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Com estreia nesta quinta (29), filme 'Zé' revela morte de estudante pela ditadura nos 'porões do Recife'

Longa é inspirado em livro de mesmo nome e retrata vida de José Carlos Novaes da Mata Machado, assassinado em 1973

Ouça o áudio:

Personagem Zé, interpretado por Caio Horowicz, realizando aulas de alfabetização no período da clandestinidade - Divulgação/Zé
As pessoas que entrevistei nunca tinham contado sua história, nunca tinham falado de tortura

Estreia nesta quinta-feira (29) o filme , um recorte da biografia de José Carlos Novaes da Mata Machado, uma das principais lideranças do movimento estudantil de Minas Gerais durante a ditadura militar (1964-1985). 

Com direção de Rafael Conde, o longa é inspirado no livro homônimo de Samarone Lima, lançado em 1998, resultado da pesquisa de conclusão de curso de Jornalismo do autor. 

José Carlos Novaes cresceu em Belo Horizonte e desde cedo se vinculou ao movimento estudantil dentro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), chegando a ser vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). 

O assassinato aconteceu no Recife (PE), quando ele tinha 27 anos, após longas sessões de tortura, que nunca foram devidamente reveladas pela ditadura. O regime militar alegou que o estudante morreu por conta de um tiroteio do qual ele teria participado. 

A chegada do militante no Recife aconteceu por conta do início da perseguição que ele começou a sofrer devido ao seu vínculo com o movimento estudantil, explica o diretor ao programa Bem Viver desta quinta-feira (29). 

"Zé era filho de Edgard de Godoi da Mata Machado, um jurista muito conhecido, professor da Escola de Direito da UFMG, de uma família mineira tradicional", lembra Conde. 

José Carlos Novaes decide abandonar a vida que tinha em Belo Horizonte e passa a viver na clandestinidade. Trabalhou com alfabetização e conscientização política no interior do Nordeste, a história retratada no longa.  

"O filme acabou se tornando algo que pode ser um thriller político mesmo. A gente escolheu um recorte para falar desse período e retratar a vida dos estudantes que desafiaram a ditadura. O Zé morre com 27 anos", argumenta o diretor. 

O autor do livro tem expectativa de que o filme circule mais do que o livro, embora ele próprio tenha se surpreendido com o nível de adesão atingido pela obra original.  

"O livro foi uma surpresa para mim, porque foi o meu primeiro livro, quando eu tinha 28 anos. E eu não tive o curso de biografia, eu fiz uma biografia com o meu recorte e as pessoas ficaram muito tocadas com ele", comenta também em entrevista ao programa Bem Viver

Samarone Lima lembra que, durante a apuração para o livro, o tema ainda era tabu.  

"Praticamente todas as pessoas que entrevistei na pesquisa, eu acho que foram mais de 80, nunca tinham contado sua história, nunca tinham falado de prisão, de tortura."

O biógrafo revela o método que aplicou para consegui extrair das pessoas o relato que nunca tinham tido coragem de comentar em púbico antes 

"Eu não começava a conversa perguntando sobre o Zé, eu perguntava sobre a história da pessoa, se tinha participação política na família e tal, como foi, e a pessoa contava a história da vida dela e chegava ao ponto que conhecia o Zé, então eu acabei colhendo muitas histórias de vida incríveis." 

Segundo os relatos colhidos pela Comissão da Verdade, José Carlos Novaes foi morto após tortura nos porões do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), do Recife, no dia 28 de outubro de 1973. Com ele estava Gildo Macedo Lacerda, aluno do curso de economia da UFMG, também torturado e morto no local.

À época, o Exército brasileiro afirmou que as mortes teriam ocorrido num confronto com um terceiro membro da militância estudantil.

O elenco do longa reúne Caio Horowicz (Zé), Eduarda Fernandes (Bete), Samantha Jones (Grauninha), Rafael Protzner (Gilberto), Yara de Novaes (Dona Yedda), Gustavo Werneck (Edgar) e Alexandre Cioletti (Hélio). 


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Edição: Martina Medina