No último debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, promovido pela TV Globo nesta quinta-feira (3), o alvo preferido foi Ricardo Nunes (MDB), que ficou na defensiva e usou seu tempo para trazer dados de sua gestão. Do terceiro bloco em diante, Pablo Marçal (PRTB) voltou a subir o tom após trocar farpas com Guilherme Boulos (Psol).
Logo no primeiro bloco, a candidata Tabata Amaral (PSB) afirmou que o atual prefeito é "pequeno demais" ao comentar sobre o aumento da população em situação de rua na capital.
"Candidato Nunes, quando você assumiu a Prefeitura, São Paulo tinha 30 mil pessoas na rua. Agora são mais de 80 mil na cidade mais rica do país. São Paulo foi a capital que mais caiu em alfabetização. Na saúde, as filas explodiram. Tem mais de 400 mil pessoas aguardando por um exame. São Paulo viu aumentar o homicídio. Batemos recorde de estupro e feminicídio. (...) Esse prefeito é pequeno demais", disse a candidata.
Na sequência, Guilherme Boulos emendou o assunto da saúde e falou que as Unidades Básicas de Saúde (UBS) não têm muitas vezes "nem dipirona". "Não é possível. Você acha que a saúde em São Paulo está desse jeito que ele [Ricardo Nunes] está falando? A saúde está boa? Mil maravilhas? Você acha que está tudo bem? As pessoas vão para uma UBS, às vezes nem dipirona tem", afirmou Boulos.
Em outro momento, Boulos e Marçal voltaram a subir o tom entre si trocando acusações, enquanto Nunes voltou a ficar isolado. O candidato do Psol questionou o tom moderado que o ex-coach vinha adotando nos dois primeiros blocos do programa e questionou a formação do secretariado de Marçal, caso eleito.
"Eu estou achando muito esquisito esse perfil que o Marçal adotou hoje. Ele tumultuou a eleição inteira, agrediu, mentiu, agora ele quer posar de bonzinho. É um lobo em pele de cordeiro. Aliás, o Marçal acusar alguém de extremista é igual a Suzane Richthofen acusar alguém de assassinato. É impressionante", disse Boulos após ser classificado por Marçal como o único extremista da bancada do debate.
"Agora Marçal, eu vou te fazer uma pergunta. Você indicou a semana passada dois secretários do Doria. O seu chefe de campanha era o braço direito do Doria. Você diz que é contra o sistema e pela mudança. Por que você indicou o time do Doria para governar junto com você?", questionou Boulos. Em um tom de voz elevado, Marçal respondeu: "Por acaso ele é filho do Doria? Doria pariu ele? As pessoas no meu governo são pessoas que romperam com Doria", disse.
Nos últimos dias, Marçal anunciou que, se eleito, o economista Marcos Cintra, ex-secretário da Receita Federal do governo Jair Bolsonaro (PL), será seu secretário de Finanças, e médico Wilson Pollara, secretário de Saúde. Depois, anunciou Patrícia Borges para a pasta do Esporte e Selene Peres Nunes para Gestão e Responsabilidade Fiscal.
Logo no final, já no quarto bloco, Marçal chegou a afirmar que Boulos "flerta com o crime o tempo inteiro". "Não realize o sonho do Guilherme de ir para o segundo turno. Não vai ter segundo turno em São Paulo", disse.
Entre uma crítica e outra, propostas
Entre uma crítica e outra à gestão Nunes, os candidatos apresentaram algumas de suas propostas. José Luiz Datena (PSDB) falou em descentralizar os pontos de cultura e educação pela cidade. "São 57 bibliotecas em São Paulo. Você quase não vê biblioteca nas periferias. As crianças da periferia não têm a mesma oportunidade que as crianças de todos os pontos de São Paulo têm. As da periferia são desconhecidas e completamente invisíveis para a prefeitura. É preciso descentralizar a cultura", disse Datena.
Boulos, por sua vez, defendeu aumentar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM). "Em relação à GCM, eu nunca defendi GCM sem armamento. Inclusive eu vou dobrar o efetivo da GCM em São Paulo, porque a GCM de São Paulo hoje é menor que a do Rio de Janeiro, que tem metade da população de São Paulo. Nós vamos dobrar", disse o psolista.
Ao mesmo tempo, Boulos criticou o candidato a vice na chapa de Nunes, o coronel Ricardo Mello de Araújo (PL). "O que eu não defendo é um tipo de policiamento que trate diferente quem mora na periferia e quem mora nos jardins, como já declarou defender o vice do Ricardo Nunes, o coronel Mello. Isso eu não aceito. Quem mora na periferia tem que ser tratado o mesmo respeito do que quem mora nos Jardins", disse Boulos.
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Tanto Datena quanto Boulos afirmaram que a concessão à iniciativa privada de serviços públicos deve ser fiscalizada. Sobre a privatização da gestão dos cemitérios, o segundo candidato defendeu a revogação. "Eu sou contra a concessão que o Ricardo Nunes fez dos cemitérios. Isso é um escândalo. Eu vou revogar isso", afirmou Boulos.
Na sequência, Datena defendeu que não é contra a concessão, "desde que a concessão seja feita para o bem do povo", disse. "Eu não acredito realmente que você seja bandido, criminoso, nada disso. Mas você tem que se informar melhor com a sua equipe. Te passaram uma grande mentira. Esses caras pegaram a concessão da morte, estão negociando com a vida e com a morte", complementou o apresentador de televisão ao se dirigir a Nunes.
Tabata, por sua vez, falou sobre a sua proposta de estabelecer parcerias com empresas e universidades para levar capacitação para jovens, o Jovem Tech.
"A prefeitura vai bancar um curso de dois anos na área de tecnologia, que vai ser feito sob demanda, de acordo com o que essas grandes empresas estão precisando. Então a prefeitura banca o curso, e a empresa entra com a vaga. A gente não aguenta mais pessoas com diploma, que não têm experiência e não conseguem ingressar no mercado de trabalho. Esse jovem se formou na escola pública, mas hoje não consegue acessar bons empregos", disse.
Edição: Nicolau Soares