Três semanas após as eleições que marcaram a vitória de Nicolás Maduro, chavistas e opositores foram às ruas ainda em uma disputa pelo pleito. Para apoiadores do governo, a defesa do resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) era a pauta principal da marcha que saiu da Avenida Libertador e foi até o Palácio Miraflores - sede do governo venezuelano - neste sábado (17). Já os opositores questionam os dados divulgados pelo órgão eleitoral e pedem a divulgação das atas eleitorais.
Maduro acompanhou a marcha e discursou para apoiadores no fim do ato. Ele acusou o opositor Edmundo González Urrutia de não se apresentar no debate político em um momento em que a oposição questiona as eleições do país e disse que o ex-embaixador planeja fugir do país "e levar o dinheiro para Miami".
"A direita fascista se irritou. Acreditaram que com os influenciadores de Miami iam mobilizar as ruas, e eu digo: falharam. Onde está Edmundo? Saia da sua caverna e mostre a cara", afirmou. O ex-candidato não tem participado das marchas da oposição e dá poucas declarações públicas desde a derrota. A principal encarregada de tentar mobilizar os manifestantes de direita é a ex-deputada ultraliberal María Corina Machado.
O presidente também denunciou a organização das manifestações que aconteceram em 29 de julho, dia seguinte às eleições do país. Ele sugeriu que Edmundo teria pago para os manifestantes promoverem os atos violentos.
Maduro reforçou um dos lemas da sua campanha: só o chavismo garante a paz. "Quando o povo chavista sai às ruas, a paz está garantida. Hoje tivemos uma mobilização imensa do povo, queria sair para recebê-los pessoalmente e vim com empurrões, sorrisos e abraços. Abrir as portas deste palácio presidencial ao seu dono, o povo venezuelano, único dono do poder político na Venezuela. Hoje posso dizer com absoluta certeza: vencemos de novo", disse.
Oposição também se organiza
Os apoiadores da direita se reuniram na zona leste de Caracas, mas não marcharam. Se organizaram em uma esquina da avenida Francisco de Miranda e esperaram o carro de som com María Corina chegar ao local. Eles questionam o resultado das eleições e afirmam ter recolhido as cópias de 80% das atas eleitorais, que, na soma, garantiria a vitória de Edmundo.
Norma Rivero foi presidente de uma mesa eleitoral e participou da marcha da oposição. Mas, afirmando que os resultados não foram corretos, disse que o processo no dia das eleições foi perfeito. A única exceção foi a transmissão dos dados no sistema, que apresentou uma lentidão dentro do que o governo afirmou ser um ataque hacker.
"Foi tudo perfeito, organizado, fluido, as relações entre fiscais do governo e oposição foi muito tranquila. A contagem dos votos foi correta, principalmente das urnas sorteadas para terem checados os votos impressos. A transmissão dos dados atrasou no momento de passar os dados das urnas por pen-drive para a máquina no que eles alegaram ter o ataque hacker", afirmou ao Brasil de Fato.
Já Alexa Garcia levou uma suposta cópia de uma ata grande. Apesar de contestar o resultado e "ter certeza que a oposição ganhou", ela afirma confiar que a Justiça da Venezuela vai resolver a questão das atas. "Temos fé na Justiça e esperamos que isso se resolva no Tribunal Supremo de Justiça [TSJ]. Mas também precisamos de ajuda internacional para isso", afirmou.
O processo eleitoral venezuelano está sob uma disputa judicial. Com a alegação da oposição de que o processo foi fraudado e a denúncia de ataque hacker pelo CNE, Maduro pediu uma investigação pela Justiça. O órgão eleitoral atrasou a divulgação dos resultados detalhados alegando que houve um ataque hacker contra o sistema eleitoral. O TSJ investiga os supostos ataques, recolheu todo o material eleitoral do órgão e ouviu nove dos 10 candidatos que disputaram o pleito. Só o opositor Edmundo González Urrutia não compareceu.
María Corina chegou a manifestação às 13h após fazer uma carreata esvaziada por Caracas. Em seu discurso, ela voltou a pedir que os manifestantes "não saiam das ruas" e continuem as mobilizações contra o governo. Desde o dia 29, os atos da direita perderam força e cada vez menos pessoas se mobilizaram para os atos.
Edição: Martina Medina