Levantamentos realizados por institutos de pesquisa em Belo Horizonte indicam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL) e o ex-prefeito Alexandre Kalil (Republicanos) são os principais cabos eleitorais na disputa pela prefeitura da capital mineira. Dados divulgados pelo Datafolha no fim de agosto demonstram que cada um deles é capaz de mobilizar o voto de cerca de 22% do eleitorado. Em seguida, aparece o governador Romeu Zema (Novo), com 14%.
Parceria histórica
No município, o candidato apoiado por Lula é o deputado federal Rogério Correia (PT), que reuniu em sua candidatura seis partidos — PT, PCdoB, PV, Psol e Rede — e mais de 200 movimentos populares e entidades sindicais, com o lema "Abraçar BH, para BH avançar".
"O apoio de Lula incomoda os outros candidatos. Na primeira aparição dos dois na propaganda eleitoral gratuita, vários correram até o TSE para suspender a inserção. O apoio do atual presidente faz muita diferença. A relação entre Lula e Rogério não começa agora. Ou seja, não é uma relação oportunista", avalia Ângela Carrato, especialista no tema e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
"A relação dos dois não é circunstancial. Por isso, se for eleito, com certeza, Rogério Correia terá todo o apoio do governo federal, pela identidade de propostas", continua.
Cabo eleitoral indiciado
Alvo de diversas investigações conduzidas pela Polícia Federal e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Jair Bolsonaro apoia o deputado estadual Bruno Engler (PL), idealizador do movimento "Direita Minas". Além do Partido Liberal, a coligação "Coragem Para Mudar", encabeçada pelo candidato, reuniu apenas mais um partido, o PP.
"Ele se alinha ao bolsonarismo, que não tem proposta nenhuma, e tenta capitanear a chamada 'pauta conservadora de costumes'. Engler tem o apoio de Bolsonaro e isso é complicado, porque o ex-presidente está descendo a ladeira", comenta Ângela Carrato.
"Foram muitos os absurdos, mentiras e atitudes equivocadas, como a apropriação indevida de joias e as mortes causadas pelo negacionismo na pandemia. Bolsonaro está em vias de ser indiciado e até preso. Com quem Bruno Engler contaria para administrar BH? O eleitor também é chamado a refletir sobre isso", continua.
Apoio pautado em interesses
Rivais na disputa de 2022 pelo governo de Minas Gerais, Alexandre Kalil e Romeu Zema se unificaram no apoio à candidatura do apresentador de televisão e deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos). O acordo entre o governador e o ex-prefeito gerou polêmica e foi motivo de discussões entre Kalil e o partido de Zema, do qual também faz parte Luísa Barreto, que é a candidata à vice na chapa.
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"Esses apoios mais complicam a campanha dele do que ajudam. Zema e Kalil continuam sendo mais que adversários políticos, são inimigos. O apoio dos dois tem a ver com uma tentativa de espaço político, de se aproximar dos evangélicos. O partido do Tramonte tem relação com o bispo empresário Edir Macedo", avalia Ângela.
"Zema e Kalil estão olhando para o seu próprio futuro, querendo uma base em BH. Não estão preocupados com a cidade. O apoio ao governador, inclusive, tem caído cada vez mais, por conta da guerra que ele move contra os servidores públicos. Outra questão é a do meio ambiente. Como o Tramonte vai explicar que tem um apoiador que é contra o funcionalismo e contra o meio ambiente?", continua.
Três candidaturas, dois projetos
Nas últimas pesquisas de intenção de votos, Mauro Tramonte aparece em primeiro lugar e Rogério Correia e Bruno Engler estão empatados tecnicamente em segundo, junto a outros três candidatos.
Ainda assim, diante do cenário de influência de Lula, Bolsonaro e Zema, a especialista avalia que a tendência é de que a polarização nacional também se expresse nas eleições de Belo Horizonte, mesmo com a pulverização das candidaturas.
"Com o início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão, e com os candidatos agora efetivamente fazendo campanha nas ruas, eu acredito que o cenário deve mudar. Agora, ainda tem uma embolação danada. Mas há muito espaço para a mudança", destaca a professora da UFMG.
"Acredito que um aspecto favorece o candidato Rogério Correia. Além do apoio de Lula, ele tem um plano de governo muito bem estruturado e adequado às demandas da cidade", avalia.
Para a cientista social Lucileia Miranda, ainda que Tramonte e Engler estejam em candidaturas diferentes, a tendência é o eleitorado perceber que, na prática, não existem tantas diferenças entre os projetos dos dois.
"Tanto um quanto o outro se mostraram alinhados ou, no mínimo, coniventes com o governador Romeu Zema, que já demonstrou inúmeras vezes seu alinhamento com Bolsonaro. Podemos dizer que Bruno Engler é da extrema direita barulhenta e que Mauro Tramonte é da direita que 'come quieto'. Em termos de projeto político, não há muita diferença. E quem perde com qualquer um dos dois são os trabalhadores", comenta.
Sílvio Netto, da direção do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), endossa a opinião da cientista social.
"Os defensores do projeto de morte colocaram para teste duas candidaturas: uma com a mesma cara de ódio de Bolsonaro, que é o Bruno Engler, e outra com o mesmo ódio, mas com a cara da não política e do oportunismo de Zema, que é a de Mauro Tramonte", explica.
