Rio de Janeiro

Coluna

A garantia da saúde mental para o povo preto

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O racismo estrutural está presente em todas as esferas de nossas vidas, nos negando o direito à educação de qualidade, ao trabalho digno e até ao atendimento adequado em saúde
O racismo estrutural está presente em todas as esferas de nossas vidas, nos negando o direito à educação de qualidade, ao trabalho digno e até ao atendimento adequado em saúde - Costa Barros Tomaz Silva/Agência Brasil
A juventude negra está adoecendo e precisamos olhar com atenção para ela

Estamos chegando ao fim de mais um Setembro Amarelo e é inevitável refletir sobre a saúde mental dos jovens negros no Rio de Janeiro, no Brasil e no mundo. A coluna de hoje me toca muito, principalmente porque antes de eu ser uma deputada estadual, feminista e militante, sou uma mulher negra, criada na favela. Conheço de perto os efeitos devastadores do racismo na saúde mental dos meus. Precisamos dar um foco especial para essa parcela da população nesta questão também. 

Na presidência da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (CDDHC) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), temos atendido vítimas e familiares de vítimas de violência do Estado e de racismo incessantemente. Pessoas que passaram por episódios bárbaros e que têm o psicológico destruído, sem saber como vão continuar a viver após a violência sofrida.

Na CDDHC, ouvimos os relatos mais dolorosos saindo da boca de homens e mulheres pretos.

E isso revela um pouco de como o sofrimento mental da população negra é tratado de forma superficial. Um dos encaminhamentos mais importantes que fazemos na CDDHC é garantir que essas pessoas tenham acesso a atendimento psicossocial, muitas vezes em parceria com a Defensoria Pública. Esse apoio é essencial para que consigam lidar com os traumas causados pela violência.

O racismo estrutural está presente em todas as esferas de nossas vidas, nos negando o direito à educação de qualidade, ao trabalho digno e até ao atendimento adequado em saúde. Nos dizem não a todo tempo que demandamos por dignidade e integridade. Essas violências cotidianas corroem a autoestima e geram sentimentos ruins e transtornos, especialmente entre os jovens negros, que carregam o peso de um sistema que os desumaniza e os encarcera a qualquer custo. Como resultado, vemos um aumento alarmante nos índices de depressão, ansiedade e suicídio entre essa parcela da população. 

Dados do Ministério da Saúde mostram que o índice de suicídio entre jovens negros é 45% maior do que entre brancos, e o risco na população negra aumentou 12% nos últimos anos, enquanto permaneceu estável entre brancos. Aqui vemos que esses números são fruto de um sistema que nos marginaliza e agrava nossas condições psicológicas desde cedo.

Precisamos mudar essa realidade, e para isso é fundamental que políticas públicas reconheçam o racismo como um fator preponderante na saúde mental.

O Setembro Amarelo não deve ser uma ação meramente simbólica, com pessoas vestindo amarelo em campanhas pontuais. Devemos combater a exclusão e garantir que todos tenham acesso a cuidados psicossociais adequados, com uma abordagem que entenda a complexidade do sofrimento racial. Só assim poderemos dar à nossa juventude negra a oportunidade de viver dignamente com esperança e felicidade.

*Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato RJ.

Edição: Mariana Pitasse