forças progressistas contra a extrema direita. Ela tem chance de ganhar
Na capital de Goiás, Goiânia, o cenário eleitoral para 2024 se desenha de forma acirrada, com empate técnico triplo entre Adriana Accorsi (PT), Sandro Mabel (União Brasil) e Vanderlan Cardoso (PSD). Adriana, deputada federal e candidata do PT, figura na liderança em um cenário de fragmentação.
Faltando menos de um mês para o 1º turno das eleições municipais, o Podcast Três Por Quatro desta sexta-feira (13), produzido pelo Brasil de Fato e apresentado pelos jornalistas Nara Lacerda e Igor Carvalho, segue analisando as eleições de 2024 nas capitais.
Trazendo o panorama da disputa em Goiás, Pedro Célio Borges, professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), aponta que a candidata líder nas pesquisas, "entrou na linha de tratar temas da Segurança Pública a partir da questão dos direitos humanos. Ela sabe fazer essa conjugação muito bem, ela verbaliza muito bem e coloca essa discussão dentro de um projeto estratégico de visão de administração pública e de democracia".
Participando da bancada desta semana, o comentarista-fixo e ex-presidente do PT, José Genoíno, pondera que, para a Adriana firmar-se em primeiro lugar nas pesquisas e, posteriormente, vencer a corrida eleitoral, é necessário reforçar sua postura dentro do partido e principalmente "associar (sua campanha) ao governo Lula, algo fundamental nesse momento, ocupar as ruas e não ficar só no plano do marketing político, e por fim levantar algumas bandeiras em um tom mais combativo!"
Para Borges, a candidatura da postulante petista é de extrema importância em um estado onde a direita é historicamente enraizada. Adriana Accorsi, filha do ex-prefeito Darci Accorsi, que esteve à frente de Goiânia entre os anos de 1993 e 1996, é delegada da Polícia Civil e tem uma longa trajetória política.
O especialista a destaca como uma "candidata natural" do PT, lembrando a popularidade que seu pai teve como prefeito e a identificação dela com as pautas progressistas que ressoam na capital goiana.
Nesse sentido, apesar de enfrentar seis opositores no pleito eleitoral, Genoíno salienta como a candidata representa as "forças progressistas contra a extrema direita. Ela tem chance de ganhar", principalmente por ser a maior representante em meio a um cenário "antigo e conservador".
Contudo, apesar de o "PT esquentar na reta final", como adiciona Genoíno, Borges enfatiza a importância e a necessidade de Accorsi reforçar sua associação política, visto que ela "diz pouco o nome do PT, usa pouco a cor vermelha, e não fala o número treze na campanha; ao invés disso, ela fala um e três!".
Concorrência tradicional e radical
Por outro lado, a corrida não está fácil para a petista. O senador Vanderlan Cardoso (PSD), com histórico conservador, e o empresário Sandro Mabel, apoiado pelo governador Ronaldo Caiado (União Brasil), também estão tecnicamente empatados, todos oscilando entre 21% e 23% nas pesquisas. Vanderlan, nome já conhecido no cenário goiano, enfrenta questionamentos sobre sua real intenção na disputa, já que "circulam rumores de que ele poderia estar negociando uma posição vantajosa para as eleições de 2026". Contudo, ele permanece como uma das principais forças.
"Goiânia tem tradição progressista", como relembra Genoíno, no entanto a corrida eleitoral deste ano é mais acirrada, dado "a onda conservadora de 2018 para cá", como reforça Borges, acerca dos reflexos deixados pelo bolsonarismo no país. Accorsi também enfrentará nas urnas representantes da direita mais tradicional, típica na região, "principalmente por conta da força do agronegócio no estado".
Sandro Mabel, com forte apoio do governador Caiado, representa uma candidatura que busca unificar o campo conservador e empresarial de Goiânia. Para muitos, segundo o cientista político, ele é um "candidato saído da cartola" de Caiado, após tentativas frustradas de lançar outros nomes. Mabel, porém, traz consigo um histórico político, com sua atuação na Câmara dos Deputados e na esfera empresarial, algo que reforça sua força eleitoral em um estado fortemente influenciado pelo agronegócio e setores conservadores.
Mesmo à frente de um partido de centro-direita, o padrinho político de Mabel, Ronaldo Caiado (União), é um retrato da direita tradicional, pré-Bolsonaro, "conservador, mas moderno e não bolsonarista", como destaca Borges, todavia apresentando-se como um forte concorrente à Accorsi, justamente por transitar dentre as três principais intenções de voto na cidade, alternando posições com a própria delegada.
Nesse contexto, o professor alerta para a fragmentação do cenário goianiense, que tem se mostrado menos previsível e menos alinhado com a polarização nacional entre Lula e Bolsonaro. "Goiânia sempre foi um espaço de disputas acirradas, mas esta fragmentação reflete o avanço de uma nova extrema-direita", afirma.
Progressista, feminista e ambientalista
Curiosamente, um dos fatores de destaque na candidatura de Adriana Accorsi é a sua força entre o eleitorado masculino em detrimento do feminino, algo incomum, como destaca o professor Pedro: "Isso não é uma questão meramente de gênero. Adriana tem um discurso muito forte em defesa dos direitos humanos, o que pode estar atraindo parte do eleitorado masculino."
Além da representatividade feminina na disputa eleitoral, outro aspecto que pode ser favorável à candidatura de Accorsi são as questões ambientais, comumente pautadas e defendidas por partidos progressistas, em um dos estados que mais sofre com as queimadas neste ano e onde os estragos são ainda mais intensificados, dado a principal atividade econômica da região, o agronegócio.
Segundo levantamento feito pelo Banco de Dados de Queimadas (BDQueimadas), Goiás é o terceiro estado do Brasil que mais sofre com as queimadas em todo o território nacional, ficando atrás apenas de Mato Grosso e Pará, evidenciando assim a necessidade de medidas urgentes que priorizem majoritariamente a saúde, não só da população, mas também da natureza e ecossistema local.
De acordo com Borges, "ela (Accorsi) tem uma área enorme para explorar isso", dado o cenário alarmante da capital goiana e o fato de que seus principais concorrentes, além de conservadores, priorizam medidas e defendem os "setores que estão botando fogo neste país!"
Por fim, apesar das dificuldades e eventuais entraves que Accorsi possa encontrar nesta reta final, Genoíno relembra que "Goiânia é um polo progressista", de forma a salientar as chances da candidata nas urnas.
Novos episódios do Três por Quatro são lançados toda sexta-feira pela manhã, discutindo os principais acontecimentos e a conjuntura política do país e do mundo.
Edição: Nathallia Fonseca