O MapBiomas lançou nesta quarta-feira (21) sua coleção de mapas anuais de cobertura e uso da terra. O material mostra que o Brasil perdeu um terço de sua vegetação nativa desde a chegada dos colonizadores portugueses, em 1500. Até 1985, a perda de áreas naturais somava 20% do território nacional.
Metade do total da perda de áreas naturais – cerca de 55 milhões de hectares – ocorreu na Amazônia. O relatório analisa, além das áreas de mata, as superfícies de água e áreas naturais não vegetadas, como praias e dunas.
O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, representou o governo federal no seminário de lançamento do material. Em entrevista ao Brasil de Fato, Agostinho afirmou que o país precisa entender como acontece a ocupação do território.
"O Brasil é um país que ainda tem pelo menos metade do seu território coberto com por vegetação nativa, notadamente os ambientes florestais e savânicos. Para nós, entender isso é imprescindível. O Ibama vem trabalhando de maneira muito forte no combate ao desmatamento e a gente olha com muita atenção para o trabalho do MapBiomas, que reúne os grandes especialistas do Brasil, olhando para as imagens satélite e tentando entender todo o processo de ocupação", declarou.
Uma das preocupações levantadas pelos pesquisadores do MapBiomas diz respeito aos efeitos da supressão de vegetação na Amazônia, um dos principais estabilizadores do clima na região.
"A perda da vegetação nativa nos biomas brasileiros tende a impactar negativamente a dinâmica do clima regional e diminui o efeito protetor durante eventos climáticos extremos. Em síntese, representa aumento dos riscos climáticos", comenta o coordenador geral do MapBiomas, Tasso Azevedo.
O presidente do Ibama afirmou que as mudanças no clima já impactam florestas saudáveis. "Eu estou vendo, pessoalmente, florestas em que não houve fogo, que não houve extração ilegal de madeira, que estão sucumbindo, a biodiversidade está se perdendo com esses extremos de seca que a gente está vendo", relatou.
Muda o clima, muda a vida
As mudanças já são sentidas pela população, que passou a conviver nos últimos anos com temporadas curtas de chuvas muito intensas e longos períodos de seca, o que alterou a paisagem de diversas regiões do país. No Pantanal, por exemplo, houve uma redução acentuada na superfície de água, que passou de 21% em 1985 para 4% em 2023. Em todo o país, o corpo d’água – classificação que engloba rios, lagos, oceano e aquiculturas – teve uma redução de 18 milhões de hectares, segundo os mapas apresentados.
"Se você quiser saber sobre clima, você não precisa ler um relatório, você liga a TV, você abre a janela, e está acontecendo", destacou o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini.
Ele destacou que a agenda do clima deve ser de antecipação e intervenção direta na forma de ocupação do solo e uso dos recursos naturais, sob pena de colocar vidas em risco, como aconteceu no Rio Grande do Sul, com as enchentes que atingiram o estado em maio deste ano. E fez uma cobrança para que as instituições de Estado assumam suas responsabilidades e adotem medidas sérias de enfrentamento à emergência climática.
"Nós precisamos saber, por exemplo, no Rio Grande do Sul, qual o impacto de investimento social por não termos nos antecipado? Quantos Minha Casa Minha Vida nós perdemos no Rio Grande do Sul? Quantas UPAs? Quantas creches não vão reabrir ou estão fechadas nesse momento no Rio Grande do Sul? Esse tipo de dado é fundamental para que a gente faça a mobilização da máquina estatal para que aqueles que comandam hoje o governo federal, os governos estaduais, as prefeituras, entendam que o tamanho da derrota da inação é muito maior do que o esforço de fazer alguma coisa", declarou.
Astrini relatou ainda uma conversa que teve com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda durante a campanha eleitoral, e o alertou sobre as consequências da inação dos governos sobre a questão climática.
"A gente falava sobre a agenda do clima e eu dizia para ele o seguinte: presidente, se nós solucionarmos toda a agenda de clima, talvez a gente não tire ninguém da fila da fome. Mas se a gente não resolver agenda de clima, nós vamos jogar milhares de pessoas na fila da fome", contou.
Aquecimento dos oceanos
Uma novidade da mapas do MapBiomas deste ano é o mapeamento de recifes de coral em águas rasas, que podem ser detectados por satélites com sensores óticos. Segundo o estudo, existem 20,4 mil hectares de recifes de coral na costa leste do Brasil, sendo que a maior parte deles, cerca de 72%, se encontram em Unidades de Conservação Marinhas.
"A costa leste brasileira, sem grande descarga sedimentar de seus rios, possui águas claras, com grande penetrabilidade à luz. Este é um dos fatores que explicam a grande concentração de recifes de corais na região", afirma Cesar Diniz, da equipe de mapeamento da zona costeira do MapBiomas. O especialista pondera, no entanto, que o aumento da temperatura dos oceanos tem levado ao branqueamento e morte dos corais, o que compromete todo o ecossistema marinho.
"A primeira etapa foi fazer esse mapeamento amplo de corais rasos, e a próxima etapa é fazer o mapeamento desse branqueamento. A gente sabe que isso acontece de acordo com a mudança de temperatura da água oceano. É quase uma morte, não é definitiva, ele pode ter recuperação, mas sim, o recife de corais é berçário de muitas espécies. É um indicador de mudança climática importante, e tem que ser monitorado", anunciou Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.
Edição: Thalita Pires