Tanto o samba de Zeca, quanto o rap de BK são expressões autênticas da vida, da alegria e das lutas
Salve, tropa! Hoje, nesta coluna, nós só temos a celebrar! Tenho o imenso orgulho de prestar uma justa homenagem a dois gigantes da nossa cultura popular: Zeca Pagodinho e BK. Há alguns dias, aprovamos os títulos de "Benemérito do Estado do Rio" ao Zeca e o "Prêmio Marielle Franco" ao BK, ambos pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), e eu não poderia estar mais feliz! Celebraremos não apenas suas trajetórias musicais, mas também o que eles representam para a cultura, especialmente periférica, do nosso estado e do Brasil.
Tanto o samba de Zeca, quanto o rap de BK são expressões autênticas da vida, da alegria e das lutas que emanam das comunidades e subúrbios do país.
Lenda viva do samba, Zeca Pagodinho, nascido Jessé Gomes da Silva Filho, simboliza a cultura carioca e a malandragem do samba, sendo um verdadeiro embaixador da nossa brasilidade. Quem nunca cantou "Deixa a Vida Me Levar" com esperança num mundo melhor? E o hino dos apaixonados, "Coração em Desalinho"? Ou então já entoou a reza “Ogum” com toda força? São tantas músicas que ecoam nas ruas, bares, pagodes e festas, unindo pessoas de todas as classes sociais em torno de um sentimento comum: a celebração da vida, da alegria e da superação. Zeca é um símbolo de resistência cultural! E, além de tudo, é um grande filantropo, engrandecendo ainda mais sua contribuição para a sociedade com seus trabalhos no Instituto Zeca Pagodinho, em Xerém.
BK, por sua vez, representa a nova geração da música preta. Se você não conhece, é o momento de procurar nas plataformas. Abebe Bikila Costa Santos, nascido na Cidade de Deus e criado no Catete, é um dos grandes nomes do rap nacional. Suas letras poéticas retratam a realidade das ruas cariocas, falando dos desafios da negritude e também de amor.
BK é a voz de uma juventude que clama por justiça, igualdade e respeito.
Sua obra é um espelho das contradições e das esperanças de quem vive à margem, e é por isso que ele é tão relevante para o cenário musical e social do Brasil. Todos nós queremos viver um amor cantado em “Planos” e sabemos como é ser a “Continuação de um Sonho” para nossa família, ainda mais quando enfrentamos desigualdades sociais.
O samba e o rap são diferentes, é claro, mas um bebe da fonte do outro. Compartilham sonoridades, líricas e poesias, e também de uma essência comum: ambos nascem das camadas populares e carregam em suas melodias e letras a força de uma cultura rica e plural, retratando a realidade de quem vive às margens. O hip hop, o funk, o samba têm relações íntimas e são muitos os artistas que mergulham e experimentam as misturas de gêneros tão amados pelo brasileiro. O samba surge como a voz dos descendentes de africanos e dos moradores das primeiras favelas do Rio. O rap torna-se a trilha sonora das novas gerações a partir da década de 80, abordando temas duros.
Ambos contam histórias de nossos antepassados e escrevem nosso futuro.
Zeca e BK são mais do que artistas; são cronistas do cotidiano e grandes atores de modificação de realidades. Suas músicas narram as histórias que muitas vezes não são contadas na música brasileira, mas que fazem parte do dia a dia de milhões de brasileiros. Em "Vai Vadiar", Zeca canta sobre a dor do amor não correspondido com a mesma leveza e potência que BK, em "Música de Amor Nunca Mais”. O mesmo vale para “Ser Humano” e “Universo”, letras que falam da esperança na vida e desejos. São narrativas que se complementam na missão de dar voz, ainda mais, aos invisíveis e quem se identifica de cara com o que ouve.
Ao homenagear Zeca Pagodinho e BK, nosso mandato não só celebra suas brilhantes contribuições para a cultura brasileira, mas também exalta a rica diversidade que faz o nosso estado do Rio pulsar. Esses dois gigantes nos mostram que a arte é uma força vibrante, capaz de unir gerações e transformar vidas, trazendo beleza e poesia aos nossos becos, esquinas, encruzas e vielas. Suas trajetórias são um testemunho da vitalidade da cultura periférica, que se renova e floresce com uma energia contagiante. Que essa merecida homenagem inspire todos nós a valorizar cada vez mais nossos artistas populares, que nos enchem de orgulho, alegria e esperança, e que suas músicas continuem a ecoar pelo mundo, fortalecendo o coração e a alma do nosso povo.
A cultura popular é nosso patrimônio e devemos proteger e celebrar! Viva Zeca! Viva BK!
*Dani Monteiro é deputada estadual (Psol) e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Jaqueline Deister