MEIO AMBIENTE

'Se aumentar mais, vamos ter período de ar muito insalubre pra saúde', diz ambientalista sobre queimadas

Ane Alencar, diretora de ciência do Ipam, analisa aumento da fumaça pelo país e consequências para a população

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Com temporada recorde de queimadas na Amazônia, fumaça se espalha por estados brasileiros - Foto: Evaristo Sa / AFP

A temporada recorde de queimadas na Amazônia está formando um corredor de fumaça que já se espalha por pelo menos dez estados do Brasil. De janeiro até agora, já foram registrados 63 mil focos de fogo no bioma, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora a região com imagens de satélite.

O número é o mais alto desde 2014 e a tendência é aumentar, considerando que o mês de agosto ainda não terminou, observa Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Ela analisou o que está acontecendo durante o jornal Central do Brasil desta quinta-feira (22).

"A gente está tendo realmente um agosto com uma quantidade de queimadas muito alta. Já batemos, inclusive, o número de focos de calor do ano passado. É um fenômeno que tem relação com as condições climáticas", explica.

"A gente está passando por uma segunda seca muito forte na região e o que tudo indica é que ainda vamos ter no final do mês de agosto e em setembro uma atividade de fogo muito elevada. E isso, claro, gera fumaça, muita fumaça."

Ane explica que a fumaça se espalha seguindo a corrente da circulação de ar que leva a umidade da Amazônia para as regiões centro-oeste e sul do país. Há registros de forte fumaça em estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, parte de Minas Gerais e trechos de São Paulo.

"A fumaça concentrada gera um problema sério para a saúde", alerta a diretora do Ipam. "Normalmente, quando isso acontece na Amazônia, nós temos dias em que estamos respirando um ar que é muito impróprio. E as principais consequências são doenças respiratórias, questões nos olhos e muitas vezes as pessoas nem têm como se tratarem, um hospital perto, enfim. Se as queimadas aumentarem ainda mais, nós vamos ter um período intenso de um ar muito insalubre para a saúde", reforça.

As queimadas já atingiram o maior nível em 17 anos. E outra causa, associada à seca, está relacionada ao fenômeno El Niño, que atingiu o país entre 2023 e 2024.

Nesta quarta-feira (21), o governo federal fez uma reunião com os governadores dos estados que fazem parte da Amazônia Legal para tratar sobre a prevenção e controle de incêndios na região.

Após a reunião, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima anunciou a montagem de frentes de atuação onde estão os maiores registros neste momento. Ações serão concentradas em 21 municípios, que representam 50% dos focos de calor na Amazônia. Ane elogia as medidas e cobra atenção.

"O que a gente tem visto é uma movimentação importante de combate aos incêndios, mas a gente tem que entender muito bem a responsabilidade desses combates. Cada lugar desse na Amazônia tem um agente do governo, ou seja, dos governos estaduais, municipais ou federal, responsável por combater esse incêndio. Então, eu acho que o que a gente tem que olhar é essa articulação."

"É importante a gente entender o que tem sido feito do ponto de vista da articulação interinstitucional para saber se esse combate está sendo feito da melhor forma. Vários biomas, o Pantanal está queimando, a Amazônia está queimando, uma parte do Cerrado está queimando. Mais do que nunca, é super importante que todas as agências que atuam no combate ao fogo estejam trabalhando de forma articulada para dar conta do tamanho do problema", conclui.

A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta quinta-feira (22) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.

Edição: Nicolau Soares