Conheça as trajetórias de Rogério Correia, Bruno Engler e Mauro Tramonte
Rogério Correia (PT)
O candidato apoiado por Lula está em seu segundo mandato como deputado federal, mas também já foi deputado estadual em quatro legislaturas e vereador de Belo Horizonte por três mandatos.
Natural da capital mineira, além dos mais de 30 anos de atuação política, Rogério Correia é professor de matemática e tem a sua trajetória vinculada ao sindicalismo e aos movimentos populares.
Ele é fundador do Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação (Sind-UTE), do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
"Rogério conhece profundamente os desafios da capital. Existe muito espaço para o crescimento dele, desde que ele apresente suas propostas, que envolvem a cultura, juventude, idosos, saúde, educação, transporte, etc", comenta Ângela Carrato.
"Ele precisa mostrar essas propostas e, ao mesmo tempo, deixar claro como elas têm a ver com o presidente Lula e com a própria trajetória do candidato. Lula lidera em Minas Gerais, em termos de apoio. São muitos os elementos que favorecem o candidato Rogério Correia", continua a especialista.
Na atuação legislativa, o candidato participou da criação de projetos importantes para o município, como o Bolsa Escola, a Lei de Regularização do Trabalho para Feiras de Artesanato e o Conselho Municipal de Educação.
Rogério Correia também participou da Frente Parlamentar Mista dos Serviços Públicos e das comissões parlamentares de inquérito (CPIs) do narcotráfico e dos atos antidemocráticos.
Na Câmara Federal, ele é vice-líder do governo Lula e apresentou mais de 2 mil propostas legislativas.
Bruno Engler (PL)
Nascido em Curitiba, no Paraná, Bruno Engler está em seu segundo mandato como deputado estadual de Minas Gerais. Ele já passou por cinco partidos diferentes — PSC, PSL, PRTB e PL. Além disso, concorreu a uma vaga na Câmara Municipal e à Prefeitura de Belo Horizonte, em 2016 e 2020, respectivamente, mas não foi eleito.
"Bruno Engler não nasceu em BH e conhece pouco a cidade. É uma figura que mostra apetite pelo poder, com um certo carreirismo. Ele apela para o conservadorismo, para o moralismo e uma suposta fé dos eleitores", avalia Ângela Carrato. .
"Mas não é disso que se trata as eleições municipais. Não dá para administrar uma cidade com tantos desafios simplesmente falando em ‘Deus, pátria e família’. As pessoas dependem de transporte público, saúde, e educação. Engler não tem clareza sobre nada disso", continua.
Na ALMG, o deputado se absteve ou votou a favor de projetos polêmicos apresentados por Romeu Zema, como o reajuste de 300% no salário do governador, a Reforma da Previdência, a Reforma Administrativa, que modificou a estrutura de fiscalização e concessão de licenciamento ambiental, a concessão de benefícios fiscais às locadoras de veículos, entre outros.
Em 2021, Engler se posicionou contra um projeto de lei que tinha o objetivo de contribuir no enfrentamento à discriminação sexual e de gênero. Nas discussões sobre a proposta, o deputado, que era filiado ao PRTB, chegou a afirmar que a legislação "acaba com o conceito de homem e mulher em Minas Gerais".
Durante a pandemia da covid-19, o candidato também deu declarações contrárias à obrigatoriedade da vacinação da população e defendeu a utilização de hidroxicloroquina para "tratamento precoce", mesmo com as instituições científicas e da saúde afirmando que a efetividade do remédio para a doença não era comprovada.
Bruno Engler também já foi condenado pela disseminação de notícias falsas nas redes sociais. Em um dos casos, ele foi obrigado a pagar uma indenização de R$ 60 mil ao influenciador digital Felipe Neto.
Mauro Tramonte (Republicanos)
O candidato de Zema e Kalil é natural de Poços de Caldas, município do interior de Minas Gerais, onde disputou um cargo público pela primeira vez, em 2004, e não foi eleito. Mauro Tramonte também está em seu segundo mandato na ALMG, mas tornou-se conhecido na capital mineira principalmente por ser apresentador de um programa diário de televisão há 16 anos. Da primeira para a sua segunda eleição, o deputado perdeu mais de 400 mil votos.
"Tramonte teve um fraco desempenho como deputado estadual. Outro aspecto que complica a campanha dele é que suas propostas para BH são muito fracas. Ele diz que vai ouvir as pessoas, mas, ao se apresentar como candidato, ele já deveria ter as suas principais propostas elaboradas", avalia Ângela Carrato.
"O belo-horizontino tem clareza dos principais desafios da cidade, mas como o Mauro Tramonte vai falar do enfrentamento das questões do transporte e da saúde, por exemplo, sendo que ele tem o apoio de duas figuras que poderiam ter sido importantes para resolver esses problemas e não o fizeram?", indaga.
Buscando fugir da polarização nacional, ao ser questionado sobre em quem votou nas eleições presidenciais de 2022, o candidato apenas afirmou à imprensa que "votou na coligação de seu partido". Na época, o Republicanos estava coligado com Jair Bolsonaro.
Na ALMG, o deputado votou a favor do reajuste salarial de 300% para Romeu Zema e da Reforma Administrativa.
A vice de Mauro Tramonte, Luísa Barreto (Novo), além de ser do mesmo partido do governador, é ex-secretária de Estado, Planejamento e Gestão do governo. Enquanto estava na pasta, ela protagonizou embates com as categorias do funcionalismo público, que denunciam que a gestão retira direitos e não valoriza os profissionais.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Elis Almeida