RESISTIR E REAGIR

'Não vemos a humanidade reagir', diz presidente da Fepal sobre genocídio contra o povo palestino

Federação Árabe Palestina realiza maior congresso da história no Brasil para engajar governo e sociedade civil na causa

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Presidente da Fepal, Ualid Rabah, afirma que os palestinos estão diante de uma nova nakba, ou seja, uma nova catástrofe de limpeza étnica - Leandro Melito

A Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) realiza, neste fim de semana, na Barra Funda, em São Paulo (SP), o maior evento da história da entidade no país para chamar a atenção do governo e da sociedade civil sobre o genocídio em curso contra o povo palestino. 

“Nós estamos diante de uma situação absurdamente bizarra, incrivelmente inédita. Mais do que isso, estamos diante de uma nova nakba, ou seja, uma nova catástrofe de limpeza étnica [como em 1951]. E é neste contexto que realizamos este congresso, para dizer não a esse extermínio”, afirmou ao Brasil de Fato o presidente da Federação, Ualid Rabah.

O 11° Congresso da Fepal começou oficialmente na sexta-feira (20), com a presença de 300 pessoas participando diretamente do evento, entre delegados, observadores e convidados especiais. A cerimônia de abertura teve início com um pedido de um minuto de silêncio por Rabah, em memória das mais de 50 mil vítimas fatais, “incluindo as cerca de dez mil que ainda estão sob os escombros da destruição causada por Israel em Gaza”, completou. 

As atividades de fato, abertas ao público, estão sendo realizadas neste sábado - e vão até domingo - no Hotel Panamby, na Barra Funda. 

Para além do protesto contra o genocídio, o presidente da Fepal explica que a ideia é melhorar a capacidade de comunicação institucional da organização em relação às instituições do Estado brasileiro, como o Parlamento e o governo federal. A intenção é fazer o mesmo com as instituições da sociedade brasileira, como os movimentos populares e organizações governamentais.

Um dos objetivos estratégicos da Fepal, neste sentido, é viabilizar uma aproximação estratégica, do ponto de vista da comunicação, com as universidades brasileiras, que ele classifica como “um grande campo de enfrentamento para torná-las território livre com apartheid”.

“O movimento de boicote nas universidades era impensável. Daqui a pouco não teremos uma só universidade com acordos de cooperação com Israel”, complementa o presidente da Federação. 

Ualid Rabah também menciona a postura governo brasileiro, no sentido de dar uma resposta mais contundente ao governo de Israel, em meio ao massacre contra o povo palestino. 

“Também era impensável que o governo federal cancelasse, por exemplo, diante da pressão internacional e da sociedade, da qual a Fepal faz parte, uma licitação de uma empresa israelense com o exército brasileiro”, afirmou, em referência à suspensão - e adiamento - da assinatura de contrato com a companhia Elbit System para aquisição de veículos blindados. 

Ao lado de Ualid Rabah, compuseram a mesa cerimonial o Embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, a Embaixadora no Chile, Vera Baboun, o embaixador do Iraque no Brasil, Firas Hassan Hashim al-Hammadany, o embaixador da Líbia no Brasil, Osama Ibrahim Ayad Sawan, além de outros diplomatas, líderes religiosos, políticos e de movimentos sociais.

Os sionistas “querem apagar a existência do povo palestino”, denunciou a Embaixadora da Palestina no Chile. “É impossível ter paz na Terra se não houver paz na Palestina”, afirmou ainda.

Por sua vez, Alzeben homenageou os cidadãos de todos os países árabes que deram suas vidas na luta pela libertação da Palestina “e para por fim a este genocídio”. Também agradeceu à solidariedade da mesa, dos presentes e de todo o povo brasileiro: “a Palestina, sim, existe, e a realização deste Congresso é uma prova disso, de que a Palestina existe e seguirá existindo.”

“Este evento não é somente uma denúncia do genocídio, mas um voto pela legitimidade da denúncia do genocídio”, completou o embaixador. Ele também prestou solidariedade ao Brasil e ao presidente Lula devido às queimadas que afligem o Brasil, bem como agradeceu ao mandatário pela solidariedade que ele próprio tem prestado ao povo palestino.

Programação

Neste sábado, a primeira rodada de debates começou com a mesa temática “O novo mundo árabe e seus reflexos na comunidade árabe brasileira”, com a presença das professoras e pesquisadoras Samira Adel Osman e Natália Calfat e do jornalista, comentarista político e internacional e professor Bruno Beaklini.

Mais tarde foi realizada a mesa de debates sobre “O apartheid na Palestina e suas implicações”, com o secretário de Direitos Humanos da Fepal, Fábio Bacila Sahd, e o professor de relações internacionais Bruno Huberman.

A programação conta ainda com  a mesa “A importância e o papel da solidariedade à Palestina” contará com Misiara Oliveira, militante do movimento solidário à Palestina desde a década de 1980 e integrante da Executiva Nacional do PT, Julia Köpf, secretária-geral da União Brasileira dos Estudantes, e Thiago Ávila, internacionalista e um dos organizadores da Flotilha da Liberdade.

Além disso, o debate “O genocídio na Palestina e o Direito Internacional” tem a presença do professor e pesquisador Salem Nasser, o titular da Secretaria de Assuntos Jurídicos da Fepal, Nasser Judeh, e o ex-perito do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Sami El Jundi.

A segunda rodada de debates, às 18h, contará com uma mesa sobre o tema “Palestina: o primeiro genocídio televisionado da história”, com Marcos Feres, coordenador de comunicação da Fepal, Andrew Fishman, jornalista do Intercept Brasil, a ativista e comunicadora Hyatt Omar, Norian Segatto, diretor da Federação Nacional dos Jornalistas e José Reinaldo de Carvalho, editor de Internacional do Brasil 247.

No mesmo horário, terá lugar a mesa sobre “O papel literário e artístico na libertação da Palestina”, com o escritor Milton Hatoum, a estudante e ativista Aycha Sleiman, o historiador Rafael Domingos Oliveira, o jornalista Tadeu Breda e o artista Kleber Pagu, responsável pelo mural “Palestina Livre – Genocídios Nunca Mais”, no centro de São Paulo.

Também ocorrerá a mesa de debates “Boicote, desinvestimento e sanções contra o Apartheid na Palestina”, com a presença de Andressa Soares, coordenadora para a América Latina do Comitê Nacional Palestina do Movimento BDS, a professora e pesquisadora Arlene Clemesha e Pedro Charbel, que já atuou como observador internacional na Cisjordânia.

Por fim, também às 18h, a mesa “‘Antissemitismo’, arma do sionismo para a ocupação da Palestina” terá como debatedores o jornalista Breno Altman e Isadora Szklo, fundadora do coletivo Vozes Judaicas por Libertação.

Após a finalização dos debates, às 20h30 terá lugar a Grande Plenária de Solidariedade ao Povo Palestino, também aberta ao público e com a presença de movimentos populares e comitês de solidariedade à Palestina.

Para mais informações sobre os debatedores e as salas onde ocorrerá cada debate, veja a programação completa das atividades livres do segundo dia de Congresso.

 

Edição: Douglas Matos