Cerca de 3,3 bilhões de pessoas no mundo vivem em países que gastam mais com os juros da dívida pública do que com serviços públicos de saúde e educação. Isso corresponde a cerca de 40% da população mundial.
O número foi calculado em estudo divulgado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) neste mês. Segundo o levantamento, disponível no site da Unctad, o Brasil está entre os países cujo orçamento está mais comprometido com a rolagem da dívida pública do que com investimentos sociais.
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No país, o gasto com juros é o dobro do gasto com saúde e educação combinados. A despesa com juros também é quase o dobro de todo o investimento público feito pelo governo anualmente.
O gasto no Brasil está acima do registrado por outros países em desenvolvimento e em nações desenvolvidas. Os países mais ricos gastam com juros só 40% do que investem em saúde e educação. Também gastam com juros o equivalente a 70% do investimento público.
No Brasil, o gasto anual com juros equivale a 6% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, segundo a ONU –o PIB é a soma de todas as riquezas produzidas no país. Em outros países, sejam ricos ou em desenvolvimento, esse valor é cerca de 2%.
O Brasil, entretanto, tem uma dívida pública menor que a de outros países. Segundo a Unctad, ela equivale à cerca de 85% do seu PIB. Em países ricos, a média é de 108%.
Para o Brasil, o gasto com a dívida é maior justamente porque o juro cobrado sobre ela é mais alto. Hoje, a taxa básica de juros na economia brasileira, a Selic, está em 10,5% ao ano. Ela serve como base para correção da dívida pública nacional.
Nesta quarta-feira (18), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decide se a Selic vai ser alterada. Economistas apontam que a taxa deve ser elevada para 10,75% ao ano.
Se isso realmente ocorrer, o gasto do Brasil com o pagamento de suas dívidas deve crescer cerca de R$ 12,5 bilhões durante um ano. Isso está próximo ao que o governo pretende gastar no ano que vem com políticas públicas voltadas para mulheres: R$ 14 bilhões.
Edição: Martina Medina