Da atenção básica à especializada, a população de Belo Horizonte (MG) enfrenta um conjunto de desafios em relação à saúde pública. Equipes de saúde da família com alta demanda, fragilidade no programa de atendimento domiciliar, baixa oferta de consultas e tempos longos de espera, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) lotadas e baixa articulação da rede são algumas das questões.
Faltando poucos dias para o primeiro turno das eleições municipais, especialistas avaliam ao Brasil de Fato MG as propostas sobre o tema que constam nos programas de governo dos candidatos à prefeitura. Os candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte melhor posicionados nas pesquisas eleitorais e do campo da direita, Mauro Tramonte (Republicanos), Fuad Noman (PSD) e Bruno Engler (PL) apresentam propostas genéricas e inconsistentes, apontam médicos ouvidos pela reportagem.
No campo progressista, os planos de Rogério Correia (PT), em quinto lugar nos levantamentos, e Duda Salabert (PDT), que aparece em segundo lugar na pesquisa mais recente, em empate técnico com Engler e Noman, foram melhor avaliados pelos especialistas.
Propostas contraditórias, genéricas e incoerentes na direita
Candidato à reeleição, Noman não apresenta propostas para uma nova gestão e consta em seu programa apenas um balanço do que já foi feito pela prefeitura.
Engler afirma que irá digitalizar todas as informações do sistema de saúde municipal, expandir a infraestrutura, implementar o teleatendimento, desenvolver ações educativas, entre outras.
Já Tramonte aponta como diretrizes o aumento do horário de funcionamento dos centros de saúde, a criação do aplicativo "Zap da saúde", a modernização do sistema e o fortalecimento das políticas de prevenção.
Em sexto lugar na pesquisa eleitoral mais recente, Carlos Viana (Podemos) diz que irá melhorar a estrutura dos equipamentos de saúde, reduzir as filas de espera, valorizar os trabalhadores e ampliar o sentimento de acolhimento da população.
Gabriel Azevedo (MDB), que aparece na sétima posição, diz que irá criar um banco de dados inteligente, diminuir a espera por consultas especializadas, ampliar a rede de saúde mental, promover a vacinação em massa para prevenir epidemias, entre outras medidas.
O médico sanitarista Unaí Tupinambás avalia que esses candidatos apresentam propostas contraditórias, genéricas ou incoerentes.
"As propostas dos outros candidatos [fora do campo da esquerda] não se sustentam e não dialogam com a Rede de Assistência de forma clara. Não citam os Conselhos Municipais de Saúde e nem dialogam com os trabalhadores da saúde, desprezando esses fóruns de debate. Porém, democracia e saúde andam de mãos dadas", comenta.
A opinião é endossada pela médica sanitarista e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Alzira de Oliveira Jorge, que lista algumas das insuficiências nos programas.
"Em relação a Bruno Engler, por exemplo, a maioria das propostas são generalidades, sem especificações. Ele propõe a descentralização de atendimento especializado para as Unidades Básicas de Saúde (UBS), o que não faz sentido e nem tem viabilidade", exemplifica a professora da UFMG.
"Já Carlos Viana passa a impressão de desconhecimento da realidade sanitária em três propostas: a criação de um centro de referência do idoso, como se apenas um desse conta da demanda; a criação de um centro de referência para a população LGBT, sendo que também seriam necessários mais de um; e a realização de atendimentos de doenças raras nos postos de saúde, sendo que as doenças raras exigem tratamento específico e é impossível serem cuidadas nos postos de saúde", continua Alzira.
Planos da esquerda
Para Alzira, os planos de Rogério Correia e Duda Salabert, ambos do campo progressista, são os que melhor apontam resoluções para o atual cenário.
"Rogério Correia tem um programa bem direcionado e consistente para a resolução desses desafios. Duda também toca em algumas questões importantes. O candidato do PT, além de apontar a melhoria na estrutura de equipamentos e a valorização das pessoas, propõe, de forma bem acertada, a ampliação do acesso e qualidade da atenção primária", comenta.
"Ele toca naquilo que é muito central: a redução da quantidade de pessoas atendidas por equipe de saúde da família. Rogério propõe o que o movimento sanitário já aponta há muito tempo como ideal", explica.
O candidato propõe que cada equipe de saúde da família fique responsável pelo atendimento de 2 mil pessoas. Atualmente, um grupo de profissionais cuida de 4 mil habitantes.
Correia também defende a ampliação das equipes multiprofissionais, de saúde bucal e de saúde mental, além da expansão das academias da cidade e a redução da mortalidade materna e infantil.
"Depois de 25 anos, a partir de 2016, vimos o aumento das mortalidades materna e infantil. O candidato do PT também aponta um novo modelo de atenção obstétrica, com um maior cuidado com as gestantes. Ele traz também propostas de equidade para populações em situação de vulnerabilidade e é o único que cita alguns grupos específicos, como moradores de vilas e favelas", destaca Alzira.
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Para ela, outra novidade importante no programa de Correia é a implementação de "territórios da cidadania", que deve ajudar a integrar as políticas sociais e avançar na gestão democrática do município.
"Também destaco o programa 'Uma só saúde para todos os seres vivos', que junta a discussão da vigilância em saúde, da zoonose, da prevenção de doenças, além de outras estratégias", complementa Alzira.
A professora da UFMG avalia que as propostas de Salabert não são muito amplas, mas tocam em questões que ajudam a enfrentar desafios importantes do Sistema Único de Saúde (SUS).
"Não é um programa extenso nem detalhado, mas toca em questões importantes. Ela fala da revisão de salário dos servidores, na implantação de um programa continuado de formação dos trabalhadores, propõe apoio institucional para as unidades básicas, ampliando as equipes de saúde da família etc", destaca Alzira.
Olhar atento à saúde mental, fortalecimento dos conselhos de participação e ampliação da rede de serviço de convivência para pessoas idosas também aparecem no programa da candidata do PDT.
Outras propostas
Além de Correia e Salabert, a disputa conta com outros três candidatos do campo da esquerda. Indira Xavier (UP) propõe a ampliação das unidades de saúde da família, a capacitação de profissionais, o fim das parcerias público-privadas (PPPs), a realização de concursos, a criação de uma empresa municipal para produção de medicamentos, entre outras iniciativas.
Lourdes Francisco (PCO) defende que a saúde pública deve ser colocada a serviço dos trabalhadores e, portanto, não pode ser controlada por empresas privadas. Wanderson Rocha (PSTU) promete acabar com a "privatização continuada" da saúde, pagar o piso salarial nacional dos profissionais, a estatização dos hospitais filantrópicos, a criação de uma política de drogas, a ampliação da rede do SUS, entre outras medidas.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Elis Almeida