POVOS INDÍGENAS

Indígenas Avá-Guarani são atacados com caminhões, tratores e pauladas no Paraná

Em novo ataque a TI, fazendeiros matam animais domésticos das comunidades e pulverizam agrotóxicos no entorno das casas

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Um dos indígenas foi atropelado por uma caminhonete e outro, golpeado a pauladas - Foto: Arquivo Pessoal

A comunidade Avá-Guarani, localizada na Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavira, em Guaíra, oeste do Paraná, foi alvo de mais um ataque violento por parte de fazendeiros na manhã desta quinta-feira (17). O conflito deixou dois indígenas feridos, um após ser atropelado por uma caminhonete e outro golpeado a pauladas por homens identificados como funcionários de uma propriedade rural da região.

Segundo relatos dos moradores da comunidade, um caminhão e quatro tratores carregados de veneno avançaram sobre a comunidade de Yvyju Avary, dentro da TI, por volta das 10h, alegadamente a mando de um fazendeiro que reivindica a expulsão dos indígenas da área. A Força Nacional de Segurança Pública foi acionada para intervir, e as vítimas foram levadas ao hospital de Guaíra. "Os fazendeiros estão com o caminhão cheio de não indígenas atacando os parentes. Tiveram atropelamentos e também mataram os cachorros da comunidade", declarou a liderança indígena Nazany Martins.

Segundo a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), a comunidade Avá-Guarani vive em constante tensão devido às investidas de proprietários rurais contra os territórios indígenas em processo de regularização. Um dos fazendeiros da região aceitou negociar a venda de suas terras para a demarcação da TI, enquanto outro optou por resistir violentamente, gerando a escalada dos conflitos.

Esse ataque é parte de uma série de agressões que vêm ocorrendo nos últimos meses. No último domingo (13), a aldeia Y’hovy, também em Guaíra, foi alvejada a tiros disparados de uma fazenda vizinha, após um carro suspeito ter circulado pela área filmando lideranças indígenas. Embora ninguém tenha se ferido no incidente, o clima de insegurança persiste.

A CGY emitiu um comunicado pedindo a intervenção das autoridades federais para garantir a segurança das comunidades Avá-Guarani, além de cobrar investigações rigorosas para a responsabilização dos responsáveis pelos ataques. A situação na TI Tekoha Guasu Guavira é considerada crítica, com uma escalada de violência que expõe as famílias indígenas a riscos iminentes.

Brasil de Fato estou em contato com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que informou que a Força Nacional foi acionada e deslocou-se para o local, juntamente com equipes da Polícia Federal (PF) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). O conflito foi controlado, e as forças federais permanecem na região para evitar novas escaladas de tensão. As ações da Força Nacional estão centradas na mediação de conflitos entre indígenas e fazendeiros, bem como na realização de patrulhas ostensivas e atividades de apoio à Polícia Civil do Paraná. 

Histórico de violência

Desde julho, os indígenas da região enfrentam uma intensificação nos atos de violência após o início do movimento de retomada de seu território tradicional, a Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá. A área, que abrange 24 mil hectares, foi delimitada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 2018, mas ainda não foi oficialmente demarcada.

Em agosto, um ataque deixou seis indígenas feridos, dos quais quatro precisaram ser hospitalizados, dois em estado grave. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os agressores utilizaram espingardas de chumbo, motosserras e ameaçaram decapitar os moradores da aldeia. "Eles falavam que iam cortar a cabeça da gente com motosserra", relatou uma das vítimas.

Mesmo após diversas denúncias, os ataques continuam. Os Avá-Guarani seguem enfrentando ameaças constantes de fazendeiros e seus funcionários. "Já passei por outros ataques, mas agora eles não têm mais medo de mostrar a arma", desabafou uma das vítimas dos recentes episódios de violência.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Ana Carolina Caldas