HISTÓRIA E MEMÓRIA

Nova exposição do Museu da Língua Portuguesa mostra contribuições africanas no idioma brasileiro

Mostra tem curadoria de Tiganá Santana; Museu completou 3 anos reaberto após ficar inativo por causa de incêndio de 2015

Ouça o áudio:

Palavras do português falado no Brasil que vieram do quimbundo, língua africana do grupo banto - Foto: Kaique Santos
A exposição, num sentido linguístico, filosófico, poético, se direciona para informar ou lembrar

Dendê, canjica, quilombo, samba e até fofoca são algumas das palavras das “Línguas africanas que fazem o Brasil”, nome da nova exposição do Museu da Língua Portuguesa, localizado no centro de São Paulo.

O nome faz referência a línguas que tiveram e têm participação importante na configuração do nosso idioma. Seja por influenciar a escrita ou ainda o vocabulário oral, na forma de pronunciar as palavras e de entoar as frases.

Essa estrutura e influência africana, para além da origem europeia, pode não ser do conhecimento de muitos brasileiros, explica Tiganá Santana, curador da exposição.

“Por razões coloniais e por força do racismo, se pensou no fato de as pessoas, claro, não terem ciência dessas presenças na sua vida, na sua vida corrente, na sua vida cotidiana, no seu pensamento, na sua fala, na sua escrita”.

“Então é por essa razão que toda a exposição, num sentido linguístico mais filosófico, poético, estético, se direciona para lembrar ou informar as pessoas”, conta sobre a ideia.

E a proposta de resgatar memórias e a história da língua vem com a interatividade. Quem vai à exposição pode interagir com alguns elementos que ajudam a contar sobre essa herança de línguas como iorubá e as do grupo Bantu no português falado no Brasil: espelhos, conchas de búzios, miçangas, tambores, música e os adinkras. 

Assista a reportagem em vídeo, exibida no programa Bem Viver:

Os adinkras são símbolos africanos bastante presentes em portões e gradis de casas brasileiras até hoje, ressalta Tiganá. Como sankofa, que significa a sabedoria de aprender com o passado para construção do presente e do futuro.

“Uma exposição como essa não poderia, de algum modo, deixar de se direcionar para essa outra perspectiva de compreensão do que seja, do que possa ser língua: modo de existir. Muitos desses gradis se relacionam com um sistema complexo de linguagem dos [povos] Ashanti: os adinkras. Não à toa a gente pode identificar, por exemplo, constantemente a presença da palavra/expressão/manifestação filosófica/ideograma sankofa, né?”, exalta.

E como a exposição vai além da linguagem falada ou visual, a experiência fica ainda melhor. A acessibilidade com braille e Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi também um detalhe importante que chamou a atenção da museóloga Amanda Tojal, que diz amar o Museu da Língua Portuguesa e trabalha com inclusão.

“Eu vim pela segunda vez à exposição das línguas africanas. Primeiramente para aproveitar essa exposição maravilhosa que nos apropria, que nos faz apropriar da nossa língua. É uma língua que a gente fala e muitas vezes não tem a sensação de que vem de tantos outros falares, que vem de tantas palavras africanas que estão no nosso dia a dia e que a gente não tem ainda consciência que está falando”, diz ela.

“A segunda questão é que eu trabalho com a acessibilidade cultural e essa exposição traz acessibilidade. Eu estava com meu colega aqui que era surdo, amanhã eu vou trazer um amigo cego. Então é uma exposição que também traz os outros públicos que precisam de uma comunicação mais especializada e eles encontram aqui”, comemora.

A exposição temporária “Línguas africanas que fazem o Brasil” foi inaugurada no ano em que o Museu da Língua Portuguesa completou três anos de reabertura, após um tempo inativo por causa do incêndio de 2015. E poderá ser visitada até janeiro de 2025.

Exposição principal

Mas o Museu também conta com a exposição principal, agora renovada, no 2º e 3º andar do prédio. Instalações interativas e lúdicas, como as chamadas Beco das Palavras e a Praça da Língua, são algumas das experiências mais queridas dos visitantes.

No beco, o prêmio para quem juntar a palavra é conhecer justamente a origem dela. Fica fácil e ainda mais interessante aprender, sendo um atrativo importante para as crianças. Em média, 23 mil pessoas já visitaram o Museu da Língua Portuguesa a cada mês só neste ano.

“O Museu da Língua Portuguesa entende a língua como parte da nossa cultura. Então, a gente tem uma grande linha do tempo que conta um pouco essa história, mas tem diversas experiências”, valoriza a diretora técnica do museu, Roberta Saraiva.

“Porque o nosso desafio é sempre como contar isso de forma bastante lúdica. Por isso somos um museu para diversas idades e diversos públicos. A nossa exposição de longa duração é a mesma, mas é muito diferente porque ela também incorpora, por exemplo, todos os países de Língua Portuguesa no mundo. Então tem um pouco essa dimensão, essa nova dimensão dentro do nosso acervo”, destaca Roberta, que convida o público ao museu.

Onde fica, qual o horário e quanto custa?

O Museu da Língua Portuguesa fica na Praça da Luz, pertinho da Estação da Luz, no Centro Histórico de São Paulo, e abre de terça a domingo, das 9h às 16h30. O público visitante pode ficar no espaço até às 18h. 

Durante a semana, a entrada custa R$ 24. Mas aos sábados e domingos (até 31 de agosto), a entrada é gratuita.

Edição: Nathallia Fonseca