Fadi Deeb, de 39 anos, é o único atleta paralímpico palestino a concorrer nos Jogos de Paris deste ano. Portando a bandeira da Palestina, Deeb leva aos jogos o símbolo da luta na Faixa de Gaza, alvo do massacre israelense que ultrapassou as 40 mil mortes desde o dia 7 de outubro de 2023. “Ainda estamos aqui, seguiremos lutando e seguiremos vivos", disse em entrevista à agência France24 na quinta-feira (29).
“Estou competindo pelos mais de 40 mil mortos e mais de 90 mil feridos em Gaza. Recebo pelo menos 15 a 20 mensagens diárias de meus amigos em Gaza dizendo: 'tente continuar', 'eu o apoio', 'você é a nossa voz para o mundo', 'você é o nosso herói', apesar da situação muito difícil em que se encontram nesse genocídio, eles ainda me enviam mensagens incentivando-me a continuar.”
Mais de 15 membros de sua família foram mortos em ataques israelenses, incluindo seu irmão, morto por um disparo de um franco-atirador israelense em 2001. O atleta carrega também no corpo a marca da violência praticada por Israel no território: foi o ataque de um sniper israelense que tirou o movimento de suas pernas, quando tinha apenas 17 anos. Jovem promissor no esporte, Deeb havia ingressado, um ano antes, na equipe palestina de vôlei em Gaza.
“Temos uma expressão no idioma árabe que diz 'você deve ser como a água', ou seja, você deve ser flexível, nada pode impedi-lo. Eu disse a mim mesmo: 'é difícil, mas não é o fim da minha vida'. Você tem que pensar positivamente. Essa mentalidade poderosa e minha religião me ajudaram a ser mais flexível no que diz respeito ao esporte. Decidi que deixaria de jogar, por exemplo, tênis de mesa e basquete para jogar tênis de mesa e basquete em cadeira de rodas", relatou na entrevista.
Nascido em 1984, na cidade de Gaza, Deeb iniciou na prática esportiva com 10 anos de idade, incentivado pelo professor de ginástica da escola primária e árbitro internacional Mohammed Elshekh Khalil, período em que aprendeu a jogar futebol, vôlei, basquete e tênis.
Embora o Comitê Paralímpico de Paris 2024 tenha selecionado Deeb para competir no evento de arremesso de peso, ele também é um jogador de basquete e se juntou à recém-criada equipe nacional de basquete palestino em 2019, ainda que as rígidas restrições de Israel às viagens de Gaza para a Cisjordânia tornem difícil para os palestinos competirem em casa, quanto mais no cenário internacional.
Desde os ataques de 7 de outubro, cerca de 400 atletas e membros de equipes de apoio palestinos foram mortos. Outros tantos não conseguiram treinar ou viajar devido aos bombardeios e às restrições impostas por Israel, de acordo com o Comitê Olímpico Palestino (COP).
Punição a Israel
O Comitê Olímpico Palestino (COP) pediu ao Comitê Olímpico Internacional (COI) a "imediata exclusão de Israel das Olímpíadas de Paris 2024". Os palestinos querem que a entidade aplique a Israel a mesma regra que foi utilizada para suspender a Rússia dos Jogos, a figura jurídica da "violação da trégua olímpica".
A trégua olímpica prevê a suspensão de conflitos armados durante os sete dias anteriores ao início dos Jogos Olímpicos e sete dias após o final dos Jogos Paralímpicos. A tradição iniciada nos Jogos da Grécia antiga prossegue até hoje e nas Olimpíadas de Paris, a trégua acontece de 19 de julho a 15 de setembro de 2024.
A violação da trégua olímpica em 2022 foi justificativa para o COI suspender Rússia e Belarus. Naquele ano, a pausa vigorou entre 4 de fevereiro e 20 de março para as Olimpíadas de Inverno de Pequim e, neste período, teve início o conflito na Ucrânia.
Como resultado, atletas dos dois países foram proibidos de atuar com seus símbolos nacionais. Apenas 15 esportistas russos vão competir em Paris, com uniformes, bandeira e hino neutros, definidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
*Com France24 e Telesur
Edição: Leandro Melito