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'Nossa mídia não compreendeu potencial das Paralimpíadas', diz secretária nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência

A secretaria integra o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania e apoia a pasta dos Esportes

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Anna Paula Feminella integra o ministério dos Direitos Humanos e Cidadania desde o início deste governo - Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Nossa mídia não compreendeu potencial das Paralimpíadas

À véspera do início dos jogos Paralímpicos de Paris uma expectativa que surge é se o país vai acompanhar, torcer e se emocionar com a participação dos nossos atletas, assim como aconteceu há menos de um mês, quando o Brasil participou das Olimpíadas. 

Na última edição das Paralimpíadas, no Japão, em 2021, nossa equipe subiu 72 vezes ao pódio, com 22 ouros. O número supera o total de medalhas que o país ganhou nos jogos Olímpicos da mesma edição e também na de Paris.  

No entanto, para a secretária Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, Ana Paula Feminella, o envolvimento da população é outro. Ela atribui esse desequilíbrio à mídia brasileira, que “não compreende esse potencial das Paralimpíadas”, disse em entrevista ao programa Bem Viver desta terça-feira (27). 

A secretaria integra o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania e apoia a pasta dos Esportes no desenvolvimento dos atletas paralímpicos por meio do programa Viver Sem Limites. 

“Acho que tem um entendimento ainda muito limitado que se deve ao capacitismo que a gente vive, a cultura que não reconhece as pessoas com deficiência, como sujeitos de direitos, como pessoas também capazes de fazer grandes feitos”, comenta Feminella. 

“A gente precisa que a mídia em geral ainda valorize mais, que ocupe mais espaço nessa visibilidade”, cobra a secretaria.  

Os Jogos Paralímpicos de Paris começam nesta quarta-feira (28), com a realização da cerimônia de abertura, a partir das 15h. Os porta-bandeiras brasileiros serão os campeões paralímpicos Beth Gomes, do atletismo, e Gabriel Araújo, da natação.  

As competições se iniciam na quinta-feira (29), já com intensa participação do Brasil, representado no parabadminton, tiro com arco paralímpico, goalball e vôlei sentado.  

No total, 279 esportistas integram a equipe brasileira, sendo a maior delegação brasileira convocada para uma edição dos jogos fora do Brasil. Também será registrada, em Paris, a maior participação feminina da história dos Jogos Paralímpicos.   

Feminella destaca esse potencial das mulheres para os Jogos: “Eu acredito muito que as mulheres vão ser o grande destaque na nossa delegação brasileira, que é muito qualificada", diz. 

A secretária celebra a potência paralímpica que o Brasil representa mundialmente, qualificando-se entre os 10 primeiros países no quadro geral de medalhas nas últimas edições. 

No entanto, reconhece que o país em si não oferece tanta acessibilidade para a população com deficiência, tanto quanto poderia pela estrutura que os atletas recebem.  

“As cidades ainda são territórios hostis à maior parte das pessoas com deficiência. E aquelas pessoas que estão em destaque nas paralimpíadas são as pessoas que tiveram oportunidades”. 

“Mas há milhões de pessoas com deficiência, principalmente alguns territórios que estão mais distantes das políticas públicas, os territórios mais vulnerabilizados, como, por exemplo, o território rural, ribeirinhos, nos quais as pessoas estão mais distantes dos equipamentos públicos", pontua. 

Confira a entrevista na íntegra 

Quais são as expectativas para os Jogos?

Eu acredito muito que as mulheres vão ser o grande destaque na nossa delegação brasileira, que é muito qualificada.  As oportunidades que os atletas paralímpicos têm encontrado para assumir esses protagonismos são muito importantes. 

Acho importante que se verifique que isso faz parte de um conjunto de ações, que passa também pela educação inclusiva, pelo investimento na saúde das pessoas com deficiência.  

Então, quando a gente fala em esportes paralímpicos, a gente também está falando de pessoas que estão construindo aí o seu protagonismo e sua vida foi viabilizada através de políticas públicas efetivas para esse público. 

Como a sua secretaria tem acompanhado a preparação dos atletas para os Jogos?

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania coordena o plano Viver sem Limite, que une ações com Ministério dos Esportes em torno da promoção dos esportes paralímpicos.  

Então, o Ministério dos Direitos Humanos acompanha sim, não no detalhe, mas acompanha também as outras ações que promovem e desencadeiam nesses resultados que os atletas paralímpicos brasileiros trazem. 

As ações do esporte paralímpico que a gente acompanha são as ações nos centros paralímpicos, promovendo os esportes em todos os estados. Essas ações são acompanhadas por nós e a gente entende que o lugar com deficiência é em todo lugar. 

A gente tem um acompanhamento também pelo Conade, o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, dessas ações dos ministérios dos esportes. 

A que você atribui o Brasil ter um desempenho melhor nas Paralimpíadas que nas Olimpíadas?

Eu acho que se deve também ao investimento público nos esportes paralímpicos que o Brasil tem. E comparando o Brasil com os outros países, a gente tem uma política de educação inclusiva, por exemplo, que viabiliza o desenvolvimento dos jovens, as crianças, até a condição de vida adulta com mais autonomia, com mais saúde e condições de prática desportiva.  

Mas também tem uma questão de a gente priorizar esses investimentos, mais do que muitos países. 

Secretária, ao mesmo tempo que temos esses investimentos para os atletas, vemos cidades sem estruturas mínimas para as necessidades das pessoas com deficiência. Como temos que enfrentar essa situação? 

Acredito que as cidades ainda são territórios hostis à maior parte das pessoas com deficiência. E aquelas pessoas que estão em destaque nas paralimpíadas são as pessoas que tiveram oportunidades.  

Mas há milhões de pessoas com deficiência, principalmente alguns territórios que estão mais distantes das políticas públicas, os territórios mais vulnerabilizados, como, por exemplo, o território rural, ribeirinhos, nos quais as pessoas estão mais distantes dos equipamentos públicos. 

A gente fala que não é que a gente quer estar segregado da sociedade, a gente quer ter oportunidade de estar na sociedade, seja na escola, no seu território. 

Sair de casa para muitas pessoas ainda é uma aventura ou um desafio muito grande, às vezes uma impossibilidade. As pessoas com deficiência, seja pela falta de acessibilidade ou pela falta de oportunidades, são um público que ainda conta os piores indicadores socioeconômicos. 

Então a gente tem ainda um índice de analfabetismo muito grande comparando com as pessoas sem deficiência. 

Ouvimos muito relatos de atletas sobre a insatisfação de receberem menos mídia do que os atletas olímpicos. Esse é um desafio do governo?

Eu acredito que a gente tem de avançar muito ainda para as nossas mídias compreenderem esse potencial das Paralimpíadas. Acho que tem um entendimento ainda muito limitado que se deve ao capacitismo que a gente vive, a cultura que não reconhece as pessoas com deficiência como sujeitos de direitos, como pessoas também capazes de fazer grandes feitos. 

A gente precisa que a mídia em geral valorize ainda mais, que ocupe mais espaço nessa visibilidade.  

Então imagina, se nas Paralimpíadas, onde a gente tem pessoas que são grandes batalhadores, gente que conseguiu superar grandes limites, com grandes esforços, ainda são invisibilizadas... imagina as pessoas com deficiência, que não são atletas, que lutam ainda para viver, para ter um emprego, para ter uma vida digna. 

Mas acredito que a gente está melhorando, acho que já foi pior, acredito que o nosso país cada vez desperta mais para essa visibilidade.


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Edição: Nathallia Fonseca