as eleições municipais que mobilizam os caciques nacionais em torno de seus aliados regionais. Por isso, o clima de tranquilidade deve durar até o final do mês, quando termina o segundo turno. Mas isso não é tudo. A pasmaceira se deve também ao entrave do STF à liberação das emendas parlamentares. Apesar do resmungo de alguns deputados de que Flávio Dino teria descumprido o acordo com a Câmara, o que também faz parte do jogo de cena para terceirizar as responsabilidades, não há outra alternativa além de regulamentar as exigências por maior transparência na distribuição dos recursos. Mesmo assim, Lira garante a boa vontade do Supremo mantendo em cima da mesa as matérias anti-STF já tramitadas na CCJ da Câmara. A tarefa de redigir uma Projeto de Lei Complementar sobre o tema ficará a cargo do relator do orçamento, o senador Angelo Coronel (PSD-BA). Ou seja, até o final de outubro os projetos prioritários do governo, como a regulamentação da reforma tributária e o orçamento de 2025, devem ficar em banho maria, aguardando o final do calendário eleitoral. Enquanto isso, o governo aproveita para dar visibilidade a outras pautas, como o endurecimento das penas por crimes ambientais e os programas de combate à fome. Ao mesmo tempo, fora a questão das emendas, o Congresso segue gerindo demandas setoriais e de pequena monta, o que dá a Arthur Lira tempo para dedicar-se às articulações em torno da sucessão na Câmara. A expectativa é que o governo abra mão de uma candidatura própria e apoie o preferido de Lira, Hugo Motta (Rep-PB), em nome da estabilidade institucional, o que, se confirmado, tende a consolidar o atual modus operandi entre o governo e o Congresso. 

.Ponto Final: nossas recomendações.

.Como é a vida na Cisjordânia. Fathi Nimer, do instituto palestino Mundo Árabe para Pesquisa e Desenvolvimento, relata o cotidiano sob o maior ataque israelense das últimas décadas. Na Phenomenal World.

.Eleições 2024: empresários do mercado imobiliário são metade dos 50 maiores doadores das campanhas municipais. Na BBC, como o agronegócio e a especulação imobiliária turbinaram as campanhas municipais.

.O longo histórico de desestabilização do Irã pelos EUA. A Jacobina relembra como o desejo por petróleo alimentou uma história de golpes e ataques ao Irã.

.Como o medo motiva o crescimento da extrema-direita europeia. A perda da hegemonia europeia alimenta os sentimentos xenófobos no continente. No Jornal da USP.

.Vamos ver se muda a visão que a ditadura do Brasil foi a que menos matou”. Presidenta da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos estima em 10 mil o número de atingidos pela repressão. Na Agência Pública.

.Trabalhadores negros recebem R$ 14 bilhões a menos devido exclusivamente ao racismo. Estudo do Insper dá números ao racismo salarial no Brasil. Na revista Afirmativa.

.“Temos que provocar o desejo de pensar mundos diferentes”. Ailton Krenak é entrevistado do Projeto Preserva

.Sem terra, sem água, sem rumo. No podcast do O Joio e o Trigo, como se formou o “latifúndio da água” no Brasil. 

.Entre sonho e realidade: os 100 anos do surrealismo. A DW relembra a trajetória do movimento artístico que irrompeu no mundo do entre-guerras.

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Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

Edição: Nathallia Fonseca