O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da Força Aérea Brasileira (FAB) informou, neste domingo (11), ter obtido as informações de voz e de dados das duas caixas-pretas do avião da Voepass Linhas Aéreas que caiu em Vinhedo, interior de São Paulo, na sexta-feira (9), causando a morte de 62 pessoas.
A informação foi confirmada à imprensa pelo chefe do Cenipa, o brigadeiro do ar Marcelo Moreno. Com base nos dados que correspondem aos momentos que antecederam a queda, Moreno informou, em coletiva de imprensa neste domingo, que não houve declaração de emergência aos órgãos de controle de tráfego aéreo por parte da tripulação da aeronave. A estimativa do Cenipa é de que o relatório preliminar da investigação seja apresentado em 30 dias.
Segundo Moreno, os dois motores da aeronave serão analisados na sede do Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa IV), em São Paulo, localizada no Campo de Marte, na capital paulista, "como uma parte da investigação para se ter certeza se, durante o impacto, os motores estavam ou não desenvolvendo potência".
O Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo (SP) iniciou neste domingo (11) o trabalho de reconhecimento das vítimas fatais do acidente. O Corpo de Bombeiros concluiu no sábado (10) os trabalhos de resgate dos corpos dos 58 passageiros e 4 tripulantes que estavam no voo 2283 operado pela Voepass Linhas Aéreas.
Até agora, apenas dois corpos foram identificado e o IML não informou quando devem ser liberados para as famílias realizarem o funeral. De acordo com a companhia aérea Voepass, todos os ocupantes do avião tinham documentação brasileira, mas também havia uma mulher com dupla nacionalidade portuguesa e três venezuelanos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decretou três dias de luto no país.
Queda vertiginosa
O avião partiu de Cascavel, no Paraná, com destino ao aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo. De acordo com o site de rastreamento de voos Flight Radar 24, a aeronave voou por quase uma hora a 17.000 pés (5.180 metros), até que, às 13h21, começou a perder altitude e em apenas um minuto teve uma queda acentuada para 4.100 pés (1.250 metros).
A Força Aérea Brasileira (FAB) informou que a aeronave perdeu contato com o radar às 13h22, e que a tripulação em nenhum momento "declarou emergência ou reportou estar sob condições meteorológicas adversas". O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) tem previsto divulgar "no prazo estimado de 30 dias o Relatório Preliminar do acidente", segundo a Força Aérea Brasileira (FAB).
Peritos do Cenipa já estão analisando em Brasília as informações das caixas-pretas que contêm gravações da cabine e dados do voo. Estas "importantes informações poderão nos contar o que aconteceu nesse trágico evento", afirmou o brigadeiro Marcelo Moreno.
Formação de gelo pode ter causado acidente
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil, o avião, que voava desde 2010, cumpria com todas as normas vigentes e a tripulação tinha todos os certificados válidos. O diretor de operações da companhia aérea Voepass, Marcel Moura, disse que na noite anterior ao acidente o avião havia passado por "manutenção de rotina" e não apresentava "nenhum tipo de problema técnico".
Especialistas mencionaram a hipótese de que uma formação de gelo nas asas do avião possa ter provocado o acidente. Moura admitiu que este modelo da fabricante ATR "voa numa faixa onde tem uma sensibilidade maior ao gelo" e que as condições meteorológicas de sexta-feira previam a presença desse elemento. Mas "dentro das características aceitáveis para o voo", afirmou.
A VoePass foi fundada em 1995 sob o nome Passaredo. Com uma frota de 15 aviões, atualmente conecta 37 destinos no Brasil e é a quarta companhia aérea do mercado nacional, segundo a empresa. A fabricante ATR disse em comunicado que seus especialistas "estão totalmente empenhados em apoiar a investigação em andamento".
Esta é a primeira grande tragédia aérea no Brasil em 17 anos. Em 2007, um Airbus A320 da companhia aérea brasileira TAM não conseguiu pousar no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e caiu com 187 pessoas a bordo. O acidente deixou 199 mortos, incluindo 12 pessoas que trabalhavam na pista.
Edição: Nicolau Soares