A Universidade de Brasília (UnB) suspendeu novamente as atividades presenciais na instituição nesta terça-feira (17), em razão do risco à saúde gerado pelas fumaças provenientes de queimadas, especialmente a do Parque Nacional de Brasília. Já a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF) manteve a recomendação de que as próprias unidades escolares decidam pela suspensão ou não das aulas.
A qualidade do ar na capital piorou em relação à ontem (16) e foi classificada, no começo da manhã, como insalubre para pessoas de grupos sensíveis – crianças, idosos e indivíduos com doenças respiratórias e cardíacas. Os dados são da empresa suíça IQAir, que faz o monitoramento em tempo real, e apontam que a concentração de poluentes no ar esteve 11,1 vezes acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nessas condições, conforme a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), toda população pode apresentar sintomas como tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz e garganta, enquanto os grupos sensíveis podem apresentar efeitos mais sérios na saúde.
A recomendação é reduzir a prática de exercícios ao ar livre, fechar janelas e portas para evitar entrada de ar poluído, usar umidificadores e purificadores de ar e manter a hidratação. Para grupos sensíveis, também é recomendado o uso de máscaras.
A Secretaria de Educação informou, durante a manhã, que as aulas foram suspensas nesta terça-feira (17) em 25 escolas. Confira quais ao final da reportagem.
O Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF) defendeu que a suspensão das atividades e o formato de reposição sejam decididas com autonomia por cada escola.
De acordo com Márcia Gilda, da direção do sindicato, também é preciso que o governo pense em ações preventivas a curto, médio e longo prazo para adaptar o ambiente escolar às condições climáticas extremas, com arborização e climatização das unidades.
“O debate precede, inclusive, a suspensão de aulas. A gestão do governador Ibaneis [Rocha] tem sido a gestão dos paliativos”, destacou. “Agora, diante da situação já posta, nós acreditamos que a melhor forma é praticar a gestão democrática”, completou.
Fogo no Parque Nacional ainda não foi extinto
O incêndio no Parque Nacional de Brasília, que começou no domingo (15), ainda não foi totalmente extinto, apesar de estar mais controlado.
Segundo a chefia do parque, ainda há pontos quentes, com fogo subterrâneo, e possibilidade de reignição – ou seja, que um foco já combatido comece a queimar de novo – em função da temperatura elevada, das condições de vento e da baixa umidade do ar.
“A expectativa para hoje é de uma situação muito mais controlada, uma menor emissão de fumaça, mas o incêndio ainda não está extinto”, afirmou ao Brasil de Fato DF Larissa Diehl, chefe da unidade.
Até o momento, cerca de 2.400 hectares da reserva foram consumidos pelas chamas. Os principais focos remanescentes estão na mata de galeria do Córrego do Bananal e em áreas próximas à casa dos servidores do parque.
“Esse momento agora requer cuidado, o fogo não está extinto, nós vamos continuar o trabalho, mas eu diria que o momento mais crítico, felizmente, ficou para trás ontem”, informou Mauro Pires, presidente do Instituto Chico Mendes (ICMBio).
Segundo ele, peritos da Polícia Federal estiveram no parque na manhã desta segunda-feira (16) para colher informações para a investigação que busca identificar os autores do crime ambiental. O ICMBio já identificou o local exato onde o incêndio começou, nas imediações do parque, na Granja do Torto. A informação foi repassada aos peritos.
“Esse incêndio tem todas as características de um incêndio criminoso, porque estamos dentro de um parque nacional, de uma área protegida. A lei de crimes ambientais de 1997 já estabelece isso como crime”, destacou Pires.
“O incêndio causou um prejuízo incalculável. Famílias foram impactadas pela fuligem e fumaça, muitas pessoas passaram mal. O poder público teve que mobilizar uma grande força para combater o incêndio e isso traz consequências econômicas totalmente desagradáveis”, lamentou.
No momento, de acordo com a chefia do parque, cerca de 50 brigadistas do ICMBio, dez brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), dez brigadistas do Brasília Ambiental (Ibram) e 500 bombeiros atuam no local, com apoio de duas aeronaves do ICMBio e duas do Corpo de Bombeiros do DF.
O ICMBio aponta que não foram identificados animais feridos. Com os sinais de controle do fogo, uma avaliação mais detalhada sobre o impacto do incêndio na fauna será iniciada em breve, com apoio do Centro de Conservação e Pesquisa do Cerrado, do Jardim Zoológico de Brasília e da Polícia Militar Ambiental do DF.
Ação do governo
O Ministério da Saúde convocou uma reunião de emergência, nesta terça-feira (17), para definir medidas preventivas contra os danos respiratórios causados pela fumaça.
A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) participará do encontro. Na sexta-feira (13), a entidade divulgou uma série de recomendações em relação ao aumento das concentrações de poluentes no ar, que acontece em todo o país.
Segundo o documento, todos os esforços e recursos devem ser mobilizados pelas várias esferas de governos e pelos donos de terras para conter, apagar e evitar novos incêndios.
Aos governos, a SBPT destacou a importância de estabelecer canais de comunicação adequados com a população, com o objetivo de transmitir informações atualizadas sobre os indicadores de poluição e medidas de mitigação dos impactos à saúde. Outra recomendação é a implantação de bebedouros públicos de água potável, para ajudar a manter a população hidratada, inclusive as pessoas que vivem em situação de rua.
O Brasil de Fato DF questionou a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) quais foram as medidas adotadas pela pasta para mitigar os efeitos da fumaça na saúde da população, tendo em vista que a qualidade do ar foi considerada insalubre para grupos sensíveis na manhã desta terça-feira (17).
Em resposta, a Secretaria disse apenas que “neste período de seca e queimadas é importante ingerir bastante líquido, fechar portas e janelas, e usar máscara se estiver muito próximo a locais de queimadas”. Nenhuma medida de mitigação realizada pela pasta foi informada.
Nas redes sociais da SES-DF, um dos principais meios de comunicação com a população, não há nenhuma postagem alertando sobre os níveis de poluentes no ar ou com atualizações a respeito da qualidade do ar e dos impactos de cada nível do monitoramento na saúde.
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Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Márcia Silva